Iniciativa de Balta Andrade: Grafites coloridos transformam bloco de garagens em atracção, em Monte Sossego

Um grupo de artistas mindelenses transformou um bloco de garagens da Câmara de S. Vicente em Monte Sossego numa nova atração turística da cidade do Mindelo. O local, que antes era até evitado por ficar numa zona escura e em aparente estado de abandono, agora passou a ser visitado por curiosos para apreciarem as grafites coloridas nas paredes e usarem essas obras como pano de fundo para fotografias e vídeos.

A ideia pertence ao ex-emigrante Baltasar Andrade, morador no prédio 2000, vizinho às garagens. Há 19 anos que ele e a esposa conviviam com a imagem “degradante” do espaço, que era usado como urinário pelos transeuntes. “Prometi fazer algo, mas, entretanto, sofri um acidente e tive de esperar pela minha recuperação. O momento era este e deitei mãos à obra”, conta Balta.

Num primeiro instante, este mentor contactou algumas empresas, mas nenhuma se mostrou disposta a ajudar. Deste modo decidiu assumir sozinho o desafio, pois prometeu embelezar esse local a qualquer custo. Conseguida a autorização da Câmara de S. Vicente e o apoio fundamental das tintas Neuce, Balta, como é conhecido, contactou o pintor Amílcar “Cacau” Cruz, que aceitou à primeira participar com a sua equipa. Assim, ele e mais quatro colegas da empresa Pigmentos prepararam durante uma semana as paredes e entregaram a cada grupo de artistas a sua “tela”. “Entramos em contacto com artistas como o Sniper, Blade, a escola M_EIA, pessoal da UniArte, etc., num total de 18 artistas e embelezamos isto com estes desenhos fantásticos”, explica Cacau. Cada grupo de pintores, prossegue, desenvolveu a sua ideia mediante um tema. A ideia foi usar a arte urbana para iluminar e valorizar as paredes e ao mesmo tempo lançar mensagens positivas como a preservação do ambiente.

Segundo o mecânico Fernando Pires, usuário de uma das garagens, as pinturas despertaram uma energia positiva nesse espaço que, diz, precisava de um outro cuidado. “Os desenhos ficaram top. Vieram valorizar este local. Se antes as pessoas evitavam andar por estas bandas, hoje vemos muita gente apreciando estas obras e até a fazer vídeo clipes”, comenta Fernando, que espera também ganhar mais clientes à “custa” dessa iniciativa.

O resultado, reconhece Balta Andrade, ultrapassou as suas expectativas. Para ele, o mérito deve ser atribuído ao grupo de artistas, jovens, na sua maioria, que trabalharam muitas vezes das 8 da manhã às duas horas da madrugada. Uma dedicação que impressionou esse ex-emigrante, que, entretanto, assumiu alguns encargos, como oferecer-lhes comida e algum dinheiro para uma “voltinha”. Nada que pagasse o verdadeiro custo de todas essas obras.

Como comprova Cacau, esse trabalho é fruto da união dos artistas. Para ele, a receptividade das pessoas tem sido compensatória. “Dão-nos os parabéns, oferecem-nos bolos, frutas e sandes. Para nós isto é um estímulo”, reconhece esse jovem pintor, para quem esse projecto poderia facilmente ser repetido noutras localidades, sem grandes custos.

O sonho de Baltasar Andrade é, aliás, estender essa iniciativa a outros recantos da ilha de S. Vicente, com o desejado envolvimento da Câmara de S. Vicente. As pinturas serão inauguradas provavelmente este Sábado num ambiente de amizade, com música e um prato de catxupa.

Kim-Zé Brito

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