A intervenção do autarca Augusto Neves ontem na sessão da Assembleia Municipal, segundo o qual o quartel dos bombeiros de S. Vicente foi transformado em sede de partidos políticos e dos sindicatos, caiu mal no seio dos profissionais. Um deles desmentiu essa afirmação e fez questão de esclarecer que todos os deputados municipais e nacionais dos partidos da oposição efectuam visitas e constatam os problemas instalados na corporação, o que não acontece com os eleitos do MpD e com o próprio presidente da Câmara de S. Vicente. “Acontece que os deputados do MpD só se preocupam com o partido e não lhes convém encarar a realidade dessa situação que afecta grandemente a ilha de S. Vicente”, afirma, sob anonimato, por receio de represálias.
Segundo esta fonte, os bombeiros poderiam estar realmente a ganhar mais que os vereadores, tal como Neves afirmou, mas diz que isso não acontece pelo simples facto de a Câmara ter negado aplicar o regulamento do Corpo dos Bombeiros Municipais, aprovado pela mesma em 16 de Outubro de 2010, e que iria melhorar a situação salarial dos chamados “soldados da paz”. Este relembra que o regulamento, aprovado pelo próprio Augusto Neves, visou resolver antigas reivindicações sobre a progressão na carreira profissional e reajuste salarial. Para a CMSV, a nova tabela representava um esforço financeiro em torno de 2.600 contos mensais, um aumento que, salienta, o edil Augusto Neves assegurou na altura ser perfeitamente realizável através das receitas municipais.
“Só que o presidente nunca permitiu a aplicação dos salários. A tabela estipulava que um subchefe passasse a auferir 80 contos, em vez de 60, e que os bombeiros mais antigos saltassem de um salário de 53 para 75 contos”, revela essa fonte, acrescentando que o regulamento estruturou ainda a carreira dos bombeiros e estabeleceu as seguintes categorias: Bombeiros Municipais (terceira, segunda e primeira classe), Subchefes (segunda e primeira classe) e Chefes (segunda e primeira classe), sendo que o serviço passaria a ser dirigido por um comandante, sob a tutela do presidente da CMSV.
O problema, diz, é que o assunto não tem sido devidamente tratado com o poder local. Este afirma que os Recursos Humanos da CMSV sabem qual o vencimento a que têm direito há vários anos, mas que não tem sido aplicado. Devido a este impasse, acrescenta, os bombeiros já apresentaram uma queixa no Tribunal de S. Vicente contra a autarquia mindelense. Esse passo, assegura, foi dado antes da declaração de ontem do edil na Assembleia Municipal, sessão que termina hoje.
“A verdade é que o presidente é um homem ausente do quartel dos bombeiros. Há mais de dois anos que não coloca os pés no quartel, mas quer falar com autoridade sobre o que se passa. Só para constar, há turnos com 2-3 bombeiros. Se ocorrer um incêndio e um acidente com várias vítimas não poderemos dar cobertura a ambos de forma eficaz!”, exclama esse bombeiro, que confirma, entretanto, que o serviço dispõe de três viaturas. Só que duas delas, salienta, são de combate a incêndio florestal e não em ambiente urbano. Para ele, o problema maior é a escassez de recursos humanos.
Para piorar as coisas, confirma que cinco dos bombeiros mais experientes estão fora das escalas por razões médicas. São profissionais que, explica, já deram quase tudo de si durante vários anos e que já não estão em condições de fazer determinados esforços.
Quanto à crítica de Augusto Neves de que os bombeiros são também taxistas, condutos de hiaces, empresários e líderes sindicais, o que interfere no cumprimento das suas missões, a nossa fonte esclarece que houve quem tenha adquirido as suas viaturas com esforço próprio, mas que não misturam as águas, isto é o horário de serviço com o de hiacista.