“Willy, rest in power” é a mensagem gravada na escultura dedicada à memória de Willy Duarte Monteiro, inaugurada no dia 7 de Dezembro, no parque Comunal de Paliano, hoje Parque “Willy Monteiro”. Estiveram presentes a família Duarte Monteiro, os presidentes da Camara de Paliano Domenico Alfieri, e de Colleferro Pierluigi Sanna, o Viceprefetto di Frosinone Giovanni Luigi Bombagi, a conselheira da Região Lazio Sara Battisti, a Ministra Plenipotenciária da Embaixada de Cabo Verde Alice Santos, a Conselheira da Presidência Marilena Rocha, a presidente da Tabankaonlus Maria Gomes, a comunidade cabo-verdiana, cidadãos de Paliano e cidades vizinhas.
Por: Maria de Lourdes Jesus
As palavras proferidas pelo Presidente do Conselho Comunal de Paliano, Serena Montesanti, no dia da cerimónia, são reveladoras do tamanho empenho deste Município na preservação da memória de Willy.
“O evento, para a inauguração da escultura, foi organizado não para recordar a trágica morte de Willy, que continua a ser uma ferida aberta para toda a nossa comunidade, mas para celebrar a vida, através
do exemplo que este jovem soube encarnar e os valores que transmitiu a todos nós: coragem, altruísmo, a importância da amizade, o respeito para o próximo e o desejo da justiça”.
Resumo do caso Willy Monteiro
Já passaram três anos e dois meses do brutal assassinato de Willy Duarte Monteiro. Willy era primeiro filho de Lucia Duarte e Armando Monteiro, ambos da ilha de S. Nicolau, emigrantes em Itália desde os
anos ’80. Os leitores de Mindelinsite já conhecem essa tragédia consumida na noite de 6 de Setembro de 2020, na cidadela de Colleferro cerca de 55 km de Roma.
Nessa noite, Willy caminhava com alguns amigos em direção do seu carro, quando notou (no outro lado da estrada) Zurma, seu amigo e ex-companheiro de escola, numa discussão. Willy não pensou duas vezes e foi socorrer o amigo. Tentou acalmar o amigo. A situação estava quase resolvida quando a banda pediu o apoio aos irmãos Bianchi, que logo chegaram mais outros dois companheiros, intencionados a dar prova de quem comanda a zona. Estes eram conhecidos em toda a localidade, segundo o jornal “La Republica”, pela briga fácil e agressão violenta, sobretudo contra imigrantes ou sujeitos marginalizados pela inferioridade numérica.
Todos os quatro “monstros” atacaram Willy com extrema violência, sobretudo os irmãos Bianchi, atingindo o corpo da vítima em diversas partes vitais, sem que ninguém interviesse para por fim ao massacre que estava a ser cometido: 55 minutos foi o tempo de espancamento que pós fim à
vida de Willy aos 21 anos.
Processo
No dia 4 de Julho de 2022 inicia o processo no tribunal de primeiro nível. Os juízes da Corte d’Assise de Frosinone condenaram à prisão perpetua os dois irmãos Gabriele e Marco Bianchi e os dois cúmplices: 23 anos a Francesco Belleggia e 21 anos a Mario Pincarelli.
No dia 12 de Julho 2023, no processo de segundo nível, a condenação dois irmãos Bianchi passa da prisão perpétua a uma redução de pena a 24 anos dos cadeia, mantendo a mesma condena de 23 e 21 anos respetivamente a Mario Pincarelli e Francesco Belleggia. Aguardamos agora a data do terceiro nível de Apelo, na Corte de Cassazione, para a sentença definitiva.
Reação da família Duarte Monteiro
A forma como a família Duarte Monteiro reagiu ao massacro de Willy surpreendeu e impressionou todos nós, pela postura serena e digna.
Quando no dia 12 de Julho 2023, o juiz da Corte d’Appello pronunciou a condena de 24 anos, salvando os dois irmãos Bianchi da prisão perpétua, a Lucia Duarte, mãe de Willy, respondeu assim aos jornalistas: “Mais ou menos já estava à espera dessa sentença. Não guardo rancor. Conseguimos obter a justiça. Aceitamos a decisão dos juízes. Nenhuma sentença vai trazer o meu filho de volta.”
Em relação ao perdão aos assassinos, ela disse: “Perdão é outra coisa. Perdão exige arrependimento, que ainda não vi”. A força da Lucia e da família de Willy vem sem dúvida das raízes profundas duma família de S. Nicolau, católica praticante.
