O Movimento para o Desenvolvimento de S. Vicente voltou a criticar o uso do navio Chiquinho na rota marítima entre o Porto Grande e Porto Novo pelos alegados riscos de acidente que a embarcação comporta. O grupo cívico justifica a sua apreensão pelo facto de o barco operar com uma rampa deslizante na proa, o que, diz, constitui um factor que pode provocar um naugfrágio grave.
A preocupação foi apresentada numa conferência de imprensa pelo MDSV, que sustentou a sua posição com o testemunho do técnico naval João Santos. É que, para este também armador, não é aceitável ter um navio designado landing craft ferry para viagens em oceano aberto, como acontece no canal entre as ilhas de S. Vicente e de Santo Antão, e que foi desenhado para navegação fluvial, ou seja, nos rios.
Segundo Maurino Delgado, porta-voz do Movimento, ter Chiquinho a circular em Cabo Verde representa um retrocesso em termos da salvaguarda de vidas humanas no mar. “(…) um retrocesso perigoso porque estão criadas as condições para uma catástrofe de dimensões imprevisíveis.”
Maurino Delgado enfatiza que o barco tem uma capacidade de 456 passageiros e muitas vezes viaja com lotação esgotada. A seu ver, isto constitui uma grande responsabilidade, pelo que apela ao Governo para rever a situação se quer o melhor para o povo cabo-verdiano.
Delgado lembra que o MDSV começou a luta por melhores condições de segurança no mar em 2015. Seis meses após o naufrágio do Navio Vicente, prossegue, um grupo de cidadãos prestou uma homenagem às vítimas, ao mesmo tempo que exigia mais condições de segurança nas viagens marítimas. Isto tendo em conta “as circunstâncias negligentes” que levaram ao afundamento do navio Vicente.
“(…) precisamos ter a certeza de que as pessoas que estão à frente das instituições são competentes; precisamos ter a certeza de que os tripulantes dos barcos estão devidamente preparados”, exprimiu Maurino Delgado, lembrando que nos relatórios do naufrágio do navio Vicente constaram que o mesmo estava em péssimas condições de navegabilidade, apesar de fazer as inspeções periodicamente e possuir certificação. Recorda, entretanto, que o barco tinha sido desativado e condenado à sucata na Croácia devido a sua idade, tendo sido, entretanto, comprado em 2011 e trazido para Cabo Verde.
Segundo Maurino Delgado, o Estado de Cabo Verde permitiu que o referido navio operasse durante quatro anos, até que no dia 8 de janeiro de 2015 saiu do Porto da Praia sobrecarregado com 121 toneladas de carga a mais (acima do peso permitido) e com 26 pessoas a bordo, incluindo tripulantes. “Apanhou mau tempo e afundou-se. Perdeu-se o barco, toda a mercadoria e vidas humanas”, simplifica o representante do MDSV, para quem o Estado de Cabo Verde devia ser processado e condenado a pagar uma pesada indemnização às vítimas e ainda obrigado a apresentar um pedido de desculpas à nação.
No tocando a Chiquinho, lembra que em 2020, quando o navio chegou, o MDSV deu uma conferência de imprensa tendo nessa altura recorrido à opinião do Comandante João Cícero Martins, com 30 anos de mar, que criticou as condições de segurança dessa unidade. Enfatizou que o canal S. Vicente/Santo Antão apresenta ondulação alta quando o vento do Nordeste está forte, o que constitui um perigo para um barco com rampa situada na proa. Isto tendo em conta que esta é a parte do navio que sofre maior desgaste devido ao impacto com as vagas.
Entretanto, prossegue Marino Delgado, o Governo, com a cumplicidade e o silêncio dos deputados do MpD, teimosamente mantém o navio Chiquinho no canal entre São Vicente/Porto Novo. “Dizemos teimosamente porque o navio foi fortemente contestado pelos deputados do PAICV e da UCID, logo de início, e pelos próprios operadores, através de exposições dirigidas ao Governo”, relembra esse activista, acentuando que a teimosia do poder e outros interesses têm estado a prevalecer sobre a segurança dos que viajam no navio Chiquinho.