São Vicente destino turístico: A questão do “cassubody” aos turistas

Quando se fala de destino turístico, significa a definição e a implementação de uma série de políticas para valorizar esse mesmo destino. Nisso, há muito por fazer, em São Vicente. Mas vamos todos nós, sociedade civil, participar nessa tarefa de transformar São Vicente num destino turístico! 

Fazer de São Vicente um destino turístico, antes demais, depende do empenho dos mindelenses e de quantos fizeram desta a sua segunda ilha. Para isso, o Movimento para o Desenvolvimento de São Vicente, como primeira tarefa, vem fazendo diligências para organizar um encontro com operadores que lidam no dia-a-dia com os turistas e as dificuldades do sector, para debater ideias, refletir e procurar soluções para os problemas. (Têm de  manifestar essa vontade porque só assim podemos remover montanhas).

De entre os vários problemas que devem merecer a nossa especial atenção, destaca-se a questão da segurança por causa dos assaltos na rua (“cassubody”), que prejudicam São Vicente como destino turístico. Não podemos permitir que esse tipo de delinquência tome conta da ilha.  As zonas de maior interesse turístico devem merecer uma atenção especial da Polícia quanto à segurança, da Electra, quanto à iluminação pública, da Câmara Municipal, quanto à gestão urbanística e da própria população, no sentido de ajudar a proteger o turista, que é a nossa galinha dos ovos de ouro. Se se mata a galinha, fica-se sem os ovos de ouro.

Fatos:

Contou uma dona de uma residencial que um casal de turistas saiu para ir jantar. Sentado na esplanada de um restaurante na rua Cristiano de Sena Barcelos, a senhora colocou a carteira sobre a mesa, com telemóvel, passaporte, cartão de crédito, dinheiro e outros documentos. Um rapazinho espreita a melhor oportunidade, salta para a esplanada, rouba  a carteira e foge. Sem dinheiro, sem documentos e sem contatos, o casal de turista fica desorientado. Regressa para a residencial e a direção faz tudo para dar-lhe a melhor assistência, desde a apresentação da queixa à Polícia, ao cancelamento dos cartões de crédito, ao salvo conduto para o regresso, apoio em alimentação, etc.

Questões que se levantam: Que medidas devem ser tomadas para evitar a presença constante de rapazinhos junto das esplanadas, perturbando os turistas com pedidos de dinheiro, quando não praticam assaltos, e para evitar que persistam no caminho da delinquência?

Contaram-me ainda que duas turistas passaram uma tarde inteira sentadas debaixo de uma acácia, na Rua da Praia, contemplando a Baía, conversando, relaxando a vida, bebendo cerveja. Lá pelo fim da tarde, aproximaram-se dois indivíduos, meteram-se em conversa com elas. Distraindo-as, terão aproveitado para surripiar o telemóvel de uma delas. As turistas cruzaram a rua imediatamente, deram o sinal de alarme, elementos da população acudiram-nas, telefonaram para a polícia, mas, segundo disseram, o telefone tocou, tocou, ninguém atendeu. Então foram à polícia a pé, apresentar a queixa e forneceram todos os elementos que facilitavam a identificação dos presumíveis ladrões. Perguntado aos declarantes: a polícia não vos meteu no carro para ato contínuo, perseguir os presumíveis ladrões? Responderam, não.  

Questões que se levantam: – Por que a polícia não atendeu o telefone? Por que razão não perseguiu, de imediato, os presumíveis ladrões, ex-presidiários, pessoas sobejamente conhecidas na Rua da Praia de Bote? Quero crer que a polícia, metendo as turistas no carro mais as acompanhantes para perseguir os presumíveis ladrões, estava a dar um sinal de zelo profissional e por outro lado as possibilidades de encontrar os presumíveis ladrões  seriam maiores. Assim, uma semana depois do acontecido, o casal de turistas ainda não tinha recuperado o telemóvel.  Fica-nos a dúvida da eficácia da Polícia nesta questão.

