O deputado Orlando Dias defendeu hoje que, perante o desaire político do MpD nas eleições autárquicas, Ulisses Correia e Silva deveria “naturalmente” colocar o cargo à disposição na liderança do partido e que seja agendada desde já uma Convenção Nacional Extraordinária para se debater a crise interna. Paralelamente, acrescenta esse assumido adversário do actual Primeiro-ministro, deveriam ser convocadas eleições internas para que o presidente eleito tivesse tempo e condições políticas para introduzir reformas profundas no partido, apresentar novos compromissos de governação do país e enfrentar com êxito a disputa eleitoral de 2026.
Dias realça que pela primeira vez na história do Poder Local, o MpD perdeu as eleições autárquicas, para mais de uma forma “absolutamente esmagadora”, passando de catorze para sete câmaras municipais. “Por arrasto, perde a presidência da Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos”, salienta. Apesar dessas evidências, a liderança do MpD, disse Dias num post no Facebook, parece desvalorizar os factos, “argumentando que se trata de consequências do jogo democrático”.
“Ao contrário de ter dado a cara logo na noite eleitoral, o presidente do MpD preferiu esconder-se dos jornalistas, empurrando o secretário-geral para tecer considerações vazias, desprovidas de objetividade e parecendo referir-se a uma outra realidade que não aquela que se abateu sobre os militantes: um desaire eleitoral sem precedentes!”, atira o deputado.
Segundo o mesmo, Correia e Silva só viria a tecer os primeiros comentários sobre os resultados do escrutínio no dia 2 de dezembro, após ser pressionado por jornalistas. Porém, na sua visão, em vez de assumir as culpas pela derrota, o presidente do MpD preferiu argumentar que será preciso analisar cada caso e cada município para se saber o que aconteceu. Didas enfatiza que UCS preferiu passar para a opinião pública a ideia de que as responsabilidades devem ser imputadas às candidaturas e aos candidatos, “passando por cima de serem escolhas políticas do presidente do MpD” e “impostas” pelo próprio.
A direção do MpD, na perspectiva de Orlando Dias, tem procurado “mascarar a realidade” e negar evidências do desaire, tentando contrariar o consenso generalizado entre analistas e agentes políticos que consideram as eleições autárquicas um “cartão vermelho” ao Governo, em particular ao Primeiro-ministro. Relembra que nos últimos dois anos, enquanto deputado e no decurso das eleições internas de abril de 2023, vem alertando a liderança do MpD para a necessidade de se fazer uma remodelação governamental, reduindo o “número absurdo” de membros do Executivo e a pesada máquina do Estado. Porém, diz, o líder do partido e Primeiro-ministro nunca ligou a tais preocupações e, mais grave que isso, nunca entendeu os evidentes sinais que vinham da sociedade.
Para Dias, se tivesse sido escutado e o presidente do MpD tivesse dado crédito à própria sociedade cabo-verdiana, seguramente não estaria hoje a ser confrontado com tamanha derrota nas eleições autárquicas. A seu ver, o problema é que Ulisses C. e Silva e o seu círculo mais íntimo não escutam as pessoas, adotam atitudes de arrogância e não têm a humildade e a coragem política de assumirem os seus erros.