Com apenas 7 anos de idade, Maria Marilyn, residente na Ribeirinha, Zona X, decidiu arregaçar as mangas, criar um cofre e pedir donativos aos amigos mais velhos, em prol de um dos projetos da Organização das Mulheres de Cabo Verde em S. Vicente. Com o valor de quase três mil escudos recolhidos, a jovem fez a entrega na instituição, já com orientação de onde e como empregar o dinheiro: a compra de um bolo para as crianças do jardim Arco-Iris, da Bela Vista.
De acordo com a mãe Janilce Tavares, a iniciativa foi da filha, que no início recusou créditos pelo acto. “Fiz uma caixinha e meu filho ajudou-me a forrá-la com papel de prendas, logo Maria teve a ideia e disse-me que queria ir ter com os amigos adultos, com os quais costuma conviver e pedir a cada um uma moeda. O valor seria entregue à OMCV. Sublinhou que não sabia se todas as crianças poderiam ter um bolo, por isso queria que o valor fosse destinado à compra de um bolo para o jardim social”, conta a mãe da criança.
A atitude de Maria Marilyn parece ter sido inspirada na mãe, que já possui um histórico de iniciativas solidárias desde criança e em prol da OMCV, desde que chegou a São Vicente. “Em casa, ando sempre à procura de uma forma de ajudar a OMCV, porque já fiz parte dos beneficiários da organização, no social e psicologicamente. Quando cheguei da Praia, há quatro anos, tirando o meu marido, não conhecia ninguém, não tinha família aqui, a OMCV abraçou-me e Fátima Balbina, a delegada, acolheu-me como se fosse uma filha”, assegura Janilce.
A partir do contacto com a instituição conseguiu bagagens para procurar e encontrar trabalho, depois de ter realizado na instituição os cursos de informática e de cozinha. Mesmo vivendo num bairro carenciado da Ribeirinha, Zona X, e proveniente de uma família sem muitos recursos, a criança conseguiu pensar no próximo.
“Trabalhei seis meses numa empresa aqui, estava grávida, optei por ficar em casa a cuidar do meu bebé, depois que nasceu e mesmo assim a OMCV continuou a apoiar-me, dando-me a oportunidade de fazer um bazar todas a sextas feiras, com produtos que minha mãe me envia da Praia. Assim, sempre consigo vender e a quantia já ajuda em casa”, garante.
A mãe Janilce conseguiu transmitir esta ligação com a OMCV à filha, que já conhece a dinâmica do espaço e os valores defendidos. “Sempre vem comigo, conhece as formações, conhece as minhas vendas; às vezes trago-a apenas para cumprimentar a ‘dona’ Fátima, por isso penso que o amor que tem pelo espaço que a motivou.”
Para a delegada da instituição em São Vicente, a atitude da criança foi maior do que qualquer valor que pudesse conter a caixa e transmitiu-lhe esperança no futuro. “É a certeza de que a solidariedade tem futuro, vendo o gesto desta criança que faz parte de uma geração mais atual. Fiquei muito emocionada com a ação, que deixei escapar algumas lágrimas”, expõe Fátima Balbina.
O “espírito solidário” de Marilyn parece que terá continuidade, uma vez que já transmitiu à mãe o desejo de no próximo ano fazer o mesmo gesto, abrindo mão até do presente que tanto deseja.
“Este ano recebeu um piano do pai, um presente que pediu e prometi-lhe que no próximo ano, se continuar com as boas notas que tem, que o pai lhe irá oferecer uma bicicleta. Respondeu-me logo que não queria bicicleta, pois queria repetir a ideia da caixinha de recolha de moedas para oferecer às crianças do seu antigo jardim Bom Pastor”, finaliza, orgulhosa, Janilce Tavares.
Sidneia Newton