A falta de ligação da FAED ao esgoto municipal persiste por resistência da CMSV em autorizar rasgo de 4 metros no asfalto, revela A. Martins

O vice-Presidente da FAED reforçou hoje o alerta do risco para a saúde pública associado a constante acumulação de águas negras na cave da faculdade e sublinhou que esse problema persiste devido a resistência do presidente da Câmara de S. Vicente em autorizar um rasgo de apenas 4 metros no asfalto para a ligação do prédio à rede pública de esgoto. A acontecer, esse seria, na sua perspectiva, a solução ideal e mais rápida para normalizar o uso da água canalizada no prédio construído em 2017 e que actualmente recebe perto de 600 pessoas por dia.

“É incompreensível como uma instituição pública de elevada grandeza, como é a Câmara de S. Vicente, age de forma tão desprezível para com outra instituição pública, neste caso a UniCV, perante um problema de tamanha gravidade, uma ameaça eminente à saúde pública nesta cidade do Mindelo”, desabafou o responsável da faculdade em nota distribuída durante mais uma conferência de imprensa sobre essa polémica, divulgada pelo líder da bancada do PAICV na assembleia municipal.

Nas declarações aos jornalistas, fica claro que, na perspectiva da FAED, o entrave à resolução desse imbróglio encontra-se na pessoa do autarca Augusto Neves, que simplesmente tem negado permitir o corte do asfalto nessa avenida. “O que temos escutado do vereador José Carlos é que o presidente Augusto Neves não quer saber de obras que obrigam a mexer no asfalto e que só ele, o presidente, é que as pode autorizar”, diz Martins. Para a FAED, trata-se de uma atitude de excesso de autoridade e de prepotência, pois alega que a conservação da estética rodoviária não pode sobrepor-se a um valor maior, que é a saúde pública.

Informações recolhidas pela Faculdade junto da empresa fiscalizadora da obra indicam que a CMSV negou desde o primeiro instante permitir a ligação do prédio à rede pública de esgotos com os mesmos argumentos: evitar rasgos no asfalto da avenida Alberto Leite. Deste modo, diz Albertino Martins, os construtores tiveram que ligar a faculdade à fossa séptica usada desde 1960 pelo edifício contíguo do Cortiço. Acontece, porém, que a fossa já não consegue absorver a água dos dois prédios, ainda mais tendo em conta o aumento do número de alunos da Faculdade de Educação e Desporto, que tem neste momento 400 estudantes.

Em consequência, volta a sublinhar, as águas negras passaram a escapar para a cave do edifício, onde ficam acumuladas provocando mau odor e se transformam em fontes de mosquitos. Uma situação sanitária que, diz, tem afectado os alunos, funcionários da escola e a vizinhança, como o Bispo Ildo Fortes. Além disso, lembra que os mosquitos são vectores de transmissão de doenças como a dengue e o paludismo, que preocupam as autoridades da Saúde.

Aliás, o caso, assegura João Almeida, Pro-reitor da UniCV, será exposto ao próprio ministro da Saúde, Jorge Figueiredo, que vai estar em S. Vicente a encerrar um curso ligado à área no ex-Liceu Velho. No dia 14, acrescenta, a Universidade vai mostrar ao governante a situação e pedir-lhe para levar o assunto ao conhecimento do Conselho de Ministros. “Vamos fazer isso porque este é um problema de saúde pública, e não da FAED ou da UniCV”, desabafa Almeida, que, conforme diz, tem tentado manter o contacto com a autarquia para se sentarem à mesa, mas sem sucesso. Deixa claro que essa questão precisa ser resolvida antes do retorno dos alunos às aulas.

O Pro-reitor nega redondamente que a FAED tenha cometido um acto de desobediência civil ao decidir, “em desespero de causa”, autorizar os trabalhos de ligação do edifício ao esgoto público, sem a competente licença. Esse acto, explica, visou solucionar um problema grave no qual a CMSV está necessariamente implicada enquanto instituição que deve zelar pela saúde da população. Acontece, no entanto, que a CMSV acabou por agir e aplicar uma coima de mil contos à FAED, um caso que está a ser analisado pelo gabinete jurídico da Universidade de Cabo Verde.

Segundo Almeida, não deixa de ser paradoxal essa fonte de reprodução de mosquitos esteja justamente numa escola pública onde funciona um curso de Enfermagem e numa faculdade de Educação que tem um papel pedagógico a cumprir. Este docente deixa claro, por isso, que não pretendem criar uma confrontação com a CMSV, mas sim encontrar uma solução em prol da imagem institucional e da saúde de centenas de pessoas ligadas à escola e residentes nos arredores.

Conforme Almeida, o director do Serviço de Património da Universidade de Cabo Verde, engenheiro de profissão, chegou a deslocar-se a Mindelo e fez um plano hidrossanitário para a ligação do edifício ao esgoto. E assegura que desde a primeira hora todas essas informações foram repassadas à Câmara Municipal de São Vicente.

Acontece, conforme já divulgado, que a CMSV pretende realizar a ligação junto a rotunda da Lajinha, mas numa caixa destinada a águas pluviais, o que, segundo Almeida, não vai resolver o problema. A solução mais viável, e menos custosa, como enfatiza, é usar uma caixa a escassos 4 metros do prédio, despesa que a UniCV está disponível a assumir. Só que esta solução parece não agradar ao edil Augusto Neves porque, como foi revelado, vai implicar fazer um rasgo no asfalto.

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