A notícia dando conta que a OMCV estava a iniciar o processo de seleção de cem trabalhadores da construção civil, restauração e turismo para os mercados de Portugal e Espanha provocou uma enorme demanda de potenciais candidatos das ilhas de S. Vicente, Santo Antão, Sal, Boa Vista e Santiago. A procura foi de tal envergadura que, segundo Fátima Balbina, obrigou a delegação da OMCV a suspender todos os seus serviços para poder atender os pedidos de informação por telefone, chat e atendimento directo.
Embora ainda não tenha os dados estatísticos disponíveis, a responsável da Organização das Mulheres de Cabo Verde na cidade do Mindelo adianta que atenderam mais de 300 pessoas de forma presencial em apenas dois dias. Além disso, os telefones não pararam de tocar e as mensagens “choveram” na caixa de correio electrónico e no Messenger da OMCV. O próprio Mindel Insite recebeu dezenas de mensagens de pessoas solicitando esclarecimentos e outras que resolveram até se “inscrever” no jornal. Presume-se que este segundo grupo integra pessoas que não se deram ao trabalho de ler a notícia.
Para dar vazão à procura, a OMCV contratou um técnico de comunicação para fazer o atendimento público, abriu um espaço com essa finalidade, mas acabou por parar os outros expedientes e associar os seus quatro funcionários a esse processo. Na sua maioria, os candidatos são jovens do sexo masculino, mas, segundo Fátima Balbina, muitas mulheres foram tentar a sua sorte.
“Fechamos em pouco tempo as candidaturas para Portugal porque eram apenas para 25 pessoas. Demoramos um pouco mais de tempo no processo de candidatura para Espanha, mas este já foi também concluído”, informa Balbina. O próximo passo, prossegue, será a análise do currículo dos candidatos, o envio dos documentos dos pre-selecionados para as duas empresas que solicitaram os trabalhadores para que estas possam reagir. Balbina adverte que todo o processo será minuciosamente acompanhado pela OMCV devido ao nível de responsabilidade que acarreta.
Os pedidos de trabalhadores qualificados por uma empresa portuguesa e outra espanhola está a ser uma experiência intensa para a OMCV, mas Fátima Balbina mostra-se um pouco preocupada com a quantidade de técnicos qualificados e jovens que querem procurar uma alternativa de vida no estrangeiro. Como diz, a emigração mudou os seus parâmetros. “Se antigamente qualquer pessoa iletrada podia partir e tentar a sorte, hoje a Europa está a exigir pessoal qualificado”, salienta.
“Temos de estar atentos aos reflexos que uma demanda grande por técnico qualificados pode ter no funcionamento das nossas empresas. Aqui não estamos a criticar a decisão de ninguém de optar pela sua vida, mas sim a chamar atenção para as consequências deste fenómeno”, comenta Fátima Balbina, que se mostra preocupada ainda com outro aspecto agora “destapado” com esse processo. Trata-se da quantidade de pessoal com reconhecida experiência nas várias especializações ligadas à construção civil, mas que não têm um único documento a comprovar a sua formação.
Nalguns casos, conta Balbina, os candidatos apresentaram documentos emitidos pelas empresas onde trabalham e que foram aceites, “por se tratarem de empresas de reconhecida idoneidade no mercado.” Esta situação, diz, pode prejudicar vários profissionais, tal como está agora a acontecer.
Várias pessoas que foram atendidas pessoalmente em S. Vicente foram logo descartadas por falta de currículo adequado. Agora a OMCV vai analisar os pedidos enviados por email para depois encaminhar os dossiers para as empresas e aguardar a resposta. Fátima Balbina espera ver o processo concluído ainda este ano, mas avisa que o maior entrave pode surgir na atribuição dos vistos.
Um facto curioso é que a OMCV viu aumentado o interesse de pessoas em se inscrever no seu programa de formação na área da restauração.