A Organização das Mulheres de Cabo Verde assinou ontem um acordo de parceria com missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que irão financiar mais 100 kits de painéis solares para contemplar 100 casas de tambor em São Vicente. O projeto, que inicialmente foi denominada “luz para as meninas”, desta vez vai dar atenção também aos rapazes, jovens estudantes, de forma a abranger mais famílias e combater o abandono escolar.
“Os missionários é que financiaram os kit no ano passado e agora vieram propor dar continuidade ao projeto, mas com ‘luz para os meninos’ também. Aceitei de bom grado e nós vamos ter agora energia para as meninas e para os meninos. Este ano, em vez de cinquenta, iremos abranger cem casas”, comemora a delegada da OMCV, Fátima Balbina Lima, explicando que a palavra “luz” no projeto significa esperança, ideia e futuro.
Este projeto pretende combater o abandono escolar entre as meninas e os meninos de diferentes faixas etárias e irá passar por nova triagem das pessoas que forem se inscrever e visitar as localidades para que mais 100 casas sejam selecionadas. “Quase todas as zonas merecem intervenção deste projeto, mas temos maior aglomeração de possíveis beneficiários em Monte Sossego, Alto de São João, que é uma zona bastante difícil, também Cruz de Papa e Ribeirinha, nas proximidades de João de Évora, Zona X e Salamansinha. São as zonas que pensamos que mais pessoas carecem de estes apoios por estarem a viver num limiar de pobreza jamais imaginada”, lamenta.
Orçado em pouco mais de dois mil e duzentos contos só em painéis solares projecto, o conta ainda com a parceria de um dos seus impulsionadores, o empresário Marco Silva e da empresa Prosol, que procede à instalação dos painéis. Além dos painéis, os missionários desde o ano passado vêm financiando outra iniciativa, nomeadamente de empoderamento feminino, com kits de negócio.
“No ano passado identificamos vários projetos, como ‘Um kit, um negócio’ e ‘Luz para as meninas’. Luz para as meninas vem desde 2020, altura da pandemia, em que vimos que muitos jovens estudantes ficaram sem estudar as matérias porque tinham que acompanhar via televisão e via internet, quando não possuíam meios nem para carregar o telemóvel”, sublinha a delegada.
De acordo com a OMCV, o impacto da colocação dos primeiros painéis tem sido positivo. “Já fizemos algumas visitas para constatar o uso que os painéis têm recebido, as pessoas estão felizes com a iniciativa e por conseguir poupar em termos de valores e o que estamos a pensar neste momento é que estas famílias que vivem em condições precárias precisam de outras ajudas“, considera Balbina. Neste momento, acrescenta, estão a trabalhar para ver se os agregados podem receber estas ajudas porque algumas nem sequer possuem em casa uma mesa e uma cadeira para as crianças estudarem. Deste modo, a OMCV está a fazer uma campanha para encontrar ao menos material de estudo para lhes oferecer.
Desde 2015 que a igreja e a OMCV mantêm parceria, tendo já financiado outros projetos através de oferecimento de máquinas de costura, tecidos, computadores portáteis e, mais recentemente, os painéis e kits de negócio.
A partir de São Vicente, os missionários apoiam projetos nas outras ilhas como Santiago e na ilha de Santo Antão, nos concelhos da Ribeira Grande e do Porto Novo e com perspetiva, de acordo com a representante da OMCV na ilha do Monte Cara, para chegar às outras ilhas vizinhas como São Nicolau e Sal.
De acordo com Joseph Haynie, missionário da Igreja de Jesus Cristo do Santos do Últimos Dias, o seu enfoque, juntamente com a esposa, é precisamente com as ilhas do Barlavento, com fundos doados de parceiros de todo mundo.
“Nós temos este trabalho em todos os países do mundo, usando dinheiro que é doado por indivíduos, membros da igreja em todo mundo, incluindo de Cabo Verde, para beneficiar a sociedade. Porque no mundo há muitas desigualdades, mas acreditamos que somos todos iguais, filhos de Deus e desta forma estamos sempre em busca de forma para ajudar uns aos outros”, explica. Foi este propósito que diz ter feito os missionários acreditarem e apostarem nos projetos da OMCV, pelo alcance e impacto que demostram para a sociedade.
Uma das beneficiárias do projeto garante que a colocação do painel na casa onde reside com seus filhos trouxe outra qualidade de vida para as crianças e jovens e, ao mesmo tempo, maior segurança. “Foi uma grande ajuda porque atualmente minha filha não estuda à base da luz de velas. Antes chegava à casa e encontrava meus filhos com velas acesas e isso era um tanto perigoso visto o risco de incêndio”, alerta a beneficiária dos primeiros kits do ano passado, que diz ainda que o painel está a funcionar em pleno. Esta jovem mãe de quatro filhos acredita que a continuação do projeto é mesmo necessária, já que irá abranger mais pessoas com necessidades reais.
A OMCV, por sua vez, apela às famílias que se enquadrem no perfil destes beneficiários, ou seja, que vivem em casa sem luz elétrica e que tenham crianças a estudar, para que procurem a instituição de forma a serem inscritas, já que até o final do ano espera ter instalado os cem novos painéis.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, São Vicente é a ilha com maior número de habitações consideradas “barracas”, com 1.750, mais de metade das 2.977 barracas contabilizadas em Cabo Verde.
Sidneia Newton