Moradores de Chã de Vital d’ Cima, bairro do subúrbio da cidade Mindelo, esperam há cerca de uma década por luz eléctrica e por uma estrada de acesso. Dizem que já procuraram a Câmara de São Vicente e a Electra por diversas vezes, mas continuam sem respostas. Inconformados, tiraram “dinheiro” da sua panela para alugar uma máquina para melhorar o acesso. Mas, relativamente a energia eléctrica pedem a quem de direito que “olhe por esta comunidade.”
Em conversa com Mindelinsite, a moradora Cátia Rocha, que falava em nome de todos os vizinhos, conta que os moradores de Chã de Vital d’ Cima estão cansados do descaso da CMSV e de serem ignorados pela Electra. “Moro nesta comunidade há cerca de três anos, que fica próxima ao estaleiro de blocos do Sr. Armindo. Mas tenho vizinhos que residem aqui há quase uma década. Esta é uma comunidade constituída por 17 casas. Compramos terreno e construimos as nossas casas, sendo que muitas famílias tiveram de recorrer à banca para financiar as suas moradias.”
Desde que foram morar nas suas casas, afirma, enfrentam enormes dificuldades devido a falta de energia eléctrica e de uma estrada de acesso à comunidade. “Tenho uma vizinha que disse que há sete anos está atrás da Electra, outros cinco e, no meu caso, três anos. Todas as casas têm instalações prontas, inclusive com vistoria. Mas até agora continuamos sem energia. Já recebemos muitas desculpas, desde falta de postes, de cabos, entre outros. Há dois anos que nos garantiram que, até o final do ano, a zona estaria electrificada. E nada. Não dá para continuar à espera.”
É que, de acordo com esta nossa fonte, há muitas crianças nesta comunidade, muitas delas ainda frequentam a escola e são obrigadas a transitar por uma rua muito escura. “Não temos iluminação eléctrica na rua e nem dentro das casas. Por causa do escuro, temos de ir buscar os nossos filhos na escola porque ficamos preocupados. Não conseguem estudar à noite. Temos de pedir favores para carregar os nossos telemóveis. São muitos transtornos. Estamos abandonados e ignorados”, desabafa.
Cátia mostra-se igualmente indignada porquanto, diz, viaturas de transporte público, táxis por exemplo, negam fazer fretes para esta comunidade. “As famílias tiveram de unir esforços para pagar 18 mil escudos a uma empresa para abrir uma estrada. Foi dinheiro que tiramos da panela para podermos melhorar o acesso. Isto porque, em caso de doença, sobretudo à noite, nunca conseguiríamos um carro para nos transportar para o hospital”, relata, exemplificando com um caso em que um morador se sentiu mal e a viatura dos bombeiros teve de ficar muito longe porque não conseguiu subir na zona.
Na altura, prossegue, enviaram uma carta à CMSV, mas até agora nunca tiveram qualquer resposta. Já na Electra, diz Rocha, inicialmente alegaram não dispor de postes para transportar a energia, numa distância de aproximadamente 100 metros. “Pediram-nos para aguardar. Depois alegaram falta de cabos. Na terceira vez que estivemos na empresa, garantiram-nos que até final do ano a zona estaria electrificada. Passaram-se dois anos, estamos prestes a completar três anos, e nunca apareceram por cá. Inconformados, regressamos uma quarta vez, mas agora o director recusou-se a nos receber.”
Electra faz “mea-culpa”
Confrontada, a Electra admite que os moradores desta comunidade têm razão para estarem descontentes, pelo menos no que diz respeito à empresa. “De facto, as reivindicações destes moradores são legítimas. Felizmente, porcentagem destas suas reivindicações parte de um lote de matérias que a Electra vai receber agora e em finais de novembro vai ser canalizadas para Chã de Vital d’ Cima até Mato Inglês. Já está tudo esquematizado e o projecto já foi trabalhado.
Osvaldino Silva, Administrador Executivo da Electra, explica que esta encomenda foi feita e paga desde agosto passado, mas os postes e quadros de média tensão são equipamentos mais morosos. “Temos garantias de que estes materiais chegam na última semana de novembro.” Questionado se, finalmente, os moradores desta comunidade vão poder celebrar o fim-de-ano com luz elétricas nas suas casas e na rua, este responsável mostra-se céptico.
“É muito difícil porque, após a chegada da encomenda, ainda temos todo o processo com a Alfândega, que demanda muita burocracia. Depois temos outros outros demarches, lançamento, etc. Para se ter uma ideia, a colocação dos postes é um trabalho que deve demorar um mês”, explica, lembrando que os postes são importados do Chile, Alemanha e Portugal. “Quero tranquilizar os moradores e dizer que Chã de Vital está dentro do nosso pacote. Sabemos que muitas famílias recorreram à banca para fazer empréstimos para construir as suas casas. E depois ou moram no escuro ou de renda, pagando o crédito no banco. Não faz sentido. Estamos empenhados em resolver este problema.”
Da CMSV, não obstante o pedido de informações sobre a construção de uma estrada de acesso, não tivemos qualquer feedback até a publicação desta notícia.