Os praienses preferiram ficar em casa em vez de acudirem ao apelo dos sindicatos para manifestarem a sua contestação na rua a medidas do Governo que têm afectado a estabilidade laboral em Cabo Verde. Este ano, apenas cerca de 80 pessoas decidiram percorrer parte da Avenida Cidade de Lisboa munidas de cartazes para assinalarem o 1. de Maio, dia internacional dos trabalhadores.
A fraca adesão desapontou claramente a organização porque, para os presidentes do Sindep e Siscap, há motivos de sobra para a classe trabalhadora sair à rua, nomeadamente na Capital. “A presença não foi a esperada, mas valorizamos os que vieram”, assume Eliseu Tavares. Este dirigente sindical lembra que a inflação atingiu os 15% desde 2022 – enquanto os aumentos ficaram muito longe -, a taxa de desemprego na camada jovem é desanimadora – ao ponto de os jovens estarem decididos a emigrar -, falta cobertura de previdência social, proliferam contratos precários e há desrespeito do poder político até por decisões judicias.
“Desde 2016, o Governo assumiu o compromisso de reduzir os impostos 1% ao ano, mas o que verificamos é o contrário”, continua a enumerar o sindicalista do Siscap, que lamenta ainda a decisão do Executivo de aumentar a idade da reforma das mulhares para 65 anos com a “falsa desculpa”, segundo esta fonte, de poderem beneficiar de uma melhor pensão.
Dois motivos fortes foram apontados pelos representantes do Siscap e Sindep para essa fraquíssima adesão dos praienses à manifestação: festas e medo de represálias. Segundo Eliseu Tavares, é preciso reconhecer que há represálias para quem ouse protestar. Afiança que o próprio Estado voltou a impedir um pequeno grupo de trabalhadores de percorrer a Avenida Cidade de Lisboa para evitar que se concentrem em frente ao Palácio do Governo. E, para garantir a eficácia desse bloqueio, prossegue, mandou mobilizar um número significativo de agentes da Polícia Nacional.
“Apesar de haver várias razões para os trabalhadores saírem à rua, muita gente preferiu ser atraída para festas organizadas com o claro objectivo de gerar a desmobilização. Não é normal termos uma juventude desapontada, que só pensa em emigrar, mas que não dá a cara numa manifestação, preferindo ir divertir-se em locais como Tira-Chapéu e Achada S. Filipe, ou então procurar esses locais para obter um pouco de comida e até bebidas”, realça, por seu lado, Jorge Cardoso. Para ele, não é normal o que se passa. Por isso mesmo acha que o trabalho dos sindicatos é para continuar.
As critícas foram também direcionadas às centrais sindicais UNTC-CS e CCSL, que não estiveram presentes no acto. Para o presidente do Siscap, essas duas organizações é que deveriam comandar essa ação com o apoio dos sindicatos.