Estudo sobre maior sonho dos jovens em S. Vicente e a emigração será hoje apresentado na FaED

Qual o maior sonho dos jovens residentes na ilha de S. Vicente? Esta questão foi colocada a mil inquiridos num estudo realizado pelo Peace Research Institute Oslo, cujo resultado será divulgado hoje à tarde pelo investigador norueguês Jørgen Carling na Faculdade de Educação e Desporto da Uni-CV. A pergunta foi respondida pela mesma quantidade de jovens das cidades de Tema (Gana) e Serekunda (Gâmbia), ou seja, o inquérito abrangeu três países africanos com níveis diferentes de desenvolvimento económico, sendo Cabo Verde considerado o mais próspero.

Na cidade do Mindelo, adianta nota enviada à redação do Mindelinsite pela FaED, a maioria dos jovens foi sintética na resposta: “Saí dess terra!”. Outros deram uma resposta mais elaborada do tipo: “Fazé nha lugar pam trubaiá pa konta própria pam da nhas fidje um futur ambjor.

O que mais chama a atenção, segundo informações contidas na nota, é que a maioria das pessoas sonha com aspetos básicos da vida — coisas que talvez devessem ser uma realidade e não um sonho: ter um emprego, uma casa e dar uma boa educação aos filhos. Os dados indicam que um em cada cinco jovens em São Vicente sonha em ter a sua própria casa. “Também é notável que tantas pessoas sonhem em ‘ter um emprego’ ou talvez ‘um bom emprego’, mas raramente em exercer uma profissão”, enfatiza.

Homens e mulheres têm sonhos muito semelhantes em S. Vicente. No entanto, o mais comum entre as mulheres é poder sustentar os filhos; já os homens pensam mais em como ajudar a mãe.

O grupo inquirido foi também confrontado com a sua posição quando à emigração. Neste quesito, diz a nota, há muitas formas de medir o desejo de procurar a vida fora de C. Verde. “Muitos poucos jovens estão completamente desinteressados na migração e muito poucos estão totalmente focados em encontrar uma forma de emigrar; a maioria situa-se algures entre os dois extremos”, mostram os dados. Mais uma vez, revela o comunicado à imprensa, a situação é surpreendentemente semelhante entre homens e mulheres. Porém, o desejo de emigrar é ligeiramente mais forte entre os homens. As diferenças no apego aos filhos entre homens e mulheres parecem ser uma parte importante da explicação.

O inquérito mostrou semelhanças entre os homens e mulheres que moram em S. Vicente em muitos aspectos em termos de nível de vida e de satisfação com a vida. As diferenças, conforme a nota, são pequenas, mas tendem a favorecer os homens. “Há, no entanto, uma diferença marcante na convivialidade e no apego social, por exemplo em relação ao bairro, e a maior diferença surge na parentalidade: as jovens mulheres têm muito mais probabilidade de ter filhos e de viver com eles.”

Contrastes e semelhanças com o continente

O estudo, desenvolvido no âmbito do projeto FUMI (Future Migration as Present Fact), sobre as vidas e os sonhos de jovens na Gâmbia (o país mais pobre), Gana (nível médio) e C. Verde (o mais próspero), acabou por evidenciar as diferenças de desenvolvimento no seio da juventude. “Por exemplo, os jovens em São Vicente têm menos probabilidade de passar fome, estão ligeiramente mais propensos a ter um emprego e, em geral, sentem-se mais satisfeitos com a vida”, contextualiza a nota. Apesar desta vantagem, prossegue, os jovens mindelenses são, em certos aspectos, menos propensos a investir no seu próprio futuro. Tendem mais a viver um dia de cada vez do que a fazer planos para o amanhã.

Quando lhes foi pedido que imaginassem receber uma quantia de dinheiro, a maioria dos jovens na Gâmbia e no Gana disse que a utilizaria para criar ou ampliar um negócio. Em São Vicente, esta resposta foi muito menos comum. Pelo contrário, os jovens cabo-verdianos mostraram-se mais inclinados a gastar o montante em necessidades básicas”, compara.

É notável, como mostra o estudo, que os sonhos dos jovens em Cabo Verde também tendam a ser mais modestos, sobretudo em comparação com os do Gana. O espírito de “humildade” em Cabo Verde, conforme indica o inquérito, assemelha-se em certos aspetos aos valores islâmicos da Gâmbia. “Isto recorda-nos que os maiores contrastes na região nem sempre se encontram entre Cabo Verde e o continente”, conclui o estudo.

Os dados serão apresentados com mais detalhes num encontro no FaED, na cidade do Mindelo, a partir das 15 horas. Conforme o programa, o professor-investigador Jørgen Carling fará primeiro uma apresentação sobre o projecto FUMI para depois expor os resultados do quesito Mulheres e homens face à emigração, que serão comentados pela docente Celeste Fortes.

O professor norueguês fará depois a apresentação dos resultados no tocante à questão Sonhos dos jovens em S. Vicente, que serão analisados por Revan Almeida. Já o aspecto referente aos Contraste e semelhanças com o continente será avaliado pelo economista Paulino Dias.

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