Afrobarometer: “Acesso aos cuidados médicos já era difícil antes da Covid-19”

Mais de metade dos cabo-verdianos que já tiveram contacto com instalações médicas públicas, mais precisamente 52%, enfrentaram dificuldades em obter os cuidados que precisavam. Esta informação consta de uma pesquisa realizada pela Afrobarometer, uma rede de pesquisa pan-africana e apartidária que fornece dados confiáveis sobre experiências africanas e avaliações de democracia, governança e qualidade de vida.

A pesquisa revela que os cidadãos pobres e urbanos foram  os que mais relataram dificuldades no acesso aos serviços de saúde. Além disso, um em cada três entrevistados assegura ter ficado sem assistência médica, pelo menos por uma vez durante o ano anterior. “Os entrevistado, em dezembro, classificaram o sector da saúde como o terceiro problema mais importante que o Governo deveria resolver, atrás apenas do desemprego e da criminalidade/segurança”, lê-se no documento, que diz ainda que poucos achavam que o Governo estava a fazer um bom trabalho na melhoria dos serviços básicos de saúde. 

Isto, não obstante Cabo Verde ter recebido elogios internacionais pela boa governança e desenvolvimento de infra-estruturas para melhorar as condições de vida dos cidadãos. Mas este inquérito expõe lacunas importantes ao constatar que mais de metade dos cabo-verdianos que tiveram contacto com um centro de saúde ou um hospital, considera difícil ou muito difícil obter os cuidados médicos necessários.

Representa um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2014. “As dificuldades em termos de assistência médica são maiores junto aos mais pobres, quase que duplicando comparativamente aos mais favorecidos (66% vs 38%). As dificuldades também eram mais comuns nas áreas urbanas (56%) do que nas zonas (41%) e entre os cidadãos mais jovens (55% entre os que tinham entre 18 e 35 anos de idade) do que os mais velhos (43%)’, detalha. 

Segundo a Afrobarometer, um  terço (34%) dos cabo-verdianos afirma que ficou sem atendimento médico pelo menos uma vez em 2019.  A falta de assistência médica era quase quatro vezes mais comum entre os cidadãos sem educação formal do que entre aqueles com qualificações pós-segundaria (56% vs 15%) e era consideravelmente mais comum entre os residentes rurais que os urbanos (43% vs 31%).  

“A falta de acesso aos cuidados de saúde é um indicador-chave da pobreza e está fortemente correlacionada com as outras formas de privação, incluindo ficar sem comida, água potável, combustível para cozinhar e uma renda em dinheiro que compõem o Índice de Pobreza Vivida”, analisa, realçando que a saúde é o terceiro problema mais importante que os cabo-verdianos querem que o Governo resolva (44%), atrás do desemprego (69%) e do crime/segurança (58%).

Este informa que, apenas um terço (32%) dos cabo-verdianos disse que o governo está a trabalhar ‘bem’ ou ‘muito bem’ na melhoria dos serviços básicos de saúde, contra dois terços (65%) que afirmam que o desempenho é ‘bastante ruim’ ou ‘muito mal”.

Esta pesquisa baseou-se em entrevistas realizadas a 1.200 pessoas, entre os dias 8 e 22 de dezembro de 2019. A margem de erro é de +/- 3 pontos percentuais, com 95% de intervalo de confiança. 

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