O ex-locutor da RCV Carlos Afonso confessou ontem à tarde no estádio Adérito Sena a sua velha paixão pelo CS Mindelense, mas frisou que nunca deixou transparecer a sua cor clubista quando fazia os relatos de futebol. Numa mensagem ao público presente no recinto para o homenagear pelos 42 anos dados ao desporto, Afonso revelou que na sua casa todo o mundo era Benfica e Mindelense. Isto incluía o pai, a mãe, o cão, os periquitos e canários.
“Às vezes tenho a impressão que, para evitar passar a ideia de estar a defender o Mindelense, o clube fosse prejudicado por alguns dos meus comentários. Na verdade, exigia mais do Mindelense do que das outras equipas”, admitiu Carlos Afonso perante o presidente do CS Mindelense, clube que se associou à homenagem organizada por um grupo de amigos e entregou uma camisola e um troféu a esse locutor desportivo, conhecido pela sua voz potente e domínio da língua portuguesa. Ele que aproveitou o momento para dar um abraço de reconhecimento aos colegas Cardoso da Silva, Gabriel Delgado, Fernando Carrilho e Moisés Évora pelo gesto e fez questão de endereçar um agradecimento à sua esposa pelo apoio que lhe tem dado em particular nos últimos três anos.
Com a voz embargada, Carlos Afonso disse aos presentes no campo de futebol que não sabe se merece ou não a homenagem. Enfatizou, no entanto, que tem a certeza de ter dado o seu máximo para fazer a melhor comunicação com os rádio-ouvintes e assegurar a isenção possível nos relatos. Ele que começou a sua carreira exactamente no velho estádio da Fontinha, onde, aos 18 anos, fez o seu primeiro relato acompanhado do falecido Djosa Sena.
Apesar do pouco público presente no Adérito Sena, Cardoso da Silva mostrou-se grato e satisfeito com a qualidade do espectáculo preparado para homenagear o amigo, colega e locutor de excelência. “Esperávamos mais público, mas isso é de menos importância. Tínhamos de fazer a festa, ela aconteceu e vamos regressar a casa de consciência perfeitamente tranquila. Quem esteve cá viu um bom espectáculo, perdeu quem não veio”, considerou Cardoso da Silva, que se considera um felizardo por ter tido a oportunidade de conviver com um profissional do calibre de Carlos Afonso, comentarista do futebol com o qual, diz, tinha uma grande cumplicidade. Como reconhece nutrem a mesma paixão pelo futebol e bastava um olhar para passarem a “bola” entre si nos relatos.
Para Daniel Jesus, presidente do CS Mindelense, Carlos Afonso foi alvo de uma “justa homenagem”. E, parafraseando um amigo, frisou que o reconhecimento público deve acontecer em vida, tal como foi o caso. “Há algum tempo tive a oportunidade de levar a equipa do Mindelense para uma visita ao Carlos Afonso e isso despertou bons sentimentos. Agradecemos este gesto porque ele deu a vida à comunicação social, ao desporto, muito em particular ao futebol”, frisou Daniel Jesus, que enalteceu ainda o facto de essa homenagem calhar com o centenário do Mindelense, a conquista de mais um título nacional pelo clube e terem escolhido colocar as faixas de campeões durante esse evento.
De uma forma geral, todas as modalidades, inclusive as de salão, associaram-se à homenagem. Para ontem foi reservado, entretanto, um conjunto de actividades que envolveram exibições de acrobacia, karaté, desfile dos mandingas, kola sanjon, coreografia pelas alunas do clube Mindelgina e, a finalizar, um jogo entre o Mindelense e a selecção de S. Vicente. A partida terminou com um empate a uma bola.
Kim-Zé Brito