O presidente da Comissão Política do PAICV considerou que São Vicente está em estado de ebulição e responsabilizou o MpD que, durante a campanha eleitoral de 2016, seduziu os mindelense com promessas que sabia que não conseguiria cumprir. Alcides Graça fazia à imprensa o balanço do estado da ilha, antecipando o Estado da Nação que vai ser feita pelo Governo no Parlamento, mas também no rescaldo da manifestação de 05 de Julho.
“São Vicente é uma panela de pressão que pode arrebentar a qualquer momento. E tudo isso porque o MpD fez um conjunto de promessas que não está a cumprir, como por exemplo 45 mil postos de trabalho, crescimento da economia a 7% ao ano e regionalização. O povo acreditou e votou massivamente neste partido político”, refere Alcides Graça, para quem, ao contrário das promessas, o que se tem hoje é uma elevada taxa de desemprego e de inactividade, sobretudo entre os jovens que perderam a esperança e deixaram de procurar emprego, uma economia estagnada e sem perspectiva de crescimento e o chumbo da regionalização por inabilidade política do MpD que nunca quis e nem quer partilhar o poder.
Para este político, os investimentos públicos prometidos não passam de promessas. Cita, por exemplo, a expansão do Hospital Baptista de Sousa, a construção do Centro de Diálise e do Data Center, a requalificação da Baía das Gatas e do estádio Adérito Sena, a construção de habitações sociais em Portelinha, o Terminal de Cruzeiros, Zona Económica Marítima Especial e Escola Superior do Mar. São projectos que, diz, nunca saíram do papel, pelo que aconselha o Primeiro-ministro a não fazer mais promessas para a ilha. “Continuar a prometer obras, sabendo que não vai cumprir, o Sr PM estará a contribuir para alimentar esta panela de pressão, que poderá explodir a qualquer momento. E as responsabilidades terão de ser assumidas”, adverte.
Instado se este pronunciamento tem a ver com as repercussões da manifestação do dia 05 de Julho, Graça admitiu que é um indício que deve ser levado a sério. Neste sentido, disse estranhar o silêncio do Governo, que considera de mau para a democracia e que pode ser interpretado de várias formas. Mas mostra-se sobretudo preocupado com o silêncio da Câmara Municipal que, afirma, devia estar ao lado do povo. “A CMSV não aparece e não diz nada. Mas lembro que na legislatura de 2011/2016 tínhamos um ´leão` semanalmente na imprensa em tons agressivos e ameaçadores contra o Governo Central. Agora temos um ´gatinho de estimação`, que não reage, o que tem prejudicado S. Vicente.”
Apesar das críticas contra, Graça diz acreditar que o Governo não está contra São Vicente, apenas tem adoptado um conjunto de medidas que não favorecem esta ilha, entre os quais a privatização da Cabo Verde Airlines, sem que resolva o problema. Sobre esta questão, apesar de reconhecer que o edil mindelense já se pronunciou por duas vezes contra a retirada da companhia aérea da ilha, este diz que não basta pedir ao Governo. “Augusto Neves é o rosto do poder em São Vicente. Pode e deve fazer mais. Uma coisa é dizer na imprensa que exige mais voos para S. Vicente, outra é colocar esta questão na agenda política da ilha.”
Alcides Graça também responsabiliza os deputados eleitos por São Vicente, inclusive os do seu partido, também eles alvos da manifestação de 05 de Julho. Defende que estes devem estar, sempre, ao lado do povo e que algumas questões merecem um pacto de entendimento entre eles e devem ser priorizadas, apontando como exemplo a regionalização e as ligações aéreas internacionais e domésticas. Segundo o presidente do CPR, foram eleitos por São Vicente e têm de assumir as suas responsabilidades. “Percebo a disciplina partidária e do Grupo Parlamentar. Mas há determinadas questões que são do interesse da ilha e devem poder articular esta disciplina com o interesse da ilha.”
Constânça de Pina