Aos oito anos de idade viu elementos da PIDE amarrarem o seu pai dentro da sua casa na Guiné-Bissau e levá-lo preso. Aos 27 anos, militares das FARP, alegadamente enviados por Nino Vieira, assassinaram o seu marido dentro da sua casa com bala incendiária. Mais tarde integrou os Capacetes Azuis em missões na África Austral, Central, Ocidental e no Haiti. Durante essa trajectória, viu rebeldes cometerem atrocidades indescritíveis. No Haiti, um terremoto matou mais de uma centena de colegas em segundos. Escapou graças a um cigarro. Isto sem contar com o facto de passar a vida ouvindo explosões e o silvar das balas. Esta é, em resumo, a história de Alice Schacht, filha do malogrado futebolista Armando Duarte Lopes, ex-internacional pela seleção de Cabo Verde e elemento do plantel do Amarante. Venha conhecer parte da história desta extraordinária mulher, talvez a primeira cabo-verdiana a incorporar missões dos Capacetes Azuis da ONU, contada na primeira pessoa.
Sou Maria Alice Herbert Duarte Lopes, mais conhecida por Alice Schacht, apelido herdado do meu marido Otto Schacht, combatente da liberdade assassinado na sequência do Golpe de Estado na Guiné-Bissau na década de 80. Nasci na Guiné e a minha vida foi um turbilhão de acontecimentos, muitos deles dramáticos, mas que moldaram a minha personalidade.
Antes, queria frisar quem foi meu pai. Chamava-se Armando Duarte Lopes, antigo jogador do Amarante e da seleção de Cabo Verde. Ele integrou uma equipa nacional que foi disputar a Coupe de Paque na Guiné-Bissau, que era uma prova muito parecida com a actual CAN. Chegando lá, conheceu uma crioula, filha de mãe cabo-verdiana e de pai francês e ficou apaixonado. O meu pai, frisa-se, nunca mais voltou a Cabo Verde. Casou-se na Guiné, trabalhou na Junta Autónoma dos Portos e todos os filhos nasceram nesse país.
Fiz o ensino liceal na Guiné e depois fui enviada para continuar os estudos em Portugal. Nessa época colonial todos os estudantes eram bolseiros, exceptos nós porque o meu pai era considerado um “terrorista” por Portugal. Ele que era um homem que sequer ligava para a política. Era, sim, um individuo frontal e que não tolerava a injustiça. E pagou caro por causa disso.
Na década de ’60, quando a guerra colonial estava em ponto de ebulição, no tempo do Governador Arnaldo Schultz, a repressão da PIDE era terrível na Guiné. Acontece que barcos faziam filas para a descarga e todo o trabalho no porto era braçal, pelo que os estivadores levavam uma vida cansativa. Acontece que o meu pai era responsável pelo trafego marítimo e um dia o Tenente Castro, Director da PIDE, entra no porto à noite e vê um estivador a descansar sentado em cima de um saco. O Tenente Castro chega e da-lhe uma bofetada. O meu pai viu essa cena e não pensou duas vezes. Correu em direção ao Tenente Castro e desferiu-lhe um soco na cara. Foi com tanta força que o cachimbo do Tenente saltou-lhe da boca e caiu ao mar.
Lembro-me de ver o meu pai chegar em casa e dizer para a minha mãe se preparar que ele seria preso nesse dia. Não passou nem meia hora e chegaram elementos da PIDE. Invadiram a nossa casa, revolveram tudo o que havia lá dentro provavelmente à procura de informação que pudesse comprometer o meu pai, mas não encontraram nada. O meu pai foi brutalmente amarrado e levado para a cadeia. Ele seria libertado meses depois, no dia do nascimento do meu irmão Nelson Herbert. Eu tinha oito anos e esta cena marcou-me profundamente.
Fiz o liceu e fui para Portugal, o país que representava tudo aquilo que detestava. Tínhamos raiva dos “mondrongs”; eu era proibida de falar com eles na Guiné e de repente estou dentro de Portugal. Mas essa etapa foi muito importante para o meu despertar.
