Sara Tavares, uma estrela na Unesco

Por: David Leite

Lembro-me bem dela na prestigiosa Sala I da UNESCO. Do seu cantar seguro a contrastar com aquele seu ar de menina encabulada a cada ovação do público subjugado pela sua voz cálida. Do alto dos seus 19 anitos, era a primeira vez, disse-me, que actuava no universo cosmopolita da cidade-luz.

E que primeira vez! Foi em 1997, ano em que o serviço cultural da Embaixada de Cabo Verde organizou a sua primeira gala na UNESCO para celebrar a independência nacional. Para tanto fizemos uma parceria com a Lusáfrica, que disponibilizou boa parte dos artistas, pois dificilmente poderia a Embaixada arcar com as despesas de cachê.

Foi assim que nessa calmosa noite de 4 de Julho, grandes vozes de vários horizontes cantaram Cabo Verde na Sala I da UNESCO. Aberto o espectáculo pelo grupo de dança folclórica Mindel Stars, pelo palco passaram Paulino Vieira, Morgadinho, Jorge Sousa, Bau, Mariana Ramos, Nazário, Sara Tavares… e Cesária Évora.

A gala foi um retumbante sucesso graças a estes briosos e abnegados artistas que deram o máximo e o melhor de si para que a nossa música ressoasse na casa-mãe da cultura mundial.

Sara Tavares – Unesco. Foto: Facebook David Leite

Nessa noite, diga-se em abono da verdade, as atenções focalizaram-se na jovem Sara Tavares, uma revelação do concurso “Chuva de Estrelas” da SIC, que vencera três anos antes ao interpretar uma canção de Whitney Houston. Também na UNESCO, a nova revelação galvanizou o público. Rasgados elogios chegaram ao embaixador Rui Figueiredo e a mim, pedindo que a Sara voltasse à Sala I para participar no “Festival mondial de la Jeunesse” no ano seguinte (1998), em representação de Cabo Verde.

Ficou o compromisso e lançámos o convite. Porém, tal não foi possível por alegados impedimentos de agenda, no dizer da sua manager que, ao telefone, me atirou com esta frase: – “Representar Cabo Verde? Mas a Sara é portuguesa!”

Não me parece oportuno, ou sequer necessário, dizer o que respondi a essa pessoa! O importante é que Cabo Verde marcou presença no certame pois o Paulino Vieira e a Lura (também ela nascida em Portugal) responderam ao nosso convite. Uma dupla de sucesso – palmas!

Com o tempo se confirmaria em Portugal como em Cabo Verde, o crescente talento da jovem Sara Tavares, que sempre se reconheceu (também) nas suas origens cabo-verdianas. Pessoa de fina inteligência, sabia que a cultura se engrandece com o selo da universalidade, como ficou provado com a Cesária.

Voa borboleta, fica a saudade que nos deixas cá nas ilhas, que também foram a tua terra, e a nossa eterna gratidão pelo que fizeste por ela.

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