Ventos fortes obrigam botes a ficar em terra: Mercado vazio, pescadores e peixeiras à espera de dias melhores

As rajadas de vento que se fazem sentir desde os primeiros dias do mês de março têm obrigado os pescadores a ficar em terra. Não há uma proibição formal por parte do Instituto Marítimo e Portuário mas, como diz o pescador João Brito, melhor não arriscar. Por conta disso, o Mercado de Peixe está vazio e os poucos peixes que ainda se pode encontrar estão a ser vendidos por preços proibitivos. O director Nacional das Pescas, Albertino Martins, reconhece que a situação é complexa e garante que estão a analisar a possibilidade de atribuir um subsídio de compensação aos homens do mar.

Esta é uma situação que se repete há vários dias. Hoje, por exemplo, e de acordo com a previsão do tempo emitido pela Direção de Meterologia e Clima do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, o tempo não está novamente favorável. O vento sopra fresco a muito fresco, por vezes forte, ocasionalmente com rajadas ao longo das ilhas mais ocidentais de Barlavento. As ondas do mar oscilam entre os 2.5 a 4.5 metros, com agravamento em Barlavento/ilhas orientais. 

Por conta disso, o Mercado de Peixe do Mindelo está mais uma vez quase vazio e os poucos peixes que se pode encontrar são disputados aos gritos, ainda que os preços sejam elevados. Eloisa Mota, vice-presidente da Associação de Peixeiras de São Vicente, admite que a situação está “canhambra” porque os botes não vão para a faina. “Temos pouco peixe no mercado porque os botes estão quase todos em terra. O pouco peixe que aparece é comprado muito caro e, consequentemente, também é vendido caro”, diz esta peixeira, para quem a situação, que já era difícil por causa das obras no mercado, que lhes encurtou o espaço, ficou mais complexa. 

Alguns pescadores, por estes dias, têm optado por consertar as redes e botes ou então ficam na “Praia d’ bote” a olhar para o horizonte porque, afirmam, o “mar não está para pesca”. “Ainda não houve uma proibição formal por parte das autoridades marítimas, mas o mar tem estado muito agitado por causa do vento. Então decidimos parar o bote. Não dá para arriscar”, diz, tranquilo, João Brito, um homem do mar com muitos anos de prática e, por isso, com enorme respeito para o mar. 

O Capitão dos Portos de Barlavento garante que tem vindo a alertar os pescadores para as condições do tempo, mas este fim-de-semana, como houve uma ligeira melhoria, optaram por não emitir um comunicado. No entanto, como esta manhã o vento retornou estão aguardar o boletim do INMG das 12 horas e, com base nas informações, poderão enviar um aviso. “Desde o início deste mês já enviamos alguns avisos e, para se ter uma ideia, neste ano já emitimos uns cinco ou seis avisos de segurança”

Aguinaldo Lima congratula-se, no entanto, com a decisão dos pescadores que, por iniciativa própria, têm optado por ficar em terra, mesmo sem os avisos do IMP. “Acho que estão mais conscientes dos perigos. É um trabalho que temos vindo a fazer, inclusive às vezes emitimos avisos que são ignorados. Mas é positivo que estejam mais conscientes por causa do tempo. Sei que têm uma associação de armadores que também tem estado a fazer um trabalho de conscientização.”

O Director Nacional das Pescas garante que está atento às condições meteorológicas e inclusive já chegou a falar com alguns pescadores de São Pedro, que  solicitaram a atribuição de um subsídio de compensação porque os barcos de pesca têm estado em terra por causa do mau tempo que se faz sentir. “Infelizmente, esta é uma questão que teremos de analisar porque nunca foi atribuído um subsídio quando os barcos não vão para a faina da pesca por causa do mau tempo”, diz Albertino Martins, para quem, não obstante ser a primeira vez que recebe um pedido formal neste sentido, faz todo o sentido, pelo que vão tentar encontrar algum mecanismo de compensação.

Não foi possível falar com o presidente da Associação dos Armadores de Pesca de Cabo Verde, João de Deus Lima. Entretanto, para o armador João Santos, esta é uma situação que resulta, em parte, da falta de uma frota de navios de pesca com autonomia para pescar na Zona Económica Exclusiva e na Costa Ocidental da África com países com quem Cabo Verde tem acordos de pesca. Cita, a titulo de exemplo, a Mauritânia, o Senegal, a Guiné Bissau e Angola. “Existe uma grande abundância de peixes de todas as especies na nossa ZEE, que nesta altura poderia abastecer o nosso mercado e para exportação, como acontecia na década de 60. Nesta altura, Cabo Verde tinha uma frota de navios de longo curso”, recorda. 

Para este armador, Cabo Verde precisa investir com urgência em uma frota de pesca semi-industrial e industrial para possam ter produtos de pesca  para abastecer o mercado interno e para  exportação. A seu ver, não será algo impossível porque os canais de financiamento estrangeiro para esta actividade estão abertas para o pais. O que falta, conclui, é  a vontade política. 

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