Cerca de 40 pessoas, na sua quase totalidade jovens mulheres, uniram as suas forças em S. Vicente para reforçar o apelo nacional por uma aplicação plena e em tempo útil da lei da Violência Baseada no Género em Cabo Verde. Trajadas de branco, partiram em fila indiana do ex-Liceu Velho para a praceta Don Luis numa marcha silenciosa rompida pela voz das mensagens escritas nos cartazes que portaram. Na sua maioria pedindo um basta à violência tanto fisica como emocional contra a mulher, a principal vítima desse tipo de crime.
No entanto, as mulheres que participaram na marcha não esquecem que há casos em que os polos se invertem, isto é, a mulher é que faz o papel de agressora. Como realçou Indira Leite, uma das embaixadoras do movimento MIM – Mulheres que Inspiram Mulheres -, a ideia não é assumir uma atitude feminista, mas sim lembrar que o sucesso dessa luta envolve tanto a mulher como o homem. No entanto, lembra que a vítima mais recente no pais foi a jovem Gabriela, morta na ilha da Boa Vista supostamente pelo ex-namorado, o incidente que, aliás, motivou a realização desse protesto a nível nacional.
Segundo Indira Leite e Albertina Ferreira, o objectivo primordial é exigir das autoridades a aplicação efectiva e imediata da lei da VBG. Agir em tempo útil quando há denúncias e evitar o cometimento de mais agressões enquanto se aguarda uma intervenção sobre o agressor ou que este se sinta impune. “Não pode continuar a acontecer mortes cometidas por pessoas que negam aceitar uma separação conjugal. Estamos por isso a exigir a implementação na plenitude da lei”, comenta Albertina Ferreira, que reconhece a possibilidade de o homem ser também vítima de uma mulher agressiva. Daí defender que essa causa deva ser comum.
Aliás Joice Lima, diz conhecer vários casos de violência doméstica, um deles contra um homem. Este, prossegue, tomou a iniciativa de fazer uma denúncia, mas foi ridicularizado por agentes da Policia Nacional. “Estes perguntaram-lhe como é possível admitir ser agredido por uma mulher, para ser homem!”, revela a jovem, que considerou esse comportamento um absurdo.
A expectativa de Joice Lima é que a manifestação sirva para levar as autoridades a mexer com mais celeridade mediante as denúncias, mas principalmente que passe a haver o respeito mútuo entre homens e mulheres. Na sua perspectiva, precisa haver uma mudança de mentalidade, a começar nas crianças. “Ensinar os meninos a respeitarem as colegas e as mulheres para deixarem de ser submissas”, frisa esta jovem, que se mostrou satisfeita com a presença de alguns homens na manifestação.
Indira Leite reconhece a dificuldade que enfrenta uma mulher para denunciar um parceiro de quem, em certos casos, é dependente. Admite que há situações em que a mulher é inclusivamente coagida para desistir de uma queixa. Para evitar esse ciclo que, diz, o movimento MIM deve estender a sua ação e passar a apoiar e incentivar as mulheres a lutarem até o fim.