Após 50 anos de soberania, C. Verde precisa acabar, em 2026, com a gestão centralizada, defende a UCID

Cinco décadas após libertar-se do poder colonial, Cabo Verde, na visão da UCID, precisa alcançar uma nova conquista em 2026: acabar com a centralização. Nos 50 anos de soberania, recorda o líder do partido, o país alcançou conquistas, mas que, enfatiza, não impediram que ficasse saturado de um modelo de gestão centralizado, concentrado e profundamente desigual para as restantes ilhas.

Desde 1975, sublinhou ontem João Santos Luís em conferência de imprensa, o poder político, económico, administrativo ficou confinado à cidade da Praia, onde todas as decisões são tomadas, desenhadas as políticas e onde quase todos os recursos chegam em primeiro lugar. Um modelo que, acrescenta o dirigente político, se revelou nefasto para o resto do país por tratar as restantes ilhas como se fossem “filiais de um país que só funciona a partir do centro”.

“A verdade é que nenhum país pode progredir se parte do seu território é sistematicamente esquecido ou subvalorizado. O modelo de desenvolvimento do país vem sistematicamente falhando. E falha porque não respeita a diversidade do nosso arquipélago”, considera Santos Luís, lembrando que Cabo Verde não é só uma ilha, tão pouco apenas uma cidade. “São 9 ilhas habitadas, cada uma com potencial, cultura, talento e projecto de vida próprios.”

A manutenção do sistema centralizado, para a UCID, tem tido vários impactos no desenvolvimento dos outros concelhos, um deles a saída sistemática dos jovens. Salienta, no entanto, que os cidadãos da Brava, Maio, S. Nicolau, S. Vicente ou de Santo Antão não estão a pedir favores, apenas a exigir igualdade de oportunidades, mais autonomia e atribuição de mais recursos directos. “Estão a exigir mais instituições públicas descentralizadas e um Orçamento participativo onde o povo tome parte na decisão do que é prioridade”, frisa o porta-voz da UCID, para quem é chegado o momento de se dar um “basta”, romper de vez com o centralismo, pela sua ineficácia.

Em contrapartida, a UCID considera que C. Verde precisa de um novo modelo de governação, apoiado na descentralização real e funcional, que possa devolver poder às ilhas e às comunidades.Neste sentido, o partido diz defender um sistema com múltiplos centros de decisão, um país onde cada ilha seja tratada como motor de desenvolvimento e não como simples satélite da Capital.

Mais precisamente, os democratas-cristãos querem uma transferencia efectiva de competencias e recursos para os municípios e estruturas regionais, planos de desenvolvimento insular – feitos localmente, com metas claras e financiamento próprio -, a criação de um Fundo de Coesão Insular – para redistribuir investimento público com base nas necessidades reais das ilhas -, a instalação de instituições autónomas fora da Praia e acima de tudo um sistema de transportes inter-ilhas digno e funcional para servir a população e não uns poucos.

A UCID faz questão de frisar que não está e nem poderia estar contra a Capital. Salienta que Praia é importante e que continuará a sê-lo no contexto nacional. Só que, salienta, as outras ilhas são também parte de Cabo Verde e não podem continuar a viver com “migalhas”.

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