Toxicodependente desesperada para deixar o vício: “Prefiro estar na cadeia, se for para ficar longe das drogas”

A toxicodependente Yara Lopes desespera-se a pedir ajuda para deixar as drogas que neste momento comandam a sua vida e a mantêm longe da sua filha. Com 33 anos de idade, F16, como também é conhecida, acumula processos nos tribunais e conta com uma passagem pela cadeia da Ribeirinha e várias outras visitas às esquadras da ilha. “Vivo num mundo escuro a querer ver uma luz e furto para alimentar o vício.”

Cansada da vida nas ruas, Yara admite ter cometido roubos e furtos, que se prostitui pelo vício e confessa até já ter sido violada e espancada. A sua maior motivação para deixar as drogas vem da convivência que não consegue ter com a filha de 16 anos, já que o seu estilo de vida não a permite.

“Desde bebé que fui obrigada a me afastar dela por sentir vergonha da minha própria filha e porque não dá para viver com uma pessoa como eu. Não tenho horário para dormir e nem para levantar e recorrentemente tenho a polícia ou pessoas que fiz mal a bater-me à porta e isso não é a vida que quero para ela”, lamenta.

Os seus 43 quilos na balança contrastam e andam em contramão com o peso na consciência que diz carregar e que aumenta a cada dia porque a droga a abriga a fazer “coisas erradas”. Mesmo assim tem esperança numa recuperação, mas sente-se sozinha e abandonada por todos. Dos sítios que passou a pedir ajuda destaca CAPS, OMCV, o Tribunal, hospital Baptista de Sousa e diz ter enviado dois processos  para a Comunidade Terapêutica da Granja, mas sem resposta.

Quero descobrir a Yara que fui antes do vício, aquela que tinha boas notas na escola, terminar os meus estudos e fazer uma formação. Quero tentar corrigir os erros que cometi, andar com a cabeça levantada e dar à minha filha orgulho em mim. Não quero morrer assim.”

“F16” admite já ter estado internada em recuperação na Granja há seis anos, mas, ao fim de 3 meses dos 9 previstos, foi expulsa do tratamento por ter-se envolvida com um dos outros pacientes. Garante, no entanto, que desta vez será diferente. “Desta vez eu quero, preciso porque reconheci para mim mesma que sou doente e que eu não vivo há anos. Só não estou presa porque acredito que no tribunal reconhecem minha doença e têm compaixão por mim. Mas prefiro estar na cadeia, se for para estar longe das drogas.”

Yara começou a drogar-se com 14 anos de idade, na altura em que frequentava o décimo ano de escolaridade e carregava o sonho de ser advogada. No início, como diz, consumia drogas “mais leves” como a cannabis. Com o tempo evoluiu para as mais pesadas como “cocktail”, cocaína e há quinze anos que usa crack.

Só não estou presa porque acredito que no tribunal reconhecem minha doença e têm compaixão por mim. Mas prefiro estar na cadeia, se for para estar longe das drogas.”

Esta sua evolução nas drogas fez com que visse sua vida andar para trás, pois abandonou os estudos e não tem memória da sua vida antes das drogas. Hoje, sem mãe e sem pai que faleceram, a droga afastou-lhe da família e amigos.  Na gravidez, o seu maior medo era que a filha nascesse com problemas de saúde, já que consumiu entorpecentes durante toda a gestação.  “Ela tem muitos problemas respiratórios e foram causados por mim”, lamenta.

A filha vive com o tio e a cunhada e Yara quer ser um exemplo para ela. “Minha filha sabe da minha vida toda e digo para ela estudar para não ser uma bandida como a mãe e o pai.” Assegura que não é um caso perdido e que só precisa de uma mão para se levantar.

A jovem acredita que, se tiver uma chance, nada a impedirá de fazer o seu tratamento. Depois de duas tentativas de suicídio falhadas, teme que a terceira seja o fim da sua luta.

Obs: No momento da entrevista Yara Lopes estava lúcida e dizia não ter consumido deste o dia anterior e foi em plena faculdades mentais que pediu para ser identificada.

Sidneia Newton

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