A versão oficial portuguesa fala em “descobrimento”, referido na obra “Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460 – 1878) de António Carreira. Já no primeiro volume da “História Geral de Cabo Verde”, um dos autores da parte portuguesa, Luís Albuquerque, fala em achamento e explica as razões da terminologia. Refere a árabes e africanos da costa ocidental como possíveis “descobridores”.
Por: João Henrique Delgado Cruz
Há alguns anos em um Colóquio na China fui apresentado a um Professor chinês especialista nestas questões e lembro-me de ele ter afirmado peremptoriamente, depois de saber que eu era cabo-verdiano, que Cabo Verde foi descoberto pelos chineses e que existem provas documentais que carecem de tradução lusófona. E a tradução de documentos chineses era um dos motivos do Colóquio.
A “Pedra Letrera” em Janela é um enigma histórico interessante e uma das referências na obra polémica de Gavin Menzies “1421 – o Ano em que a China descobriu o Mundo”. Este mistério carece de aproveitamento turístico.
Há tempos o “Expresso das Ilhas” publicou um artigo de opinião sobre as questões despoletadas pela obra.
O livro de Menzies é considerado pela comunidade científica uma obra de ficção. O autor morreu sem apresentar um único documento ou artefacto para apoiar suas reivindicações sobre as supostas expedições navais Ming até a África.
Como estamos prestes a entrar no ano da Serpente, a partir de 29 de janeiro, o ano de 4723 do calendário chinês, convém relembrar as palavras do autor do artigo do Expresso das Ilhas:
“Com os alísios, a aproximação terá sido feita por nordeste, pelo que terão chegado primeiro ao Norte da ilha de Santo Antão. Aqui o autor faz uma exaustiva descrição da ilha e das suas majestosas montanhas. Mas o mais interessante é que ele descreve a sua própria vinda a Santo Antão à procura de alguma pedra inscrita que os descobridores de Cabo Verde, António da Noli, Cà da Mosto e Diogo Afonso encontraram no local, o que o levou ao vale de Janela e à Pedra do Letreiro que ainda hoje está lá.
Menzies conta que, com autorização das autoridades cabo-verdianas, removeu alguns líquenes que cobriam a pedra e descobriu uma caligrafia antiga que nenhum especialista tinha conseguido decifrar ainda. Enviou fotografias para especialistas da China, mas foi da Índia que veio uma resposta afirmativa. Os caracteres são da língua malaiala, hoje em desuso, mas que era a língua usada em Kerala, cuja capital em 1421 era Calecute, o porto de onde a armada chinesa partiu, trazendo a bordo intérpretes treinados na Escola de Línguas de Nanquim, e que falavam cerca de 17 línguas da Ásia e de África.
Dando saltos de contente (como o próprio comenta no livro), o autor sentiu-se encorajado a prosseguir as suas investigações. Procurou nas publicações de especialistas se havia outras pedras semelhantes, tendo descoberto que havia outra no Congo, e noutros locais como Cochim e Calecute na Índia, e perto de Galle no Sri Lanka.
Esse hábito de escrever em pedras bem localizadas era uma forma que os chineses utilizavam para assinalar os locais por onde passavam.
No que nos tange, Cabo Verde e a Pedra do Letreiro estão no centro desta investigação. Não nos cabe nesta crónica tomar partido nesta polémica, tarefa para especialistas. Mas a Pedra do Letreiro pode ser um valioso atractivo turístico, enriquecendo a lista dos produtos turísticos daquela que é, para mim, a mais bonita das ilhas de Cabo Verde.
A Europa e outros continentes vendem-nos como produtos turísticos lendas e mitos, que compramos sem duvidar. Alguém já pediu aos italianos para provarem que Rómulo e Remo, os fundadores de Roma, foram realmente amamentados por uma loba?”
Conta-se aí na Ribeira de Janela que houve uma única pessoa que conseguiu decifrar os dizeres da pedra, mas ele morreu logo de seguida!