O Bispo da Diocese do Mindelo considerou hoje que as três semanas de visita pastoral para conhecer a realidade, se inteirar das dificuldades e desafios de São Vicente foram um “abrir de portas” junto das instituições e serviços sediadas na ilha e uma oportunidade para levar esperança e conforto aos mais vulneráveis. Dom Ildo Fortes afirma que constatou no terreno uma má distribuição da riqueza e dinheiro mal gasto, o que o levou a questionar sobre a possibilidade de se “emagrecer” a máquina do Estado”. “Há tanta despesa gasta em representação que podia ser canalizada para quem mais precisa.”
Esta visita pastoral, que deve acontecer de 5 em 5 anos, ocorre no quadro das celebrações das “Bodas de Prata” da Diocese do Mindelo, no ano do Jubileu da Igreja, também chamado de Ano Santo, e vai se estender pelas 17 paróquias sobre a jurisdição de Dom Ildo. Em S. Vicente, abarcou as três paróquias: Nossa Senhora da Luz, São Vicente e Santo António e teve por objectivo fortalecer os laços entre a Igreja e as instituições da ilha. “A visita faz parte deste cuidado pastoral e insere-se num programa mais alto que queremos também de renovação da diocese”, explicou, destacando, neste sentido, as deslocações ao Ministério do Mar, Câmara e Assembleia, Polícias, Comando Militar, Bombeiros, cadeia, universidades, escolas, lares de idoso, de deficientes e doentes mentais, ICCA, de entre outros.
A estes juntam-se ainda os doentes, jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo os jovens em situação de rua e os idosos que se encontram em casa sem condições de se movimentarem. “A principal mensagem que levamos às pessoas nesta visita foi de esperança que, para nós cristãos, fundamenta-se em Deus. Esperança, conforto e consolo aos que estão em situações difíceis. O pão nosso de cada dia encontrado nos bairros foi a pobreza. Uma pobreza que nos envergonha. Em algumas casas e a situação é gritante. No século XXI, nestes 50 anos de nossa independência, muita gente não tem luz, não tem água e nem casa de banho”, reforçou o Bispo, por isso, a necessidade de instituir na comunhão e na unidade. “Precisamos sentir que somos uma família, uma comunidade, por isso a tónica foi na comunhão, na comunidade e no compromisso dentro dela.”
Má distribuição de riqueza
Perante esta realidade, este líder espiritual chama a atenção para a má distribuição da riqueza em Cabo Verde, um país pobre, mas que recebe muitas ajudas. “Precisamos ter uma política séria de pensar quais são as prioridades da nossa população. E quando, nas visitas que faço, nos damos conta que há pessoas que não têm assistência a nível da saúde, há escolas que não têm coisas básicas para os meninos aprenderem com condições, pergunto o que é que estamos a fazer. Vemos dinheiro gasto em muitas coisas”, desabafa, apesar de reconhecer a importância de se investir na cultura, por exemplo.
“Mas a pergunta é se nós não poderíamos emagrecer um bocadinho a máquina do Estado. Há tanta despesa gasta em representações, em coisas do género, que poderiam ser canalizadas para quem mais precisa. Somos um país pobre, mas somos um país de ricos. Somos um país que lutou pela sua independência porque sentia que era explorada pelos de fora. Não se pode admitir que neste mesmo país haja gente a viver bem, muito bem, com salários chorudos. E há outros cujos salário mínimo que, como nós sabemos, é um salário de miséria”, denuncia.
Tudo isto leva o Bispo a concluir que Cabo Verde vive um desequilíbrio a nível da justiça social e precisa redefinir as prioridades, ou seja, repartir e levar mais investimentos lá onde é realmente preciso. E, para já, a Igreja se disponibiliza para fazer sua parte, ou seja, trabalhar com as instituições, designadamente com as polícias, Forças Armadas, bombeiros, às escolas, à cadeia, reforçar os projectos a nível da Cáritas, e elaborar projetos direcionados às pessoas carenciadas, sobretudo jovens, idosos.