Um cartaz colocado num poste na Praça Nova com uma lista de terrenos à venda na ilha de S. Vicente com os respectivos preços suscitou uma reacção de Alcides Graça, que considerou essa iniciativa uma prova da “corrupção” montada no Gabinete Técnico Municipal da autarquia mindelense. Numa publicação no Facebook, o presidente da comissão política regional do PAICV realça que já tinha denunciado a venda de terrenos em S. Vicente por indivíduos bem identificados e devidamente documentados, detentores da planta de localização de vários lotes e com relações privilegiadas dentro do “sistema de corrupção” montado nesta municipalidade. “Mas nunca pensei que o nível de descaramento e o sentimento de impunidade chegasse ao ponto de colocarem terrenos à venda em cartazes colocados na rua, neste caso num poste de iluminação pública na Praça Nova (perto do BCA para quem quiser ver para acreditar). Recordo que o Presidente da Câmara Municipal é o responsável pelo Pelouro do Urbanismo, ou seja, é ele que executa a política municipal para o loteamento e venda de terrenos municipais. Se ele não é conivente com esta situação, significa que desconhece o que se passa dentro do Gabinete Técnico Municipal, o que, a ser verdade, é muito grave”, escreveu Alcides Graça esta manhã, em jeito de denúncia.
Este afirma ainda que, no dia em que entrar uma nova equipa na Câmara de S. Vicente, certamente haverá uma auditoria externa aos negócios dos terrenos municipais e que muitas pessoas, algumas delas bem colocadas na Administração Municipal, não ficarão bem na fotografia. “(…) e a Polícia Judiciária, querendo, terá muito trabalho.”
Tendo como ponto de partida essa “denúncia”, o Mindelinsite entrou em contacto com o número do telemóvel disponibilizado e foi atendido pelo cidadão Hélio Lima, que assumiu ser o autor do cartaz. Segundo este arquitecto de profissão, há algum tempo que tem vindo a servir de intermediário na venda de terreno de pessoas privadas, algo que nada tem a ver com supostas negociatas com a Câmara de S. Vicente. Este critica a tentativa do presidente regional do PAICV em associar o caso a um esquema de corrupção e assegura que jamais iria compactuar com algo do género, tendo em conta a sua ética pessoal e a da profissão de arquitecto que exerce.
“Sou arquitecto e faço parte de um grupo que quer tentar a sorte na área da imobiliária. Pretendemos conseguir alguns recursos com a comissão da venda dos terrenos para criarmos a nossa própria empresa. Nada de anormal ou ilegal”, frisa Hélio Lima, para quem há um desnorte social que leva muitas pessoas a reagirem a mensagens sem reflectir ou porque elas vão ao encontro daquilo em que acreditam.
Desde 2007, diz Lima, que negoceia a venda de terrenos de outrém. Estabelece a ponte entre o vendedor e o potencial comprador e recebe uma comissão sobre o valor da transação. Este assegura que tudo é feito de forma transparente, envolvendo os serviços administrativos apropriados, pelo que há o natural pagamento de impostos. Segundo Hélio Lima, o facto de colocar o número do seu telemóvel é prova que não tem nada a esconder.
O cartaz identifica um total de 25 lotes em localidades como Chã de Alecrim, Monte Sossego, Ribeirinha, Horta Seca, Ribeira Julião e Lazareto, cujos preços variam dos 800 contos aos 500 mil contos.
Kim-Zé Brito