Gugú, o sapateiro da Pracinha d’Igreja

Há pelo menos 40 anos que o sapateiro Gugú toma o rumo da Pracinha d’Igreja religiosamente todos os dias da semana, logo de manhãzinha. Tem de chegar às sete horas em ponto à casa dos familiares de Djandjan para receber as suas ferramentas e cumpre esse compromisso com a precisão de um relógio suiço.

“Tenho muita gratidão pela família de Djandjan porque durante todos estes anos aceitaram guardar os meus instrumentos de trabalho com a condição de os receber pontualmente às sete horas. E durante todo este tempo cumpri a minha palavra”, comenta Carlos Duarte, 56 anos de idade.

Gugú, como é conhecido, diz que é sapateiro desde que se lembra do seu nome. Aos 6 anos de idade já pegava a escova para limpar sapatos. Um pouco mais tarde começou a ir aos quartéis engraxar as botas dos militares portugueses. Uma forma de ganhar algo para poder comer.

Com a separação dos pais, passou literalmente a viver na rua. Limpar sapatos foi a única saída para sobreviver. Com o tempo, agarrou a profissão com toda a alma e passou a trabalhar na “banca” construída pelo malogrado edil Onésimo Silveira mesmo à porta da Câmara de S. Vicente.

“Quando Onésimo Silveira decidiu construir este espaço pediu, como condição, que soubéssemos respeitar este local de trabalho e o facto de estarmos mesmo em frente à Câmara”, recorda. Foi nos idos anos oitenta e Gugú lembra-se que eram oito sapateiros. Hoje são quatro, sinal de que a profissão poderá estar a desaparecer em S. Vicente, na sua análise.

Trabalhar ao ar livre à porta da CMSV

Questionado se passou os seus conhecimentos aos filhos, Gugú responde que sempre trabalhou para lhes dar a possibilidade de estudarem e obterem um diploma, e não seguirem pela estrada que conduziu a sua vida. E dois deles, diz, já concluíram a universidade.

Com a sua actividade, Gugú conseguiu, além de custear a formação académica dos filhos, construir a sua casa. Tudo isso, diz, foi alcançado com esforço e respeito pela profissão. Até hoje chega às sete horas ao local de trabalho e sai às 18 horas, dependendo do movimento.

“O meu sonho era emigrar, mas não foi possível. Vou ser sapateiro enquanto houver força e chegar à idade da reforma”, assume Gugú, que teve o cuidado de se inscrever no INPS e passar a descontar para a reforma.

Se antes as pessoas procuravam a banca mais para engraxar os sapatos, hoje solicitam fundamentalmente o serviço de conserto. Clientes que adquirem produtos nas lojas chinesas, mas que procuram o sapateiro para reforçar a resistência dos calçados.

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