Mais estórias para contar

Um guarda da zona marítima revelou que o dono de um iate que visitava esse Porto todos os anos e que estava sempre em terra, porque gostava de paródia, um dia de regresso a bordo apanhou um “cassubody” violento e jurou nunca mais pôr os pés em São Vicente. Já a dona de uma residencial confirma que os seus clientes turistas são vítimas de assalto com muita frequência porque a zona é propícia para esse tipo de situações, a ponto de já ter perdido vários clientes por esse motivo. Um dia, um turista resistiu ao assalto, na luta meteu um pé num buraco, partiu o tornozelo com gravidade, a ponto de vir um avião para evacuá-lo para França.

Um dono de um outro residencial contou-nos também que um dia um turista chegou de tronco nú. Tinha apanhado um “cass body”, conseguiu desenvencilhar-se dos atacantes, mas, eles ficaram com a camisa. De igualmente, um outro confessa que um dia recebeu no seu estabelecimento um turista roubado e espancado por causa de um cassbody que apanhou.

Na mesma linha, o dono de um restaurante na Praia da Laginha disse que nessa zona cassbody, acontece de dia, de noite, a qualquer hora e que a praia precisa de segurança permanente. Enquanto uma proprietária de um residencial indica que o seu estabelecimento tem sido uma grande vítima, por causa  de cassbody, afastam-lhe  clientes, a ponto de  uma empresa  deixar de enviar-lhe hóspedes por causa disso. Diz ela que a situação melhorou ultimamente porque a zona passou a ter uma melhor iluminação pública. Rematou: precisamos ter uma associação para discutirmos os assuntos comuns e ter voz para dialogar com as autoridades.

Para o dono do restaurante na Laginha, o cassbody  é um  crime grave, que não tem merecido a devida atenção dos tribunais porque põe em risco a segurança e a vida das pessoas pelo que  deve  ser duramente penalizado. Talvez por isso, de acordo com uma senhora com quem conversamos, na sua rua há indivíduos que todos os dias, à tardinha, vestem-se bonitinhos e partem para morada para dar cassbody. É a profissão deles.

Para um outro fulano chegou a hora de denunciar esses bandidos ,que prejudicam as pessoas. Diz que todos os proprietários de residenciais e hotéis têm histórias para contar de cass bodys aos hóspedes, de tal modo que se pode afirmar que os meliantes se movimentam  à vontade.

Todos quantos foram contactados são unânimes em que a questão é séria sobretudo quando se fala da promoção de São Vicente como destino turístico. É preciso implementar políticas, envolvendo a polícia, segurança privada e a população, para combater esse fenómeno que compromete, seriamente, São Vicente como destino turísticos.  A população tem que estar fortemente engajada e sensibilizada nesse sentido para colaborar. Esse trabalho tem que ser feito para não perdermos a oportunidade do negócio.

Nós todos temos que ser polícias porque estamos a defender a economia do país, estamos a defender o emprego, os recursos para a saúde, para a educação, para a justiça, para o nosso bem-estar. Ladrão que assalta turistas tem que ser perseguido, denunciado, porque põe em risco a sustentabilidade da economia do país e compromete o futuro das gerações vindouras porque o turismo representa 20% do PBI (produto interno bruto).

Há mais histórias por contar sobre assaltos, mas como o espaço nos jornais é limitado e o artigo já vai longo, ficamos por aí. Passo a palavra aos especialistas.

Nota: Este artigo é dedicado, em primeiro lugar, ao Presidente da Câmara Municipal, e  ao Comandante Regional da Polícia, pelo papel de destaque que lhes está reservado nesse processo,  aos vereadores, eleitos Municipais, e Deputados por São Vicente,  principais responsáveis na gestão do Município e, à Elite local, porque sem uma Sociedade Civil, participativa e vigilante, não há desenvolvimento sustentável de São Vicente.

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