Do Gana para S. Vicente: Mohamed ganha a vida como sapateiro

Mohamed vive em Cabo Verde, mais precisamente na ilha de São Vicente, a cerca de 15 anos e trabalha como sapateiro a 10 anos. Natural do Gana, onde nasceu há 50 anos, Mohamed tem três filhos. Este garante que, não obstante as dificuldades, é com a reparação dos sapatos dos mindelenses que ganha o sustento da família.

Este sapateiro conta ao Mindelinsite que o que ganha como sapateiro é insuficiente para garantir uma vida desafogada à sua família. Lamenta sobretudo não ter uma clientela fixa, que lhe daria alguma estabilidade. Felizmente, sempre aparecem novos clientes em busca dos seus serviços, diz Mohamed, que se destaca por sua alegria e simpatia. 

A única coisa que lhe tira o sorriso do rosto é a dificuldade em conseguir a residência em Cabo Verde. “Nós os africanos, somos condicionados em Cabo Verde. Vim para aqui em busca de uma cidade melhor. Trabalhamos para garantir o nosso sustento mas, infelizmente, as autoridades demoram em nos atribuir a residência. No meu caso, estou aqui há mais de 10 anos e ainda continua à espera”, desabafa. 

Para Mohamed, as autoridades cabo-verdianas precisam entender que optaram por fixar residência no país por alguma razão. No seu caso, foi a busca de uma vida melhor. Mas, infelizmente, alguns dos problemas do Gana o seguiram para Cabo Verde. “Em muitas coisas, a realidade do meu país é idêntica a de Cabo Verde.”

Cita, a titulo do exemplo, as similaridades dos sujeitos políticos que, frisa, andam a enganar o povo. “Ficam cada vez mais ricos. Vivem com as suas famílias em boas casas, têm bons carros e os filhos frequentam boas escolas tanto no país como no estrangeiros. No Parlamento sequer falam da situação dos pobres”, avalia. 

No Gana, diz, ganhava 150 dólares mensais para o sustento da família, montante que insuficiente para garantir o mínimo, que dizer da escola dos três filhos. Tudo isso porque, afirma, os lideres dos países africanos são corruptos, escondem a verdade e enganam-se mutuamente. “Penso que os países africanos deviam unir-se, pode ser através da União Africana. Podem ter uma moeda única, como os americanos. Assim ficaríamos mais fortes. Se não unirmos, os nossos problemas vão perpetuar-se.” 

Conformado, Mohamed vai fazendo a vida em São Vicente, onde fez muitos amigos, a maioria na zona da Ribeira Bote, onde montou a sua banca de trabalho. Por enquanto, não pensa voltar para o Gana, salvo se a situação mudar e conseguir um emprego estável para sustentar a família. 

Lidiane Sales (Estagiária)

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