Trabalhadores da Atunlo manifestam-se em frente ao Ministério do Mar e “convidam” ministro a “dar a cara”

O ministro do Mar apareceu esta manhã na janela do seu gabinete durante a manifestação dos trabalhadores da Atunlo em S. Vicente, mas negou o “convite” lançado pelo grupo para sair à rua e conversar sobre a situação de falência da fábrica espanhola de tratamento de pescado. Os manifestantes fizeram questão de parar em frente ao Ministério do Mar portando cartazes e palavras de ordem e, quando viram Jorge Santos na janela do prédio na Avenida Marginal, juntaram as vozes e “desafiaram” o ministro a “dar a cara”.

“Fizemos esta paragem aqui porque sabíamos que o ministro estava em S. Vicente. Ele foi visto na janela, mas, em vez de vir falar connosco, preferiu dar-nos as costas. Gostaríamos que ele nos viesse confirmar que os nossos direitos estão salvaguardados, como anunciou na comunicação social”, disse Lucilene Silva à reportagem do Mindelinsite. Na sua perspectiva, o Governo tem de intervir na questão da Atunlo porque 200 trabalhadores estão a enfrentar uma “situação lastimável” desde fevereiro deste ano e há casos em que sequer conseguem alimentar os filhos.

Na mesma linha, o sindicalista Heidy Ganeto acha que o Governo tem margem para actuar no caso da Atunlo e garantir os direitos laborais dos cabo-verdianos. Para o efeito, acha fundamental a realização de um encontro entre os sindicatos e uma comissão dos trabalhadores com o ministro do Mar. “O Governo precisa posicionar-se neste processo porque a Atunlo já é uma empresa falida. Sabemos que tem uma dívida de cerca de 10 milhões de euros com empresas como a Enapor, a Electra e a Frescomar e temos de agir com brevidade para assegurarmos o que é de direito dos trabalhadores”, considera o representante do sindicato Siacsa.

O quadro laboral na Atunlo é tão precário que dois trabalhadores ouvidos pelo Mindelinsite dizem claramente que já perderam a esperança de voltar a trabalhar na fábrica. “Perdi a esperança porque todos estamos a ver que a fábrica já não funciona. O que queremos neste momento é salvaguardar os nossos direitos. Antes, quando terminava o período do lay-off telefonavam-nos a dizer que o prazo foi prorrogado. Agora estão caladinhos”, revela António Melo, que se mostra indignado com o rumo dos acontecimentos. Salienta que há quem queira partir para outro emprego, mas que não pode tomar essa iniciativa por ter ainda um contrato em vigor com a Atunlo. Aquilo que pede é que os trabalhadores sejam libertos dessa “amarra” para tocarem a sua vida.

Hernany dos Santos também já perdeu a esperança na empresa. “Em se tratando da Atunlo já não há como. Tenho ouvido as pessoas a falarem de uma outra empresa espanhola que poderá assumir a fábrica, mas, para mim, isto tudo é ainda especulação”, diz o jovem, para quem está na cara que a Atunlo é um caso perdido, visto que a empresa sequer consegue suportar metade do vencimento mínimo dos trabalhadores em lay-off. Neste momento, resta-lhe apenas a expetativa do impacto da manifestação.

O protesto juntou cerca de 30 dos 200 trabalhadores sujeitos ao lay-off, um número que não satisfez o sindicalista Heidy Ganeto e a trabalhadora Luciline Dias. O dirigente sindical admite que estava à espera de pelo menos 100 pessoas porque, diz, todos sabiam da manifestação. Adianta, entretanto, que algumas pessoas têm estado a tirar dias de trabalho e deixaram claro que não poderiam comparecer.

Os trabalhadores da Atunlo já realizaram vários protestos e, segundo Lucilene Dias, a luta vai continuar. Querem voltar a trabalhar, que sejam pagos os quase 3 meses de salário em atraso e salvaguardados os direitos laborais adquiridos.

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