Numa espécie de exercício de paternalismo da consciência e identidade coletiva, muitos atores públicos, alguns dos quais cujo palco e representatividade foram pelo povo, temporária e circunscritamente concedidos, tentam moldar, de forma reiterada e cumulativa, as variáveis da equação identitária, cuja igualdade não pode ser menos do que a preservação da diversidade e pluralismo linguístico-cultural de uma nação que se ergueu e se deve consolidar na base das diferenças igualitárias, em que o todo se superioriza à soma das partes.
Por: Areolino Soares Delgado
A passagem pelas urnas, onde as alcunhas se perdem e os Doutores brotam, não confere a ninguém o poder de, vestido o fato de pensador supremo, impingir costumes e ideologias não representativas do sentimento coletivo. A ideologia e identificação cultural não podem ser reféns de posições geográficas, de correntes partidárias ou governativas e muito menos se impõem por Decreto.
A regionalização do poder, fruto da parcialidade geográfica nas opções de liderança governativa, tem tido o ímpeto de promoção iníqua dos pilares em que se assenta a cabo-verdianidade, secundarizando as particularidades que, fruto de suas vivências e interações com o mundo, cada região ou ilha apresenta.
A identidade cultural de um povo é fruto do somatório de todas as suas interações, quer internas, quer com o exterior, sendo este um processo contínuo, cumulativo e isento de barreiras ideológicamente impostas. É o povo que faz a cultura.
Não compreender ou, de forma supremacial, desconsiderar o puzzle da cabo-verdianidade, que se compõe de peças singulares oriundas de todos os cantos do país e que, independentemente da dimensão ou posição geográfica, têm valor igualitário, configura-se numa exclusão de partes e numa imposição paternal de pensamento identitário único e não unificado. É na diversidade linguística e cultural que reside a riqueza e identidade do povo cabo-verdiano.
Da diversidade nascemos, na igualdade da diversidade somos mais fortes.