Mais de uma centena de moradores exigem demolição de construção em Monte Sossego 

Mais de uma centena de moradores empunhando cartazes com dizeres como “Monte Sossego merece verde, não cimento” e “Parem a ganância, respeitem S. Vicente” se concentrou na manhã deste sábado, 27 de setembro, em frente à uma construção  em Monte Sossego, em um espaço onde antes existiam duas árvores, para exigir a sua demolição. Reivindicam justiça, transparência, respeito para com a comunidade e ao ambiente. 

Em declarações à imprensa, após algumas intervenções de moradores sobre as suas motivações para a contestação, o porta-voz António “Tonga” Delgado explicou que a pretensão dos promotores com esta manifestação é exigir justiça e respeito para com a comunidade e o ambiente. E acredita que vão conseguir. “Acredito que iremos conseguir os nossos objetivos. Estão aqui muitas pessoas que, de certeza, estão disponíveis para continuar a lutar. São Vicente e Cabo Verde precisam tornar-se mais verdes e, uma forma de se conseguir isso, é plantar árvores. Mas a primeira coisa que o presidente da CMSV ordenou, neste caso, foi derrubar duas árvores para servir aos interesses de uns e outros.”

Questiona também a autorização para a remoção da calçada em um espaço consolidado há cerca de 40 anos, ou seja, muito antes do presidente chegar à Câmara de S. Vicente. “Por isso somos contra. Monte Sossego é uma das zonas mais bem organizadas da ilha. Não queremos uma comunidade desordenada. Este pode ser o início para muitas outras coisas e os moradores vão sofrer as consequências. Os cantos que este novo edifício está a criar, não há dúvidas que serão futuros urinóis,” exemplifica     

Tonga cita ainda o desalinhamento do edifício em relação aos restantes porque teve de ganhar terreno e, caso se mantiver, será o único prédio com varanda no espaço circundante. “Para tentar travar a construção, deslocamos à CMSV com um abaixo-assinado rubricado por 106 moradores, que foi entregue em mãos ao edil, mas até hoje este não se dignou responder, nem mesmo para nos dizer que temos direito de reivindicar mas a obra é legal e tem o meu aval.”

Inconformados, os moradores deslocaram à sede da Polícia Municipal, sem sucesso. Neste caso, afirma, a situação é ainda mais grave porque assumiram que a fiscalização é uma das suas atribuições, mas não podem atuar por ‘ordens superiores’. “Isso é estranho. Mas, se fosse uma casa que estava a ser construída nas ribeiras, como disse o presidente, já estaria demolida. Repito, o espaço nunca foi um lote. Foi inventado pelo presidente à medida do construtor. Imagina se a CMSV vier criar lotes à medida? Ou então, se alguém endinheirado resolver ocupar a rotunda à frente do Palácio?”

Para o porta-voz dos moradores, esta pretensão não é descabida, tendo em conta  que, como se sabe, basta fazer uma doação à CMSV para receber benefícios. “Queremos lutar contra tudo isso. Se esta obra for para frente, São Vicente vai estar sufocado de betão. Vamos ter menos espaços verdes, e não aceitamos. É por isso que estamos nesta luta para tentar repor a dignidade desta ilha.”

Neste momento a obra continua a avançar, em grande velocidade, o que para Tonga representa uma tentativa de evitar que seja demolida. Mas este diz estar confiante na justiça e que esta vai despertar São Vicente. “Acredito que este edifício vai ser embargado e demolido”, assegura este interlocutor, que admite ser esta uma luta sem prazo para terminar. Mas não pretendem desistir, inclusive porque há rumores de outros espaços na mira de interesses obscuros. Cita, a título de exemplo, os espaços entre Caravela e Electra, o anexo ao Centro de Saúde de Monte Sossego, o parque de estacionamento nas imediações da Loja Mendes e Mendes, à frente da Praça José Lopes, de entre outros.

Antes sem qualquer identificação, a obra ganhou esta manhã uma placa que revela que a construção é um edifício multiuso – clínica médica e habitação, pertencente a Zé Lopes Imobiliária, arrancou em agosto e tem um prazo de execução de 12 meses. O engenheiro responsável  é Irlando Delgado. 

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