Por: António Santos
A popularidade do Governo em funções tem sempre potencial para influenciar parte da resposta do eleitorado em todas as eleições em que o partido no poder vai a jogo, além – evidentemente, e como é suposto – das legislativas. O estado de graça do executivo nacional também conta alguma coisa nas eleições autárquicas, em que a proximidade e conhecimento dos candidatos em disputa é bem inferior aos das eleições locais.
As eleições autárquicas em Cabo Verde, em que o PAICV ganhou ao MPD sete câmaras municipais, passando a dirigir 15 municípios, veio clarificar, quer se queira quer não, a popularidade do governo de Ulisses Correia que, pelos vistos, “está muito em baixo”.
Nestas eleições, o PAICV ganhou Santa Catarina (ilha de Santiago), assim como a ilha do Maio, a ilha Brava, Ribeira Brava (ilha de São Nicolau), Santa Catarina do Fogo (na ilha com o mesmo nome), Porto Novo (ilha de Santo Antão) e, com diferença de um voto, São Lourenço dos Órgãos (ilha de Santiago).
O presidente do PAICV, Rui Semedo, foi o grande mentor desta vitória estrondosa do PAICV, dando “bofetada de luva branca” a alguns oportunistas e populistas do próprio partido que “rezaram a vários santinhos” para o desaire político de Rui Semedo. Agora, é tempo desses jovens turcos “encolherem as garras” e unirem-se em torno do homem que foi o arquiteto dessa estrondosa vitória autárquica…
O MpD também perdeu devido a sua incompetência e arrogância e, como diz Rui Semedo, estas eleições configuram uma “grande censura ao governo”, manifestando o descontentamento da população em relação ao rumo do país.
Aliás, em conferência de imprensa, o líder do PAICV criticou a “ausência de diálogo, intolerância e falta transparência na gestão da coisa pública” por parte do executivo. Segundo o presidente do partido, além de conquistar “bastiões” do principal adversário, o partido conseguiu melhorar a sua representatividade em praticamente todas as assembleias municipais.
“Com efeito, estes resultados configuram uma grande vitória do PAICV (…) O PAICV inclusive ganhou em municípios considerados bastiões do seu maior adversário político, mudando de forma expressiva o panorama político nacional e demonstrando, claramente, que o poder é do povo e que não há detentores eternos do poder”.
O MpD, como seria de esperar, recusa-se a fazer leituras nacionais dos resultados eleitorais, com o gasto argumento de que isso é menosprezar o poder local e a democracia.
No entanto, apesar de tentar “tapar o sol com uma peneira”, o MpD e o Governo de Ulisses Correia deveriam reconhecer que esta vitória espelha uma nova relação de confiança dos cabo-verdianos com o MpD ao mesmo tempo que evidencia a crescente desconfiança dos cabo-verdianos em quem nos governa.
Na nossa perspetiva, do ponto de vista nacional, este é o sinal mais forte: os cabo-verdianos confiam cada vez mais no PAICV e nas suas propostas e confiam cada vez menos nas políticas do Governo e traduzem o crescente isolamento político e social do partido do Governo e reforçam a necessidade, a possibilidade e a urgência da sua demissão.
E, como disse Rui Semedo na noite eleitoral, os eleitores cabo-verdianos “demonstraram ter uma grande maturidade, participaram com um grande civismo nesta campanha eleitoral, com grande responsabilidade e fizeram as suas escolhas da forma que melhor entenderam e decidiram dar ao país novas maiorias autárquicas com a sua contribuição, com a sua participação”.