O docente universitário Guilherme Mascarenhas lamentou a fraca presença de jovens na marcha promovida ontem à tardinha na cidade do Mindelo em defesa da enseada de coral da praia da Lajinha. Para esse membro da organização, esse facto demonstra que a educação ambiental anda a falhar nas escolas. Além disso, realça, é preciso levar em conta que a sociedade cabo-verdiana não está também habituada a participar nesse tipo de causas.
“No estrangeiro são as crianças e os jovens que estão a travar a luta em prol do ambiente. Verificamos entretanto uma fraca presença de jovens nesta marcha, o que quer dizer que a nossa educação para o ambiente precisa ser melhorada. As escolas deveriam estar cá em peso”, considera Mascarenhas, que estimou a presença de mil pessoas nessa manifestação. “Este número é aceitável”, diz.
Na verdade, o número de pessoas presentes nesse evento foi muito menos. A marcha – apoiada por grupos cívicos, entre os quais o movimento Sokols 2017 – arrancou da Lajinha com alguns minutos de atraso e desceu a Marginal em direcção à praceta Dom Luiz com palavras de ordem apontadas especialmente à Câmara de S. Vicente e ao ministério da Economia Marítima, entidades às quais atribuem especial responsabilidade pelos alegados danos causados à vida marinha dessa pequena baía. Aliás, o grupo fez questão de parar alguns instantes em frente ao ministério, na Avenida Marginal, em sinal de protesto. É que, segundo Guilherme Mascarenhas, apesar de a obra pertencer à Câmara de S. Vicente, há que culpar outras instituições, entre as quais a Enapor, o ministério da Economia Marítima, a Direcção-Geral do Ambiente e o próprio Primeiro-ministro.
Questionado sobre a posição dos ambientalistas em relação à proposta técnica de desvio das tubagens de drenagem pluvial da enseada para a ponta do esporão, apresentada recentemente pelo ministério da Economia Marítima, Mascarenhas voltou a frisar que, para o grupo, isso não passa de uma medida de distração do Governo. Esse projecto, realça, é como o anterior pelo simples facto de não apresentar estudos importantes, como o de impacto ambiental. “Nada nos garante que vai resolver o problema e, entretanto, querem gastar cinquenta mil contos. Não podemos continuar a fazer experiências na enseada”, salienta esse professor da Universidade de Cabo Verde.
Segundo o emigrante João Fortes, assim que chegou a S. Vicente vindo da França soube da marcha e decidiu logo participar. Como explica, hoje em dia a Europa e outras partes do mundo estão a tentar salvar e proteger cada pedacinho de coral. Só que Cabo Verde, diz, não está a querer seguir essa tendência. “Na Europa levam estudantes e cientistas para ver e proteger a vida marinha, mas isso não é copiado aqui em Cabo Verde, quando o nosso Governo passa a vida a copiar o que se faz por esse mundo a fora”, critica Fortes, lembrando que a protecção da enseada vai trazer vantagens para as gerações futuras.
As iniciativas em prol da enseada, sublinha Mascarenhas, têm surtido o seu efeito, tanto assim que quase 8 mil pessoas já assinaram uma petição a apoiar a preservação desse oceanário natural. Este garante que o grupo de apoio, que tem efectuado mergulhos e colocado tema na agenda sóciopolítica, vai continuar a sua luta, mas não soube precisar qual será a próxima iniciativa.
KzB