Presidente da Simabô nega ter pedido lote em nome pessoal à CMSV e afirma haver cerca de 10.000 cães na rua em S. Vicente

A presidente da Simabô negou hoje ter solicitado à CMSV para colocar um lote no seu nome pessoal para construção da sede da associação e de um canil e salientou que o número de cães vadios existentes actualmente nas ruas de S. Vicente são superiores aos 3 mil indivíduos, contrariando, assim, informações avançadas pelo vereador do Saneamento. Confrontado pela imprensa sobre a informação do autarca José Carlos em relação ao terreno, Sílvia Punzo considerou “ridícula” tal informação.

Sílvia Punzo revelou, entretanto, que houve um diálogo sobre esse assunto com a CMSV há cerca de 10 anos e, conforme a mesma, foi mostrado na planta um lote “muito pequeno e vertical”, que iria exigir milhares de euros só no trabalho de terraplanagem. Deixou claro que esse chão era insuficiente para a construção do canil e negou alguma vez ter pedido à CMSV para registar o terreno no seu nome pessoal. “Nem nunca chegamos a falar disto”, reforçou.

Outra informação contestada pela italiana tem a ver com o número de animais vagueando por S. Vicente, que, conforme dados avançados pelo vereador José Carlos numa conferência de imprensa convocada devido a polémica em torno da captura de cães pela edilidade, rondam os 3 mil. Pelas contas da presidente da Simabô o número deve atingir neste momento cerca de 10 mil animais.

Sobre este aspecto, o médico-Veterinário da associação reforçou que os dados científicos existentes sobre a população canina em S. Vicente remontam a um estudo feito pela Universidade de Turim em 2012, quando foram contabilizados 23.000 animais vivendo nas ruas da ilha. “Quando o vereador diz que hoje temos 3 mil cães na rua, sem nenhum estudo científico, só prova que ele não tem a mínima noção da real situação”, contentou Reginaldo Oliveira, para quem há mais de 3 mil canídeos vivendo na rua em S. Vicente, mas muito menos do que os 23.000 registados em 2012. E, segundo o veterinário, esta descida é perceptível com a redução dos atendimentos diários na Simabô.

Este posicionamento foi suscitado pela resposta dada em conferência de imprensa pela CMSV a um grupo cívico que decidiu criticar a decisão da CMSV de capturar vários cães e mante-los no canil municipal em “condições desumanas”. Recorda Sílva Punzo que a edilidade iniciou o processo de captura de cães na rua – aparentemente sem critério – sem fazer uma comunicação prévia à população de forma a garantir que animais com dono, comunitários, castrados e saudáveis fossem protegidos. “Em consequência disso, e perante as condições atrozes a que os animais capturados têm sido sujeitos, foi formado um grupo espontâneo de voluntários. A SIMABÔ juntou-se a este grupo, fazendo também dele parte médicos veterinários do setor privado e vários cidadãos de São Vicente não relacionados com nenhuma ONG”, especificou a cidadã italiana residente no Mindelo. Lembrou que a conferência de imprensa que despoletou o comunicado da CMSV foi promovida por esse grupo voluntário e não pela associação, mas que acabou sendo a atacada pela CMSV. Punzo faz, no entanto, questão de realçar que a Simabô não quer com isto demarcar-se do movimento, muito pelo contrário, diz, fazem “orgulhosamente” parte do mesmo.

“Queremos apenas evidenciar que os ataques da CMSV do passado dia 8 são desligados do que se está a passar e visam apenas desviar a atenção do que realmente importa”, frisou a porta-voz, que revelou que estudos sobre a dinâmica da população canina determinam que em Cabo Verde existem as seguintes subpopulações: cães confinados com proprietário; cães com proprietário, mas que circulam livremente; cães que inicialmente tinham proprietário, mas foram abandonados/perdidos; cães alimentados e tratados pela comunidade; cães sem dono e com escasso ou nulo contacto com pessoas.

Evidencia que o conhecimento científico (e o bom senso) determinam que os diferentes grupos e a sua dominância sejam tidos em conta no momento da tomada de decisões sobre a população canina. “Ora, temos uma Câmara Municipal que declara que o cão comunitário é um conceito inexistente”, pontua Sílva Punzo, acentuando que a captura e abate sem planeamento é inútil para a diminuição da população canina, sendo eficaz só no imediato. Está estudado, conforme a citada fonte, que, quando se procede à captura de cães numa determinada localidade, estes são rapidamente substituídos por outros.

Quando a opção política é o controlo da população de cães através do abate, prossegue Sílvia Punzo, este procedimento tem de ser feito através de eutanásia, mas por veterinários. No entanto, diz, a CMSV não dispõe de nenhum veterinário municipal a realizar eutanásias neste momento. Por isso convida as pessoas a imaginar o que tem acontecido aos cães capturados e desaparecidos das ruas de São Vicente e da Baía das Gatas.

Sílvia Punzo enfatiza que a Simabô não é uma entidade pública, mas sim de direito privado, pelo que não tem a obrigação de gerir a população canina e nem está obrigada a responder à CMSV ou a outra entidade pública. Deixa claro, deste modo, que a organização não deve justificações à CMSV, uma instituição que, diz, nunca cumpriu o protocolo de cooperação com a Associação de Proteção dos Animais e Ambiente, assinado em janeiro de 2016.

Mais de 23.000 animais castrados

Segundo Punzo, nos 10 anos de funcionamento da Simabô, a associação já castrou 23.137 cães e gatos gratuitamente, sendo que o número de castrações por ano tem crescido progressivamente, com a cifra a atingir no ano passado 2.679 animais (1.615 cães e 1.064 gatos).

Outros dados revelados indicam que a Simabô tem 23 funcionários remunerados e no ano passado comprou e pagou medicamentos e microchips no valor aproximado de 25.700 Euros. Além disso, paga renda de 4 espaços, onde cuida todos os dias de mais de 70 animais.

“Experiências” com animais

Na conferência de imprensa, o veterinário Reginaldo Oliveira mostrou-se profundamente indignado com a afirmação do vereador José Carlos, segundo a qual a Simabô tem estado a fazer “experiências” com os animais. Segundo Regi, como é conhecido, num Estado onde o direito funciona, jamais o autarca faria uma declaração dessa natureza, sem prova. “Isto é demasiado grave em todos os sentidos. Isto fere a instituição Simabô e a minha pessoa como responsável clínico da mesma”, enfatiza Oliveira.

Por mote próprio, o veterinário adianta que a única coisa feita pela associação tem sido colaborar com estudantes universitários estrangeiros com o fornecimento de materiais biológicos recolhidos dos animais sujeitos a cirurgias, como sangue e fezes para efeito de estudo. O objectivo é obter dados ou noções sobre ventuais epidemias. “Se o vereador quer falar da saúde pública deveria ter competência ou então munir-se do aconselhamento de um técnico qualificado, e não ficar a falar de forma leviana”, reagiu Oliveira.

Questionado, este médico diz que os estudos indicam que a melhor forma de se travar o aumento da população canina é através da castração e o envolvimento da população. E afirma que as coisas poderiam ser resolvidas caso a CSMV fosse colaborativa.

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