Os familiares da jovem Sílvia Santos, que faleceu esta sexta-feira na sequência de complicações de gravidez, garantem que houve negligência e já apresentaram uma denúncia na Polícia Judiciária. Elizandro Santos, pai do bebé nado-morto e marido da jovem, acredita que se esta tivesse sido diagnosticada em tempo e recebido os cuidados devidos, ela e a criança estariam vivos. Por isso, pede justiça para Sílvia e para e o seu bebé. O funeral está marcado para esta segunda-feira, pelas 16 horas.
Elizandro Santos conta, num exclusivo ao Mindelinsite, que desde os seis meses de gravidez Sílvia começou a apresentar algumas queixas, nomeadamente inflamações nas pernas e pés, considerados normais por sua médica. Continuou a fazer o seu pré-natal normalmente e a seguir todas as recomendações médicas. Entretanto, perto da recta final da gravidez – estava com nove meses – o mal-estar aumentou, o que a levou ao hospital.
“Fomos para o Serviço de Protecção Materno-Infantil e, como não encontramos a sua médica, fomos para o Banco de Urgência. Fomos atendidos e enviados para a Maternidade. Lá encontramos a médica que a acompanhava no PMI, Dra Nilse Santos. Na altura, Sílvia estava com vómito e diarreia. A médica alegou que está com uma virose em São Vicente e receitou-lhe um medicamento de enjoo e, como Sílvia estava desidratada, ela colocou-a no soro. De seguida, Silva recebeu alta e foi para casa, sem que fosse submetida a nenhum exame para confirmar o diagnóstico da médica”.
Na sequência, prossegue, a médica concedeu-lhe três dias de baixa, com a promessa de retornar no dia 20, data da próxima consulta no PMI. Entretanto, no dia 19, Silva voltou a sentir-se mal e foi observada por uma enfermeira no PMI da Bela Vista, que lhe pediu para urinar num recipiente e constatou uma cor estranha. Esta acionou a médica de serviço. “Ficamos preocupados. Mas a médica apenas receitou-lhe um remédio para enjoo, solicitou-lhe algumas análises e dez dias de convalescença. Um dos exames foi marcado para o dia 27 e um outro ficou em lista de espera. Quanto à convalescença, a médica alegou que não podia alongar o prazo muito mais para não criar constrangimentos junto do INPS. Mas não sabemos se os problemas seriam para a médica ou para a Sílvia”, acrescenta.
A situação, entretanto, só agravava, de acordo com Gomes, que no dia seguinte, dia 20, voltou a levar a sua companheira ao BU do Hospital Baptista de Sousa. Este conta que chegaram ao hospital por volta das 15h30 e foram encaminhados directamente para a Maternidade, onde ficou internada. Lá, Sílvia fez todos as análises que tinham sido receitados pela médica do PMI.
Nesta altura, diz o entrevistado, a jovem já estava com os olhos amarelos. O diagnóstico foi “Esteatose Hepática” da gravidez, uma doença que, segundo informou a médica ao Elizandro, acontece quando as células do fígado são infiltradas por células de gordura. “No mesmo dia Sílvia foi submetida a uma cesariana. Mas era tarde de mais porque o bebé nasceu sem vida. Mas, quando questionei a médica, esta garantiu-me que o bebé estava morto há dois dias. Ou seja, se tivesse tido um bom atendimento no PMI, no mínimo um exame de toque ou escutado a barriga, perceberia que o bebé já estava morto.”
Quanto a Sílvia, segundo Elizandro, a médica garantiu aos familiares que o seu estado era estável, quando na verdade era “crítico”, segundo ficaram a saber por outras vias. A prova disse é que, depois da cirurgia de urgência, ela foi levada para os Cuidados Intensivos e veio a falecer na sexta-feira, 23. Elizandro não tem dúvida de que, se o diagnóstico tivesse sido feito mais cedo, hoje Sílvia e o seu bebé estariam vivos, ou perderiam apenas a criança, o que o leva a perguntar quantas famílias mais precisam passar por esta dor. “Estamos a passar por um momento difícil. Não gostaria que mais ninguém passasse por isso. É muita dor. Por isso, já fizemos uma denúncia na PJ, que prometeu investigar e apurar responsabilidades”.
Tentamos ouvir a directora do Hospital Baptista de Sousa, Ana Margarida Brito, que se encontra de férias. Já a Directora Clínica, Jamira Sousa, prometeu uma reacção, em comunicado, para esta segunda-feira. Sílvia, refira-se, era funcionária do ISCEE em São Vicente. Colegas, amigos e conhecidos têm estado a lamentar a sua morte na redes sociais.
Constânça de Pina