Tinha 17 anos e chegar a Portugal foi um espanto, fiquei perplexa. Imaginava Portugal como uma potência, mas encontrei um país na década de 60/70 sem grandes infraestruturas e com um povo literalmente analfabeto e desinformado. E dei-me a perguntar-me: “mas, como é possível este país estar a dominar-nos, a infernizar a nossa vida?!”
Em Portugal pude conviver com a malta de esquerda e integrar movimentos a favor da descolonização, integrados por estudantes de Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé, Angola e Timor. Este era o aspecto positivo. Ali podia manifestar a minha indignação e dizer claramente que desejava a independência das colónias. Na Guiné nao podia fazer isso porque a repressão era brutal.
No entanto, na cabecinha dos portugueses Portugal era nossa “luz e guia” e devíamos dar graças por estar a “civilizar-nos”, a mostrar-nos o caminho do cristianismo. Até hoje muitos portugueses não deixaram a ficha cair. Impressionante! Estudei durante quatro anos e regressei para a Guiné no dia em que terminei o curso de Línguas. Queria sair daquele país o quanto antes.
Devido a tez da minha pele os portugueses perguntavam-me se era africana. “É que tens uma pele, sabes, mais branquinha!” Respondia com todas as letras: “Sim, mas sou africana!” Sinceramente, na minha juventude não pensava no que a cor da minha pele poderia simbolizar. Vivia misturada com os meus amigos das colónias e lutávamos pela independência dos nossos países. E havia zaragatas das pesadas com grupos portugueses.
Vim a tomar consciência do “peso” da minha cor quando regressei à Guiné. De tudo aquilo que aconteceu no Golpe de Estado, o que mais marcou-me foi descobrir que afinal eu tinha uma pele clara. Até esse instante não sabia o que a minha pele simbolizava socialmente. Quando se deu o golpe foi como receber uma paulada na cabeça. Cheguei à triste conclusão de que, afinal, apesar da luta de libertacao, na cabeca de alguns, não éramos iguais. Eu considerava-me igual a todos, mas viam-me de forma diferente, como uma burguesinha/vermelha protegida do sistema colonial. Não era vista como africana.
Morte de Cabral e manifestações contra cabo-verdianos e mestiços
De regresso a Guiné fui para Madina do Boé. Fiquei por lá uns tempos e depois voltei para Bissau em Outubro 1974 onde, com mais alguns colegas militantes do PAIGC, criamos o Primeiro Comité do Partido no Bairro de Chao de Pepel em Bissau, onde eu residia. Infelizmente, não tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Amílcar Cabral. Eu era uma simples militante que acreditava francamente na necessidade da independência porque vivemos 500 anos de repressão colonial. Tínhamos de ter a chance de governar o nosso país. Porém, ainda em Madina do Boé comecei a ver alguns comportamentos de camaradas do partido que me chamaram atenção.
A teoria de que o assassinato de Cabral teria sido orquestrada só e unicamente pelos portugueses para anular as tentativas de independência nunca me convenceu. Após analisar a situação, cheguei à conclusão que o diabo não era assim tão feio como o pintavam. Havia problemas internos no partido que levaram à sua morte. Mas não quero com isso ilibar Portugal da sua responsabilidade e que não tenha tido o seu dedo nesse crime. Porém, se Portugal consegui mobilizar alguém para matar Cabral é porque encontrou terreno fértil para isso.
O ambiente na Guiné-Bissau estava muito pesado no inicio do ano 80. Aconteciam manifestações contra cabo-verdianos e mestiços. Podiam ser esporádicas, mas eram um facto. Durante o domínio colonial, alguns cabo-verdianos desempenharam cargos importantes, por isso eram vistos como protegidos do sistema colonial. Como tinham um grau de instrução superior eram recrutados em Cabo Verde para certas funções e muitas vezes alguns faziam-se mais papistas do que o Papa. Infelizmente transmitiram uma imagem negativa dos cabo-verdianos que não tinha nada a ver com a realidade do Povo de Cabo Verde, que também sofia as agruras e atrocidades do sistema colonial.
