Enxurrada em S. Vicente: Dezenas de voluntários, na sua maioria jovens, limpam a praia da Lajinha

Dezenas de voluntários, na sua maioria jovens, estão a limpar Lajinha para evitar que o mar desta praia citadina fique mais poluído após a chuva torrencial caída na madrugada desta segunda-feira. Munidos com pás, rodos e bolsas de lixo, criaram pequenos grupos para retirar gravetos e entulhos carregados pela enxurrada, numa resposta que está a gerar um enorme sentimento de orgulho.

Para Soraia Rocha, 22 anos, ver a mobilização dos jovens nesta campanha é algo incrível. “Muitas vezes somos acusados de querermos só festas, mas estamos a ver um enorme empenho dos jovens no combate às consequências desta crise. Cada um tentando ajudar à sua maneira”, comenta. Moradora em Madeiralzim, diz que a sua zona ficou totalmente destruída. Várias pessoas, relata, perderam bens, as casas e estradas foram afectadas. “É preciso ajudarmos, seja oferecendo uma peça de roupa, um pouco de comida ou guarida.”

Marcelo David, 22 anos, também exprimiu o orgulho de ver esse “juntá mon”, um gesto de solidariedade para tentar proteger o bem-comum, que é a praia da Lajinha. “O que aconteceu foi inesperada para a maioria da população, muitas pessoas perderam até familiares, o que é muito triste. Acho que precisamos aprender com o que se passou e tentar minimizar outros impactos desta envergadura”, adverte Marcelo.

Para o colega Patrique Lopes, 26 anos, os cabo-verdianos estão a mostrar uma capacidade de reação digno de se louvar. E salienta que os jovens estão a dar um grande exemplo. “Vivo em Alto Solarino, onde o impacto da chuva foi catastrófico. Houve problemas com a rede de água, cabos de electricidade, as pessoas perderam casas e outros bens, enfim um quadro caótico”, conta, acrescentando que a situação foi pior junto ao Monte Gude devido a força das enxurradas nas casas nas encostas.

Residente em Chã de Alecrim, Rafael Lopes manifestou o seu orgulho em ver tanta gente reunida na limpeza da Lajinha. Aliás, diz que esta onda solidária está a ser sentida um pouco por toda a parte. “Como se costuma dizer, não há mal que não venha para o bem. E estamos a ver que, afinal, somos um povo unido.”

Soraia Santos, 44 anos, acredita que dentro de pouco tempo a ilha de S. Vicente estará melhor. “Vamos poder reverter tudo isto, tenho a plena certeza”, exclama esta mãe, que levou os dois filhos e um afilhado para ajudarem a limpar a praia. Para esta cidadã, a tempestade trouxe uma lição muito clara: com a natureza não se brinca. Acrescenta que ficou claro o perigo das construções nas ribeiras, ou linhas de escoamento natural de águas, e nas encostas.

“Quem tem poder nas mãos deve ter isto em atenção. Há coisas que fogem ao nosso controlo, mas há outras que estão ao nosso alcance. Acho que houve casos de construções mal localizadas ou mal projectadas que ajudaram a intensificar os danos”, considera.

A situação social vivida em S. Vicente devido ao temporal deixou triste a angolana Sister Tomás, da Igreja Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Hoje resolveu juntar-se aos voluntários para limpar a praia da Lajinha porque, diz, é preciso saber tratar o ambiente. Esta jovem acredita que S. Vicente vai conseguir dar a volta por cima graças a esta enorme onda de solidariedade da nação cabo-verdiana.

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