Faleceu Zeferine Cid, o comerciante que vendia do “parafuso sem rosca” ao pião

Zeferine Cid, o comerciante cuja loja vendia “todo” o tipo de peças, faleceu esta madrugada no hospital de S. Vicente vítima de doença prolongada. Natural da Ribeira Grande de Santo Antão, de onde viajou para S. Vicente na companhia da mãe, este conhecido empresário passou os últimos meses adoentado e acabou por morrer após alguns dias de internamento.

“S. Vicente perde um empresário como poucos. Era um homem que se preocupava com os seus clientes e com todos aqueles que estavam à sua volta. Ele tinha faro para o negócio, tanto assim que era possível encontrarmos de tudo, mas de tudo, na sua loja”, frisa Manuel Lima, amigo que conheceu o malogrado aos 14 anos de idade, quando veio de Santo Antão para a cidade do Mindelo. “Sempre nos demos bem porque ele era um verdadeiro amigo.”

Natal Neves é outra pessoa que sente o desaparecimento físico desse velho amigo, um vizinho chegado. Para ele, Zeferine era a “tábua de salvação” para quem precisava de pequenos utensílios e peças de toda a gama que eram praticamente impossíveis de serem encontrados noutros lugares. “Ele safava muita gente e acredito que o mercado vai sentir a sua ausência.”

Para Elvis Santos, funcionário da loja desde 1999, muito dificilmente aparecerá outro comerciante com o faro e a dedicação de Zeferine Cid, em S. Vicente. “Ele se esforçava para ter de tudo. Quando não havia um produto ele ía à procura até satisfazer a necessidade do cliente”, elucida esse trabalhador, para quem era fácil trabalhar com o sr. Zeferine.

A forma como esse sexagenário tratava os compradores era algo que impressionava a própria filha. Segundo Natalina Cid, o seu pai não se importava de acordar às duas da madrugada para atender alguém. E isso era algo que costumava acontecer por diversas vezes, principalmente por altura das festas do Carnaval, festival da Baía das Gatas e S. Silvestre. “Ele acordava e ía todo feliz saber o que as pessoas queriam”, recorda a moça, que faz questão de esclarecer que o seu pai não teve qualquer tipo de contencioso com a Casa Gaspar, loja onde começou a trabalhar ainda adolescente, como muita gente chegou a pensar. Como conta, houve uma altura em que Zeferine quis sair e fê-lo sem nenhuma crise. “Tanto assim que ele abriu o seu espaço e continuou a colaborar com o sr. Gaspar, pessoa que era uma espécie de pai para ele”, esclarece a jovem.

Na verdade, Zeferine Cid começou a construir o seu nome no mercado mindelense a partir da Casa Gaspar, antiga loja localizada junto à igreja e que comercializava todos os tipos de peças e objectos. Aliás, Zeferine é capaz de ter importado esse modelo de negócio e gestão para o seu empreendimento. O seu espaço era procurado por mecânicos, carpinteiros, costureiras, pedreiros, pescadores, mas também por aqueles que apreciavam um “bom grogue”.

“Quando começou, tinha várias garrafas de grogue d’mote expostas na vitrine. Os clientes chegavam e pediam um ‘parafuso sem rosca’. Isso dava-me graça porque era assim que se referiam ao grogue”, lembra Natalina Cid.

O funeral desse fidje d’Sintanton está marcado para quinta-feira à tarde.

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