Parlamento vai discutir Caótico Estado da Nação

Por: António Santos

Depois de um ano caótico em que teve constantemente a oposição em cima, Ulisses Correia prepara-se para fugir das perguntas embaraçosas da oposição sobre o Estado da Nação, cujo debate está marcado para o dia 31 de julho. Acusado de ignorar problemas estruturais do país, designadamente na educação, saúde, emprego, transportes, Ulisses Correia vai tentar “dar o golpe do baú” e refugiar-se nos ganhos económicos e sociais da sociedade cabo-verdiana, esquecendo que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Apesar dos partidos da oposição, o PAICV e a UCID, apontarem para um declínio do sector da saúde e do sistema educativo ao longo dos anos, fruto de alegadas decisões não planeadas, Ulisses Correia vai tentar desviar as atenções e furtar-se às respostas. Aliás, a aparente estratégia do Governo do MpD é fugir ao confronto com os deputados da oposição, que vão exigir ao Primeiro-ministro responsabilidades porque o “regime” que ele dirige está no poder há 8 anos e o país e o povo precisam de resultados positivos e não desculpas, desculpas, desculpas!…

É inadmissível que o sector da saúde continue a enfrentar vários desafios que podem condicionar a qualidade e a capacidade de resposta do sistema. A leitura é dos partidos da oposição que pedem a aposta em recursos humanos, equipamentos de diagnóstico e infraestruturas de qualidade que respondam às demandas a nível nacional.

“A nossa saúde em Cabo Verde, neste momento, está doente. Falando concretamente de São Vicente, hoje, no Hospital Baptista de Sousa quase que as análises e outras formas de resposta na questão da saúde são quase inoperantes. Neste momento, quase toda a gente, tendo condições financeiras ou não, está a recorrer ao privado pela questão da celeridade, fiabilidade, mas também porque, muitas vezes, não há como fazer no Hospital Baptista de Sousa. Mas também há falta de médicos e enfermeiros. Por exemplo, São Vicente não tem um oftalmologista a trabalhar no hospital; na Pediatria, os médicos já vieram para a comunicação social pedir socorro porque o trabalho é demasiado, não há descanso. A radiografia é a mesma em todo o país”, refere Nilton Silva, do PAICV.

Nas redes sociais já se diz que o país está doente, dando como exemplo o mau trabalho de Fernando Elísio, vice-Presidente do MpD e ministro de Estado, da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social. Em Cabo Verde, esses dois sectores patenteiam o descalabro sistemático e permanente! O primeiro reside cronicamente no escabroso sector dos transportes e o segundo nos sectores sociais que esse senhor tem sob sua tutela direta. Ambos apresentam sempre resultados medíocres!  

Em oito anos no poder, o MpD não vez nada que se veja para combater a pobreza. Pelo contrário, a pobreza e a pobreza extrema aumentaram. A subnutrição grassa nestes bolsões. O que pode dizer destes desaires ao fim dos seus oito anos de gestão? A quem o cidadão deve atribuir as culpas destes desaires quando olha para o (des)Governo a que chegou o nosso país?

Todos neste país constatamos a degradação social que nos assola. A média de uma família na pobreza ou pobreza extrema é de 3/4 adultos e 3/4 crianças. O Estado dá-lhes (5.500,00) uma média de menos de 200 escudos dias!! O governo do MpD sabe mesmo quanto custa um pão em qualquer padaria do país? Um bidon de água? São situações deste tipo que “promovem” o nascimento dos movimentos populistas e põem em causa a democracia.  

“O nível de insatisfação é tal que apenas 14% da população acredita que os políticos respondem às necessidades das populações. É preciso também fazer a interpretação desses dados. Nós estamos a falar dos políticos que executam, fundamentalmente. Nós estamos a falar do sistema que está implantado e é preciso dizer que essa percentagem vem se degradando de 2016 a esta parte. É preciso pôr cobro a isso. E quando se chega a esse ponto, cria-se uma insatisfação na população que abre esse tal espaço para esse tipo de reivindicação e de aparecimento desses populismos. Espero que não venha a acontecer, que haja uma tranquilidade no processo autárquico, governativo e legislativo do país”, entende Adilson Jesus, do PAICV.

Do lado da UCID, Dora Pires lembra que, em muitos países, algumas figuras transformaram a insatisfação em ativo eleitoral. A responsável partidária entende que os partidos políticos e os governantes são peças fundamentais no combate ao populismo.

“Se os populistas trabalharem isso da forma que lhes convém, e apelarem ao voto, isto é perigoso porque podem aparecer como os salvadores da pátria. E às vezes há pessoas que acabam indo atrás e isso poderá trazer consequências graves. Por isso é que quem está na governação e os partidos que estão na oposição têm que trabalhar da melhor forma para que haja credibilidade nos seus trabalhos, mostrando através do seu dia-a-dia, das suas práticas políticas, que estão a trabalhar para melhorar a situação e para ganhar confiança nas pessoas que irão depois dar um voto, mas um voto de confiança”, refere.

O MpD tem uma visão diferente. Benvindo Cruz, diz que o populismo está em queda na Europa e que não há espaço para este fenómeno em Cabo Verde, esquecendo que o populismo surge na sequência de promessas não cumpridas. Como, por exemplo, os tais 45 mil empregos prometidos por Ulisses Correia e que nunca mais surgiram ou a promessa, também não cumprida, de eliminar até 2026 a pobreza extrema, que atinge 13,1% da população cabo-verdiana.  

Isto demostra que, na verdade, tem havido uma falta de estratégia do Governo do MpD no combate efetivo e sustentável à pobreza em Cabo Verde, o que tem resultado no aumento da pobreza global em cerca de 7% em 2023 e aumento da insegurança alimentar, atingindo cerca de 1/3 da população.

Ou seja, o espectro da fome paira sobre muitas famílias e a falta de oportunidade tem provocado a saída em massa de jovens para o exterior deixando as famílias desemparadas e o País sem mão de obra em vários Sectores de atividade.

Sem empregos e sem rendimentos, a solução é partir.

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