Eu vivia um dilema porque sentia uma certa dificuldade em saber se me posicionava mais como cabo-verdiana ou guineense. Nasci na Guiné e vinha de férias todos os anos a Cabo Verde. Mas sabia que pertencia aos dois países, a herança que Cabral nos deixou.
Assassinato do marido a mando de Nino Vieira
Após a independência senti pela primeira vez a minha vida em risco. Isto aconteceu no dia em que mataram o meu marido dentro da nossa casa, a mando de Nino Vieira. Estávamos deitados e ouvimos alguém bater à porta. Levantei-me para ir abrir, mas o meu marido passou-me à frente. Era uma noite muito quente, lembro-me muito bem. Ele estava vestido só um calção e foi abrir a porta. Mas tive um mau pressentimento, algo disse-me para ele não fazer isso. Bateram de novo de forma normal e ele perguntou quem era. Responderam: “somos nós, camarada!”. Ele disse: “vês?, são os camaradas!”.
Assim que abriu a porta recebeu uma rajada no abdomen. Eram elementos das FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) e usaram bala incendiária. O meu marido caiu para trás, tentei amparar-lhe o corpo e caímos juntos. Ele ficou duas horas a esvair-se de sangue nos meus braços. Os cobardes ficaram a rir, dizendo que estavam a acabar com os “burmedjus/mesticos” e partiram.
Momentos depois lembraram-se de mim. Felizmente que os meus empregados eram bem tratados e um jardineiro escondeu-me na dispensa. Eles procuraram por mim das nove da noite às 4 da madrugada. Ouvia o barulho das pessoas à minha procura, mas não estava em pânico. Entrei numa espécie de transe.
“Peguei o Nino pelo peito da camisa”
Tinha 27 anos na altura e até hoje não consigo lidar com a morte do meu marido porque não tive a oportunidade de dar-lhe um funeral e fazer o luto. Logo de seguida veio um outro grupo que me tirou os documentos e despejou-me da casa juntamente com os empregados. Fui para a casa dos meus pais.
A partir daquele momento deixei de ter medo de nada. Era tipo “perdida por 1, perdida por mil”. Tanto assim que Nino Vieira teve o desplante de tocar no nome do meu marido e dizer num comício que a sua morte foi um erro. Ele disse isso porque houve reação internacional a esse atentado. Perdi a cabeça, peguei o Nino pelos colarinhos e disse-lhe na cara: “Foste tu o mandante do assassinato do meu marido e sabes que sei do que estou a dizer. Para calar a minha boca tens de mandar matar-me também. Porque enquanto estiver viva não vou permitir que faltes respeito à sua memória!”
A verdade é que Nino mandou calar a boca do meu marido porque ele presidiu uma das comissões encarregues de investigar a morte de Amílcar Cabral e no seu relatório ele dizia claramente que um primo/irmão de Nino era um dos mandantes. O relatório nunca foi publicado.
A partir desse momento começou a correr boatos que eu estava louca. Assim sendo aproveitei a minha condição de doida e passei a dizer tudo aquilo que me vinha à alma. Sim, porque doida não sabe o que diz. Decidiram que tinham de evacuar-me para um centro de psiquiatria.
Tinha de sair da Guiné e por sorte consegui um salvo conduto. Preparei tudo para poder fugir. Nesse tempo a TAP fazia escala na ilha do Sal e tomei um voo, ajudado pelo meu irmão Júlio Herbert, que trabalhava nos Negócios Estrangeiros. Quando cheguei ao Sal fui para a sala de trânsito onde estava o falecido piloto Honório e o meu irmão Júlio. Estava um Twin Otter à minha espera, entrei e fugi para a cidade da Praia.
Guiné retrocedeu, Cabo Verde evoluiu
Fiquei decepcionada com os acontecimentos na Guiné logo após a Independência. Tenho a certeza que nem Cabral iria gostar. Aliás, pior ele. Mas dou um desconto porque as pessoas vão aprendendo, fazendo.
Quando vejo a diferença entre a Guiné de ontem e a de hoje fico com vontade de chorar. Quem me dera se o país estivesse agora como foi deixado em 1974. Guiné era um país mais desenvolvido que Cabo Verde, retrocedeu enquanto Cabo Verde evoluiu.