Domenico Alfieri, presidente da Camara de Paliano, cidade onde o malogrado vivia com a sua família, atribuiu um grande significado a escultura, talhada pelo pelo artista Agostinho Russo, dedicado à memória de Willy. Segundo o autarca, esta deixa uma marca indelével no parque Comunal, que foi
agora baptizado com o nome de Willy Duarte Monteiro. “Esta obra representa o seu sorriso, a sua força, a sua generosidade, o seu sentido de amizade, o respeito pelos outros e o sentido de justiça.”
Sobre a sentença proferida pelo tribunal do segundo nível, em que os juízes reduziram a pena de prisão perpétua para 24 anos de prisão pelos irmãos Bianchi, Domenico Alfieri afirmou que “esta não traz de volta o nosso querido Willy, mas podemos dizer que a justiça foi feita. Espero que a sentença seja também uma alerta para muitos outros jovens no futuro.”
Questionado se notou alguma mudança no comportamento da população após o assassinato de Willy, este respondeu: “assistimos a uma comunidade unida e solidária que abraçou a família Duarte Monteiro, numa relação afetiva muito forte. Uma comunidade que sempre esteve presente em todas as nossas iniciativas dedicadas a Willy, manifestando continuamente o carinho, a gratidão, conservando e valorizando o legado de Willy na memória e na história da cidade de Paliano.“
– Na sua opinião, como reagiu a sociedade italiana? E os meios de comunicação? Prestaram a devida atenção? “Acredito que a comunicação social fez uma correta comunicação do acontecimento, prova disso é que o nome de Willy Duarte Monteiro é infelizmente conhecido por muitos, mesmo fora da cidade de Paliano, pela monstruosidade da sua morte. Na verdade, toda a Itália ficou emocionada e abalada com esta história porque Willy é o filho, o irmão, o amigo que todos desejaríamos ter.“
– Uma boa parte da sociedade italiana acredita que o assassinato de Willy não pode ser atribuído ao racismo, mas à pura violência de grupos de jovens. O que acha?
-Eu também acho que motivação não está ligada ao racismo. Willy agiu em defesa do seu amigo e foi agredido por um grupo de rapazes sem escrúpulos, valentões da vizinhança, que para eles Willy era só um jovem mais frágil fisicamente e sobretudo sem defesa. Uma pessoa de quem eles poderiam mostrar, ostentar a própria superioridade física e arrogância através da brutal força muscular.
Na sua opinião, o que deveria ser feito para erradicar a violência que está a propagar na sociedade italiana, especialmente contra os mais vulneráveis?
– Aumentar constantemente a consciência dos jovens para o respeito mútuo e a solidariedade. Trabalhar na educação tanto nas famílias como nas escolas e promover sempre as iniciativas que contribuem para desenvolver a empatia, promovendo a comunicação e o intercâmbio
social, incentivando a aceitação do outro.
-Que relação estabeleceu com a família de Willy?
-A família de Willy distinguiu pela dignidade e compostura incomparáveis. A mãe Lúcia, o pai Armando e filha Milena nunca se arretaram à frente das nossas propostas. Certamente porque acreditam que é’ necessário valorizar a memória de Willy, o seu gesto heroico para que possa permanecer também como uma alerta para todos.
–Já pensou em criar uma geminação com a ilha de S. Nicolau, para fortalecer o vínculo entre os jovens das duas cidades?
– Poderia ser a próxima iniciativa dedicada a Willy. Podemos que trabalhar nisso.
Seria uma ocasião para os saniclauenses, sobretudo os jovens, tomassem conhecimento desse grande herói, cujos pais emigraram de S. Nicolau para Itália. A proposta do presidente da Camara de Paliano faz-me lembrar a promessa feita pela administração de S. Nicolau (logo após o assassinato de Willy) de valorizar a sua memória na nossa ilha que muito deve à emigração para Itália. Seria uma boa ocasião para cumprir a promessa. Nunca é tarde.
Agradeço muito a Domenico Alfiere, Presidente da Camara de Paliano, pelo seu carinho e a pela sua disponibilidade em compartilhar connosco a memória desse nosso jovem filho também de S. Nicolau. Willy Duarte Monteiro é o elo de ligação entre Paliano e a comunidade cabo-verdiana. Unidos para sempre na tragédia e no heroísmo de Willy.
Quero aqui transmitir-lhe a grande consideração e gratidão da minha parte e de toda a comunidade cabo-verdiana pelo seu empenho em enriquecer e preservar a memória de Willy na cidade de Paliano.
“Willy, rest in power” .