Líder comunitário e familiares de jovem da Ribeira d’ Vinha em prisão preventiva revoltados com a PN: “Ele não é criminoso, é toxicodependente” 

Um líder comunitário e os familiares do jovem de 23 anos, detido em cumprimento de um mandado emitido pela Procuradoria da Comarca da República e enviado para a cadeia de Ribeirinha por alegados crimes de furto e roubo, estão revoltados com a decisão da Polícia Nacional de tornar este assunto público, através de um comunicado. É que, afirmam, eles próprios é que foram entregar o indivíduo na esquadra, após mais de um ano a tentarem um internamento devido a problemas com drogas e que o levam a praticar tais atos. “Ele é toxicodependente, não é um criminoso”, desabafam. 

Ao Mindelinsite, o responsável da comunidade de Ribeira d’ Vinha explicou que sentiu que tinha o dever cívico de ajudar a família do malogrado, que é constituída por pessoas de bem – integradas na comunidade e respeitosas – por conta do sofrimento que esta enfrenta há vários anos. “São uma família de bem, um dos irmãos está nas Forças Armadas, um outro é professor de Artes Marciais, um terceiro é capoeirista. O jovem tem ainda um outro irmão que trabalha na Igreja e a mãe é cozinheira. Já o jovem, é um rapaz que vi crescer e que fazia de tudo. Entrou para o mundo da droga aos 18 anos, mas passou a consumir mais depois que foi pai e teve alguns problemas no relacionamento com a sua companheira”, relata esta fonte.  

Da “padjinha” evoluiu para drogas mais pesadas e, para alimentar o vício, começou a furtar e a roubar. “Chegou a ser preso uma vez, mas na altura já estava a pedir tratamento. Os irmão tentaram ajudar, sem sucesso. Foi enviado para a cadeia sem tratamento, mas, quando saiu, começou a frequentar um grupo de apoio na Ribeira Bote e a ter acompanhamento de psicólogos. Infelizmente não seguiu o tratamento. Este comportamento afecta ainda mais a família, que está completamente destroçada: a mãe doente e os irmãos a passar vergonha por causa dos furtos e roubos,” detalha. 

Perante este cenário, o líder comunitário decidiu ajudar e levou o jovem ao Centro Terapêutico da Ribeira d’Vinha, mas infelizmente recusaram o seu internamento por falta de condições. “Alegaram que, para o internamento, precisam submeter o paciente a uma série de exames e um espaço em condições. Argumentei que, se ficasse na rua, poderia ser morto porque está a ser ameaçado devido aos roubos e furtos de que é acusado e pedi um voto de confiança ao jovem, que estava comigo no meu carro. Fui aconselhado a levar o indivíduo ao Banco de Urgência do HBS para ser internado na Psiquiatria.”

De imediato, prossegue, deslocaram-se ao hospital, onde o indivíduo foi visto primeiro por um enfermeiro e depois por um médico, mas, depois de horas, mandaram o jovem para casa. Inconformado, este responsável procurou a Diretora Clínica do Hospital e explicou que, se fosse liberado, a responsabilidade seria da instituição. “Nada fizeram. Então decidi procurar a psicóloga que acompanha na Ribeira Bote, mas alegaram que não tinham condições de fazer o isolamento. Foi nesta altura que tanto eu como a mãe sentimo-nos abandonados. No dia seguinte, contactei um vizinho que é polícia e este nos aconselhou a ir ao Tribunal solicitar um mandado de detenção junto da Procuradoria.” 

Entretanto, no dia anterior, este responsável alega que teve um encontro com o Comandante da PN e este entrou em contacto com o Delegado de Saúde. Explicou-lhe a situação do jovem e pediu-lhe uma solução, mas o delegado afirmou que, para o internamento, era preciso seguir os procedimentos, ou seja, realizar uma bateria de exames. “Imagina a situação em que um jovem toxicodependente ameaça a segurança de toda uma comunidade e a sua, mesmo assim tem de continuar na rua por causa de um exame? É grave. Aliás, o próprio Comandante da PN ficou estupefacto com a resposta”, constatou.  

O mais caricato, diz a mesma fonte, é que, enquanto estavam nos expedientes tendo em vista a sua internação, o jovem esteve sempre com eles e, quando foram para casa, foi trancado por familiares em um quarto. Entretanto, no mesmo dia, foi-lhe atribuída a autoria de mais um furto numa residência na zona. “Isso nos mostra que outras pessoas podem estar a cometer crimes e a responsabilizar o jovem,” acusa, realçando que, no mesmo dia, foi procurado pela PN, com a informação de que já tinha na sua posse o mandato de detenção. “Eu mesmo levei o jovem à esquadra e ele foi enviado para Ribeirinha.”

A expectativa do líder comunitário era de que o jovem fosse internado. Mesmo assim, considera que a prisão acabou por ser “uma luz” porque poderá ser acompanhado até o julgamento, onde poderão provar que ele é toxicodependente e será então encaminhado para a Comunidade Terapêutica. Por isso, entende este responsável que o comunicado da PN está distorcida porque deixa entender que o jovem foi capturado e que não é doente. “Penso que o seu direito à saúde foi ignorado. E dificilmente poderemos provar no tribunal que ele precisa de tratamento e não de cuidados médicos.” 

Já a mãe está inconformada com a forma como o filho está a ser tratado pelas autoridades policiais. Igual sentimento têm neste momento os irmãos, que lembram que há mais de três anos estavam a pedir ajuda, sem sucesso, o que poderia ter evitado toda esta situação. 

Foi no dia 2 de abril que a PN anunciou a detenção de um indivíduo de 23 anos, indiciado por prática de vários crimes de furto e roubo em residências e em propriedades agrícolas na localidade de Ribeira d´Vinha, no cumprimento de um mandado de detenção fora de flagrante delito. Revelava ainda que, após ser ouvido pelo tribunal, foi-lhe aplicado a medida de coação de prisão preventiva.

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