Quando vínhamos de férias a Cabo Verde as casas não tinham condições de salubridade. Na Guiné, as casas tinham conforto, esgoto e amplas janelas; as avenidas e alamedas eram calcetadas e ornamentadas com montras comerciais. Lamento dizer isso, mas a verdade é que Guiné regrediu no seu processo de desenvolvimento e foi ultrapassado por Cabo Verde.
Entrar para os Capacetes Azuis
Em Cabo Verde trabalhava na Interbase, mas nos anos ’80 a situação era difícil. Falta de emprego num país recém-independente. E nunca fui de aceitar as situações e ficar a perguntar “como vou fazer”? Resolvi sair, assim de repente. Deixei os meus filhos com meus pais em S. Vicente e fui para Angola.
Nunca tinha estado em Angola e até hoje pergunto-me porquê Angola. Talvez porque era-me mais acessível. Era o único lugar onde podia ir sem comprar um bilhete de passagem porque nessa altura, em plena guerra civil, havia o voo da Cubana de Aviacion – que vinha para a ilha do Sal – e o voo da TAAG, que passava para ir para Havana. Podia aproveitar um voo da companhia cubana sem comprar bilhete, porque não tinha um tostão. A minha única certeza era ter que sair de Cabo Verde.
Assim, em ’84 partia para Angola, país onde encontrei uma morabeza que nunca tinha experienciado na Guiné. Se um dia falar mal de Angola estarei a ser muito ingrata. Fui para Luanda e nessa altura estava lá o Cônsul Isildo, que foi buscar-me e levou-me para sua casa. Tive muita sorte, em parte devido a minha profissão porque era intérprete de conferências e logo nessa semana começava um encontro dos não-alinhados em Luanda. Isildo falou com um angolano que estava na sua casa e ele contratou-me de imediato.
Depois dessa conferência trabalhei com a SADCC, organização dos países da linha da frente, sempre à procura de dar combate ao Apartheid e alcançar a independência económica dos países da África Austral.
Estando na SADCC entreguei os meus documentos na ONU. Um dia, estando de férias em Cabo Verde, recebi uma chamada a dizer que ia receber um telex. Fui para os Correios e era de Nova Iorque a dizer que iam mandar-me para Angola em missão. Fiquei logo satisfeita pois era a minha primeira missão como Capacete Azul.
Fiz a UNAVEM 1 (retirada das tropas cubanas de Angola), UNAVEM 2 (depois do acordo de Bicesse) e depois fui para Moçambique integrada na ONUMOZ, quando houve o acordo de paz entre a Frelimo e a Renamo. Daqui enviaram-me para a África do Sul – quando Nelson Mandela saiu da prisão – para fazer os preparativos para as eleições. Estando lá fui chamada de volta para Moçambique e dali segui para Ruanda, dois anos depois para Burundi e mais tarde para a República Centro-Africana, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Haiti e dez anos depois, de novo para a República Centro-Africana.
Foi o meu grande arranque enquanto capacete azul, sempre a circular pela zona austral, Grandes Lagos, África Ocidental e Caraibas. Fazia o controle das propriedades da ONU, equipamentos, viaturas, pontes, estradas, computadores, alimentos, ração de combate, enfim, a parte logística.
Ver um genocídio e não poder agir
A nossa missão em Ruanda foi particularmente difícil. Chegamos em março e logo em abril começou o genocídio. Éramos mal vistos. Passamos maus bocados sobretudo quando Paul Kagame era ministro da defesa, pois ele é que tinha o poder de facto. Mas entendia o seu lado porque estava a acontecer o genocídio da população, a ONU tem tropas presentes mas estes não podem actuar porque éramos impedidos pelo nosso mandato decidido pelo Conselho de Segurança. Se interviéssemos mesmo em defesa do povo podia haver graves consequências internacionais contra os Capacetes Azuis. E Kagame contestava, dizia que estávamos lá para defender o povo e que nada disso acontecia.
