Faleceu no hospital de S. Vicente a produtora e comunicadora Samira Pereira, proprietária da empresa de imagem e assessoria de imprensa O2 Media Office. Esta activista sociocultural, conhecida em praticamente todas as ilhas de Cabo Verde, contraiu o vírus da Covid-19 há cerca de 10 dias e, devido ao seu estado de saúde, teve que ser internada. Ontem à noite, 21 de agosto, vários amigos foram pegos de surpresa com a notícia da sua morte.
“Assim que recebi esta triste notícia, o meu primeiro pensamento foi para o seu filho menor. Eu e a Samira estávamos ligados a vários projectos e ela era a produtora de um evento cultural de grande impacto para a ilha de S. Vicente, que pretendíamos lançar em breve”, reage o artista plástico João Brito, mais conhecido por Boss.
Para este carnavalesco, S. Vicente e Cabo Verde perdem uma excelente profissional, que possuía um conhecimento extraordinário sobre a cultura cabo-verdiana e uma capacidade oratória ímpar. A seu ver, será muito difícil aparecer outra Samira Pereira nos próximos tempos em Cabo Verde.
João Branco também considera que o falecimento dessa “agitadora cultural” vai deixar um vazio difícil de ser preenchido. “Estamos todos desolados, tristes, chocados com o desaparecimento físico da Samira Pereira, uma grande amiga, um pilar fundamental de toda a estrutura cultural em Cabo Verde, particularmente em S. Vicente, onde a sua atividade profissional era mais assídua”, considera o actor teatral e fundador do festival Mindelact, que descreve a malograda como uma mulher lutadora e generosa, que abraçava as causas da cultura com paixão e raro profissionalismo.
De certa forma, acrescenta Branco, pode-se dizer que a amiga Samira Pereira foi pioneira no que diz respeito à assessoria de imprensa ligada aos grandes eventos culturais. Recorda que Samira Pereira trabalhou com a organização do Mindelact em várias edições e ligou o seu nome a outros importantes eventos culturais como o Mindel Summer Jazz e AME, este último na cidade da Praia.
Quem também ficou sem chão com o falecimento de Samira Pereira foi o ministro da Cultura. Num post na sua página no Facebook, Abrãao Vicente lamenta a partida da amiga Sams, como era tratada pelos mais chegados. “Dói muito Samira Pereira… tão longos foram os dias, Lisboa, Praia, Mindelo, todas as ilhas… tantos sonhos e tantas partilhas… aprendemos juntos na militância pela arte e pela cultura… hoje partes sem muitas palavras, sem nenhum cerimonial, sem nenhum texto escrito pelo teu punho onde nos descreverias com minúcia literária os teus dias de luta contra esta doença maldita…”, desabafa Abrãao Vicente, que tinha a esperança de receber um texto de Samira, dizendo apenas “venci”. Uma mensagem que nunca chegou, mas o governante assegura que ele e outros vão cuidar de tudo aquilo que essa intelectual deixou em silêncio.
Samira Pereira era um rosto familiar dos jornalistas de todos os órgãos de comunicação social em Cabo Verde, em particular na ilha de S. Vicente, onde residia. Enquanto proprietária da O2 prestava assessoria a vários eventos, na sua maioria de carácter cultural, tendo trabalhado com a Liga do Carnaval de S. Vicente e o festival gastronómico Kavala Fresk. A sua última prestação de serviço foi por altura da inauguração do Mansa Floating Hub, o estúdio flutuante construído nas águas calmas da Baía do Porto Grande e inaugurado no dia 15 de Agosto.
Samira Pereira encabeçou também o “Ponto de Fuga”, grupo activista criado em S. Vicente e que organizou uma manifestação contra o centralismo político, administrativo e económico na cidade da Praia por altura do último Governo do PAICV.