Presidente do ICCA considera adaptação ao mundo tecnológico um dos principais desafios do ensino em Cabo Verde

"A tecnologia está empurrando o sistema do ensino para um novo patamar, mas o problema não é exclusivo de Cabo Verde."

A presidente do ICCA considerou ontem a adaptação ao mundo tecnológico um dos principais desafios que o sistema do ensino terá de enfrentar em Cabo Verde. Zaida Freitas lembrou que hoje os alunos podem ter acesso a um enorme manancial de informação e levantarem perguntas sobre as matérias lecionadas, que podem apanhar os professores de surpresa, sem estarem devidamente munidos dos conhecimentos e respostas. Daí considerar que o desafio é urgente e abrangente, por se situar tanto no sistema como na preparação individual dos docentes. O cerne da questão, diz, vai no sentido do acesso universal ao sistema de ensino e, ao mesmo tempo, a um aprendizado de qualidade.

“A tecnologia está empurrando o sistema do ensino para um novo patamar, mas o problema não é exclusivo de Cabo Verde”, considera a responsável do Instituto da Criança e do Adolescente. A preocupação, segundo Freitas, não surge agora. Lembra que no ano passado o debate suscitado pelo ICCA no quadro da celebração do Dia da Criança Africana centrou-se exactamente sobre o acesso das crianças e dos adolescentes à Internet.

Zaida Freitas admite que a adaptação do sistema do ensino à modernidade vai implicar a aquisição de equipamentos informáticos para as salas e laboratórios. Neste quesito, enfatiza que Cabo Verde tem tido a sorte de contar com as parcerias da ONU (Unicef), União Europeia e organizações internacionais. No entanto, acha que o país precisa criar as condições para não ficar sistematicamente dependente dos apoios externos.

A presidente do ICCA prestou estas declarações ao Mindelinsite à margem do “Fórum Municipal sobre o Direito à Educação”, realizado em S. Vicente sob o lema Educação para todos, a hora é agora. A iniciativa foi enquadrada na celebração do Dia da Criança Africana e surge em resposta a um forte apelo da União Africana. O encontro, que foi presidido pela Secretária de Estado da Inclusão Social, contou com uma plateia composta fundamentalmente por alunos do ensino secundário.

Crianças presentes no Fórum Municipal

Uma das participantes foi a estudante liceal Laura Andrade, que foi deputada do parlamento infantojuvenil em 2023. Na sua percepção, o sistema educativo em Cabo Verde não anda a 100 por cento, em parte afectado pelos conhecidos conflitos entre a classe docente e o Ministério da Educação. “Esta situação acaba por respingar-se nos estudantes, na qualidade do ensino que podíamos estar a usufruir”, comenta a aluna do 9. ano do Liceu Ludjero Lima.

Pedida para opinar sobre a polémica, a estudante preferiu evitar se posicionar. “Para posicionar-me tenho de compreender muito bem os dois lados e não tenho conhecimento sufiente que me permite fazer isto neste momento”, argumenta.

Laura Andrade, aluna do 9 ano do Liceu Ludjero Lima

Apoiar o ICCA e dialogar com os adolescentes

A Secretária de Estado Lídia Lima afirma que a sua presença no fórum visou em primeiro lugar apoiar o ICCA e poder dialogar com os adolescente sobre o acesso à educação em Cabo Verde. Na sua avaliação, o Governo tem estado a batalhar para garantir o respeito absoluto dos direitos das crianças e dos adolescentes ao nível da proteção social, acesso à saúde e à educação… Estas políticas, afirma, estão alinhadas com os Objetivos do Desenvolvimento do Milénio e com a Carta Africana para a Defesa dos Direitos das Crianças.

“No quadro da Educação instituímos a educação gratuita desde o ensino básico ao secundário; instituímos a educação gratuita desde o pré-escolar ao superior para pessoas com deficiência; reforçamos a ação escolar com o fortalecimento das refeições quentes nas escolas; reforçamos os transportes escolares e a atribuição de kits e manuais às crianças de famílias muito pobres; as crianças dos 0 aos 5 anos têm acesso gratuito ao sistema de saúde e ao tratamento…”, elenca a governante.

Lídia Lima admite que há ainda desafios que afectam crianças em vários países africanos, como o abandono escolar. Este fenômeno, na sua percepção ainda não tem grande impacto em Cabo Verde, mas admite que os dados começam a suscitar preocupação. Por isso, diz, é preciso dar continuidade aos programas em andamento e sensibilizar as famílias sobre a importância da educação no processo de desenvolvimento das crianças e do próprio país.

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