Christian Lopes
Preparem-se:
Cabo Verde está prestes a assistir a um dos confrontos políticos mais marcantes da sua história recente. De um lado, Ulisses Correia e Silva, o atual Primeiro-ministro, líder do MpD, rosto da estabilidade e da continuidade governativa. Do outro, Francisco Carvalho, presidente da Câmara Municipal da Praia, voz crítica do sistema atual, candidato do PAICV à liderança do país.
Não se trata apenas de uma disputa eleitoral. É um duelo de visões, um embate entre dois modelos de sociedade, duas formas de pensar, liderar e governar. Este é o encontro marcado de 2026. E nós, eleitores, somos os juízes deste combate.
Round 1: Visão de País
Ulisses acredita num Cabo Verde moderno, bem gerido, com finanças públicas equilibradas, foco no digital e na atração de investimento. A sua governação é pautada pela previsibilidade, pela estabilidade macroeconómica e na confiança dos parceiros internacionais.
Francisco, por outro lado, propõe uma transformação estrutural: o país mais interventivo socialmente. Defende políticas públicas robustas, justiça social, combate às desigualdades e uma maior aproximação do Estado às comunidades. Para ele, o desenvolvimento não pode ser apenas medido por indicadores macroeconómicos, mas sim pelo impacto real na vida das pessoas.
Round 2: Ideologia e Referências
Ulisses vem do campo liberal-moderado. Vê o setor privado como motor de desenvolvimento, aposta na desburocratização e na inovação tecnológica. Acredita que o papel do Estado é criar condições, não necessariamente liderar tudo.
Francisco carrega no ADN político os valores do PAICV histórico: justiça social, solidariedade e Estado forte. Inspira-se no pensamento de Amílcar Cabral, trazendo uma leitura contemporânea do “agir local, pensar nacional”.
Round 3: Estilo de Liderança
Ulisses é o estratega discreto. Governa com o pragmatismo de quem já conhece os corredores do poder. Evita polémicas, prefere a diplomacia à confrontação e confia no tempo e nos números para justificar as suas decisões.
Francisco é mais direto, combativo e emocional. Habituado ao ativismo e ao contacto com o cidadão comum, fala alto quando necessário e não evita o conflito se acreditar que está a defender os excluídos.
Round 4: Juventude e Inclusão
Ambos reconhecem a importância da juventude — mas divergem na abordagem. Ulisses tem promovido incentivos ao empreendedorismo jovem, formação digital e acesso a estágios profissionais, embora críticas persistam quanto à eficácia prática dessas medidas no dia a dia dos jovens mais vulneráveis.
Francisco, com experiência em projetos sociais e investigação sobre juventude urbana, quer mais do que incentivos: quer empoderamento real, voz ativa e representação nas decisões políticas. Vê a juventude como protagonista, não apenas como beneficiária.
Round 5: Da Cidade para o País
Ulisses governa Cabo Verde desde 2016, atravessou crises internas e globais, manteve a máquina do Estado a funcionar com estabilidade e apostou em reformas institucionais discretas, mas consistentes.
Francisco, vindo da maior câmara municipal do país, onde lida diariamente com os desafios urbanos, quer provar que a proximidade e a ação local podem ser a chave para uma governação mais humana e participativa. A Praia é o seu campo de ensaio, mas sonha com a escala nacional.
Epílogo: Continuidade ou Mudança?
O eleitorado cabo-verdiano entra em 2026 perante uma escolha de fundo:
- Ulisses representa a consolidação de um modelo baseado na estabilidade e na gestão prudente.
- Francisco oferece um caminho alternativo, mais centrado na justiça social, na proximidade com o povo, na reconfiguração do papel do Estado.
Ambos têm méritos. Ambos têm falhas.
O que está em causa não é apenas quem vai governar, mas como vamos ser governados. Não será apenas uma eleição. Será um referendo sobre o que Cabo Verde quer ser na próxima década.
O ringue está montado. O relógio já começou a contar.
Cabo Verde vai decidir. E a escolha será histórica.