Abel Almada
A praia da Laginha, localizada na avenida marginal, entre a Eléctrica (Central Eléctrica e Dessalinizadora da Matiota) e o Terminal de Contentores do Porto Grande, ficou destruída, com as chuvas do dia 11 de agosto que fustigaram a Ilha de São Vicente, durante uma boa parte da noite de domingo. Consequentemente, grandes quantidades de areia extraídas do mar, através de dragagem por bomba de sucção, feito por bombeamento submerso, nela depositadas, foram levadas pelas enxurradas para o mar, deixando, em seu lugar, enormes crateras.
Recorda-se que a praia da Matiota, também conhecida por Step, uma das mais belas praias de São Vicente, com uma vastidão de beleza natural, foi destruída com a construção da Cabnave – Estaleiros Navais de Cabo Verde. Isto nos anos 70, após a Independência de Cabo Verde, celebrada a 5 de Julho de 1975. Desde então, a praia da Laginha passou a ser muito frequentada por banhistas, sobretudo na época de verão. Esta praia, que antes tinha uma invejável areia preta e fina, não era pequena e oferecia segurança para a prática balnear. Infelizmente, sobre ela foram despejadas avultadas quantidades de metros cúbicos de areia grossa, sendo de má qualidade, extraídas do fundo do mar. Isto ocorreu em 2017.
Uma praia que outrora pouco ou nada sofria danos naturais, quando chovia, hoje vê-se completamente ameaçada, sempre que chove. Por conseguinte, a Câmara Municipal de São Vicente, infelizmente, arcará com os custos com a reabilitação desta praia.
Com a natureza nâo se brinca!
Vejamos um extrato que eu escrevi, em um dos meus livros, também por publicar, sobre a praia da Laginha.
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No entanto é de destacar que em 2017 esta praia sofreu intervenção humana, não obstante a chamada de atenção dos mindelenses, dos partidos políticos, em particular a UCID (União Cabo-verdiana Independente e Democrática), um grupo de professores universirários, constituído pela bióloga Corrine Almeida e o engenheiro Gilherme Mascarenhas, ambos do ISECMAR- Uni-CV, nomeadamente denunciando a destruiçâo de tartaruga e as espécies marinhas, como corais, bem como o movimento social – Sokols 2017, que também se manisfestaram, categoricante, contra as autoridades governamentais e municipais locais para a necessidade da preservação e protecção do ecossistema da praia da Laginha, devido aos impactos ambientais negativos causados pela sua expansão.
De realçar que eles não foram ouvidos nem achados, tendo a sua areia negra e fina desaparecida completamente, por nela ter sido despejadas mais de 100 mil metros cúbicos de areia grossa, extraída do fundo do mar, aquando da construção do Terminal de contentores, localizado atrás do Porto Grande. Há quem diga que isso não é areia nem mesmo nada parecido.
Enquanto isso, recorda-se que os surfistas com as suas pranchas deslizavam sobre as ondas do mar que quebravam junto à praia em cuja beira-mar havia pequenas pedrinhas essencialmente pretas, onde os banhistas, antes de deixarem a praia, ficavam de pé, esperando o seu corpo secar, enquanto outros preferiam encher uma garrafinha com água do mar para, posteriormente, lavar os pés, antes de calçar os chinelos; das crianças a brincar, cavando buracos na areia, por onde a água do mar entrava, ou, simplesmente, fazendo montinhos de areia para se divertirem; dos banhistas que faziam concursos de bonecos de areia molhada, outros cavando buracos na areia onde ficavam com o corpo soterrado, deixando apenas a cabeça de fora, outros jogando a bola.
E mais: para curtir o dia ensolarado, nada melhor do que o uso de uma máscara de mergulho para contemplar, nas suas águas limpas e claras, uma quantidade das mais variadas espécies de peixes nativos, as estrelas-do-mar, os corais, entre tantos outros. Pena que essa praia muito procurada pelas tartarugas para a desova, que normalmente acontece em Junho, deixando de a sulcar para procurar outros destinos para a reproduçâo da espécie.