O trabalho de 51 jornalistas e profissionais da comunicação social de órgãos públicos e privados com mais de 30 anos de carreira foi ontem reconhecido e distinguido pela AJOC, numa gala beneficente realizada na Assembleia Nacional, que também prestou homenagem póstuma ao jornalista António Pedro Rocha. Para o presidente da associação sindical dos jornalistas, Geremias Furtado, foi um momento de convívio e união da classe, infelizmente ensombrado pela queda de Cabo Verde no ranking da liberdade de imprensa.
“Foi uma gala muito interessante porque, a par das homenagens aos jornalistas e profissionais da comunicação social com mais de 30 anos de serviço, serviu para unir a classe. Estiveram presentes jornalistas novos e os mais experientes. Infelizmente, tivemos a noticia triste da queda de Cabo Verde no ranking da liberdade de imprensa, mas acredito que depois desta gala iremos ver os resultados a nível da convivência e da motivação dos jornalistas para fazer cada vez mais e melhor”, declarou Geremias Furtado ao Mindelinsite, ainda na ressaca do evento.
Sobre a gala em si, o presidente da AJOC informou que foram distinguidos 51 jornalistas e profissionais desde técnicos, condutores, entre outros, de todo o arquipélago, pelo contributo que deram na consolidação da comunicação social cabo-verdiana. “Estamos a deparar-nos com situações que colocam em perigo a liberdade de imprensa, o exercício do jornalismo. Vivemos numa era difícil em que, além das crises, estamos numa era digital em que todo o mundo tem acesso às informações e fica mais fácil a propagação de fake news”, constatou.
Confrontado com os ataques que os jornalistas se vêm hoje confrontado nas redes sociais, Furtado garantiu que a AJOC acompanha esta situação com preocupação. Admite, no entanto, que é algo difícil de combater, tendo em conta que na maioria das vezes os ataques partem de perfis falsos. “Nestes casos, devemos moralizar os nossos colegas para não se deixarem abater por estes ataques. Ao contrário, devem ver estes ataques como uma forma de continuarem a fazer o seu trabalho porque estão a incomodar e a causar preocupação. E é este o principal propósito do jornalismo: inquietar e preocupar”, instiga Furtado, que desafia os jornalistas a continuarem a fazer o seu trabalho, doa a quem doer.
Entretanto, numa reacção à queda de Cabo Verde do ranking da liberdade de imprensa, o Primeiro-ministro limitou-se a dizer que o país continua bem avaliado internacionalmente no tocante aos quesitos democracia, desenvolvimento humano, transparência e liberdades. Ulisses Correia e Silva, que tutela a pasta da Comunicação Social, diz ainda não se rever na opinião daqueles que defendem que o país deve avaliar a sua posição. “O país continua bem avaliado nos rankings internacionais em relação a democracia, lidera em África o essencial dos rankings de desenvolvimento humano, transparência, liberdades e boa governança, e temos criado as condições necessárias para o reforço da liberdade de imprensa, da independência, da objetividade e do pluralismo da comunicação social e dos jornalistas”, referiu.
O Chefe do Governo admite que a existência de alguma tensão entre a imprensa e a Justiça possa ter causado alguma erosão na classificação da liberdade de imprensa. Mesmo assim, diz, Cabo Verde é citado no ranking como um país que se destaca na região pelo ambiente de trabalho dos jornalistas, onde a liberdade de imprensa é garantida pela Constituição.
O mesmo relatório aponta ainda que, ao contrário da maioria dos países africanos, as mulheres representam cerca de 70% da força de trabalho das redacções e nenhum jornalista foi detido, intimado ou monitorado no exercício da sua profissão.