O PAICV manifestou esta manhã em S. Vicente a sua indignação com a forma como doentes com insuficiência renal crónica falecidos durante o tratamento no hospital Agostinho Neto, e cujos familiares residem na região Norte do país, andam a ser enterrados na cidade da Praia. Segundo Alcides Graça, nalguns casos os funerais são realizados em condições indignas, situação que ele e o seu partido consideram inaceitável.
Como explica esse responsável pelo PAICV na cidade do Mindelo, estas ocorrências envolvem principalmente famílias sem condições financeiras para custear o transporte do corpo da cidade da Praia, cujos entes são desse modo sepultados no cemitério da Capital. “É que o INPS garante apenas a viagem para Praia, subsídio de estadia e comparticipação no funeral. A transladação do corpo é da responsabilidade da família do doente. E quem não tiver condições para fazer a transladação, o funeral do ente querido vai ocorrer longe da família e em condições indignas”, explica Graça, acrescentando que há vítimas dessa doença que são enterradas como se fossem indigentes, sem o acompanhamento de parentes e amigos à sua última morada.
Perante este quadro, o PAICV entende que o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Previdência Social devem procurar uma solução que garanta o funeral dessas pessoas na sua ilha de origem. “É o mínimo que se pode exigir. É uma questão de dignidade humana”, considera Alcides Graça.
Segundo esta fonte, o PAICV ficou a saber dessa situação por um doente que contactou o partido na cidade da Praia. O caso foi, entretanto, comunicado à estrutura do partido na cidade do Mindelo, que entrou em contacto com o INPS e ficou a saber que o Instituto só assume as despesas com a estadia e comparticipação no funeral. Para essa força política, a responsabilidade do Estado deveria ser maior, quando se deve levar em conta o facto de o doente passar por um internamento penoso longe da família. Além disso, acrescenta, a taxa de mortalidade provocada por essa doença é acentuada, pelo que os falecimentos são naturais.
Conforme dados apurados pelo PAICV-SV, desde 2018 já faleceram seis pessoas da zona Norte no HAN e que foram supostamente enterradas em condições indignas. Nalguns casos, os colegas ficaram a saber dos óbitos quando foram fazer tratamento.
Neste momento, avança Graça, há 63 doentes da região Norte com insuficiência renal crónica em tratamento no hospital central Agostinho Neto, na sua maioria das ilhas de S. Vicente e Santo Antão, representando 70 por cento dos internados nesse estabelecimento público de saúde com essa patologia. Estes dados não foram, no entanto, confirmados por este jornal.
Esse quadro relatado por Alcides Graça acontece, como ele mesmo frisa, numa altura em que o hospital de S. Vicente aguarda pela construção do seu centro de hemodiálise. Como relembra, foi prometido que esse serviço estaria pronto em 2018, entretanto o ano de 2019 já está a findar e não há qualquer hipótese de a estrutura ficar concluída. No ritmo que as obras decorrem, diz, tem a certeza que o centro não ficará pronto este ano.
Apesar desta denúncia, o PAICV não entrou ainda em contacto directo com as famílias cujos parentes foram enterrados alegadamente de forma indigna na cidade da Praia. O partido abordou essa questão, segundo Graça, apenas com o INPS.