Podíamos ter feito algo para impedir o genocídio ou mesmo evitar casos pontuais de assassinatos, mas não estávamos autorizados. A nossa força militar servia apenas para defender os elementos da ONU. Só podíamos intervir mediante uma ordem do Conselho de Segurança. Aliás, quando o General Dallair, Chefe dos Capacetes Azuis em Ruanda, pediu reforços, o Conselho de Segurança mandou retirar as forças belgas e ficaram só as do Senegal, Burkina e Níger, que estavam mal equipados.
Já na Serra Leoa foi diferente. Se não houvesse a presenca dos Capacetes Azuis os rebeldes iam acabar com a população. Nesse caso houve grandes combates porque lá o Conselho de Segurança deu outro mandato. Havia combates diários. As forças do Gana e da Nigéria foram cruciais na Serra Leoa. Se os rebeldes não conseguiram muita coisa foi graças à Nigéria. As suas tropas deram luta terrível aos rebeldes.
Salva por um cigarro
Nas missões como capacete azul presenciei cenas aterrorizantes e ouvi balas silvando sobre a minha cabeça. Vi inocentes torturados e com as mãos e os braços decepados a golpes de faca para não poderem votar. A barbárie era tanta que nem pouparam crianças. Isso deixava-me revoltada.
Porém, houve um momento que me marcou também de forma profunda. Foi durante o terramoto em Haiti a 12 de janeiro de 2010. Nesse dia a natureza mostrou-me que não somos nada diante da sua fúria.
Estava na sede da ONU a trabalhar – porque nesse tempo havia muita instabilidade sócio-política provocada por guerras de gangues nas ruas – e resolvi sair para fumar um cigarro. Encostei-me no meu carro e de repente senti um solavanco. A primeira coisa que pensei foi que algum condutor de Bangladesh havia batido na minha viatura porque tinham fama de serem maus automobilistas. Eu estava de costas para a nossa sede e entretanto vi o terror e espanto estampados no rosto de um chofer que estava à minha frente. Segui o seu olhar, virei-me e vi a sede da ONU desabar. Em segundos perdi mais de cem colegas, soterrados pelos escombros. Fiquei perplexa. Fui salva por um cigarro, que nem cheguei a acender. Depois dizem que cigarro mata (risos).
Servi o Sistema das Nações Unidas como capacete azul de 1986 a 2016 e reformei-me como funcionária da ONU. Sou uma mulher orgulhosa do meu percurso porque nunca fui de aceitar a injustiça e o status quo. Passei por muitas provas e hoje posso dizer que não tenho receio de nada na vida. Acredito que toda a pessoa vem ao mundo com uma missão e a minha foi lutar contra a injustiça, pela dignidade das pessoas e dos povos.
Único cabo-verdiano capacete azul
Durante muitos anos tive o previlégio de ser a única cidadã cabo-verdiana nas missões de paz da ONU. Os meus colegas estavam sempre a perguntar-me onde ficava Cabo Verde e tinha que procurar um mapa e mostrar-lhes os pingos no meio do Atlântico. Ficavam estupefactos porque não sabiam nada sobre o arquipélago.
Cabo Verde não tem integrado as missões da ONU, o que para mim é um erro talvez por falta de informações. Temos pessoal capacitado nas nossas Forças Armadas e policiais. Já o Senegal tem grandes quadros na ONU. Bangladesh também envia sempre pessoal para as missões e recebe grandes contrapartidas.
Só para constar, a ONU paga por cada bala, farda, arma e homem usado pelos países nas missões. A todo o pessoal civil recrutado para trabalhar no sistema é deduzido automaticamente do seu salário mensal um montante bastante substancial, que o sistema denomina de “Staff Assessment”. Esse montante vai reverter-se directamente na cota que um determinado Pais deve pagar à ONU, reduzindo assim o valor da contribuição anual do Pais para se manter como membro da Organização.
Aparentemente, o Estado de Cabo Verde desconhece essa modalidade de participação de todo o cidadão civil servindo na ONU. Por isso seria do interesse de Cabo Verde de envidar esforços no sentido de aumentar o número de cidadãos cabo-verdianos ao serviço da ONU.
Por todas as razões acima expostas, a questão que não quer calar : Porquê a presença de Cabo Verde nessas missões é minima?