Fartos de ficar em casa e a receber um salário parcelado de 6.800 escudos, os trabalhadores da Atunlo decidiram fazer uma concentração hoje de manhã para pressionar a administração da fábrica a retomar as actividades laborais e, ao mesmo tempo, criticar a actuação do Governo neste processo. Os funcionários completaram no dia 23 de setembro sete meses de inatividade e, segundo Itaulina Dias, vivem momentos de enorme vulnerabilidade e de uma incerteza angustiante. “Imagine a situação de um trabalhador que antes ganhava entre 25 a 30 mil escudos mensais e passar quase oito meses recebendo 6.862 escudos, ainda com atrasos e de forma parcelada”, ilustra.
Para esta porta-voz, os sinais mostram claramente que a Atunlo não está em condições de reabrir as portas. Relembra que a empresa assegurou inicialmente que a suspensão seria de apenas 4 meses, mas que, entretanto, duplicou o prazo com dois pedidos sucessivos de prolongamento do lay-out e que foram aceites. “Queremos voltar a trabalhar, mas eu não acredito nisso tendo em conta a falta de comunicação da empresa com os trabalhadores e o facto de alegar que o encerramento se deveu apenas à escassez de matéria-prima, quando nem consegue pagar metade do salário mínimo para assegurar a mão-de-obra”, considera Itaulina Dias.
Para esta funcionária da Atunlo com mais de 5 anos de serviço, a situação dos trabalhadores é culpa exclusiva da incompetência dos governantes cabo-verdianos em resolver os problemas da classe trabalhadora. Ilustra essa incapacidade com a quantidade de greves e manifestações levadas a cabo por profissionais de diversos sectores em C. Verde, incluindo a própria Atunlo.
Por sua vez, Maria Évora considera uma falta de respeito a forma como a empresa tem tratado os funcionários. Relembra que são pessoas adultas, com responsabilidades assumidas, e que se encontram manietadas faz 7 meses. Como explica, caso decidam assinar contrato com outra empresa perdem o direito aos anos de serviço prestado, cenário que coloca o pessoal entre a espada e a parede. “Ficar em casa sem fazer nada é angustiante e o pior é que não podemos procurar outro emprego para não perdermos os direitos conquistados”, reclama.
A manifestação foi acertada entre 200 dos mais de 300 funcionários que continuam ligados à Atunlo. A iniciativa foi tomada sem o envolvimento dos sindicatos, nomeadamente do Siacsa, organização que tem dado a cara nesta matéria. Tudo indica que essa decisão esteja relacionada com a aceitação dos sucessivos pedidos de prolongamento do período de suspensão dos trabalhados pela Atunlo nos encontros com a Direção-Geral do Trabalho.
Resumidamente, os funcionários querem voltar a trabalhar e sem perda de mais tempo. Caso isso não seja possível, exigem um posicionamento claro da Atunlo para poderem dar um outro rumo à sua vida profissional.