Por: Américo Medina
“O MpD tem hoje todas as características de uma “nomenclatura política” e os “aparatchik” típicos de sistemas políticos autoritários ou altamente centralizados, onde o poder é mantido por uma elite burocrática e partidária, como forma de perpetuar os interesses econômicos de alguns , o tráfico de influências e o nepotismo desenfreado!“
A preliminary question: não é por não ter ocupação, por ter ódio, ciúmes ou inveja do UCS/OCS, mágoas inconfessáveis ou muito menos porque há uma mão oculta a “financiar-me”! É porque sou pessoa, apenas isso!
O MpD tem hoje todas as características de uma “nomenclatura política” e os “aparatchik” típicos de sistemas políticos autoritários ou altamente centralizados, onde o poder é mantido por uma elite burocrática e partidária, como forma de perpetuar os interesses econômicos de alguns , o tráfico de influências e o nepotismo desenfreado! É assim que assistimos a um reforço nunca visto de um poder político e econômico altamente centralizado em um núcleo restrito de líderes, burocratas, agentes econômicos “aliados”do MpD!
Vejam que as decisões importantes são tomadas em círculos fechados; a ascensão dentro do sistema depende da lealdade pessoal aos líderes, e já se notam tensões internas por causa de bolsas de “resistência”, pois a badalada “ Meritocracia” nas campanhas de 2016 foi substituída por favoritismo e o clientelismo; os mais fiéis e mais leais membros da “nomenclatura” desfrutam de privilégios especiais, como acesso a funções, “missões”, oportunidades e aparente “imunidade” a processos legais.
Qualquer proposta de debate interno sobre mudanças, reformas, inovação é vista como uma ameaça ao sistema, o que só serve para consolidar o status quo, onde uma rede de fofocas é alimentada por todos, via as suas conexões pessoais e redes de confiança que vão criando, via a distribuição de “linguiças” de alto valor acrescentado, onde as intrigas, alianças informais e “jogo de bastidores” são essenciais para cada um consolidar posições!
Alguns já perceberam lá dentro que a sobrevivência no sistema depende de seguir ou não as ordens do topo sem questionar; as disputas internas são resolvidas de forma opaca, geralmente em benefício da estabilidade do grupo no poder.
Os nepotes aqui e acolá vão utilizando os recursos econômicos de república que são distribuídos com base na lealdade ao sistema montado no seu todo e, atos de corrupção e desvios são tolerados desde que aqueles que os praticam ajudem a sustentar sem hesitar o “aparelho”, numa aparente imunidade a processos legais !
Como consequência, são evidentes os sintomas de estagnação a nível geral e recuo nalguns sectores da função pública e sector empresarial do estado, onde se registam uma falta de renovação e ineficiência gritantes, prejudicando o ecossistema económico, a competitividade, e o nível dos serviços devidos à população a vários níveis!
Estamos perante um poder com, um estilo uma governação, um modus operandi “cesarista”adaptado às condições modernas, sem dúvida!
Por mais que se queira tapar o sol com peneira é evidente que o açoite que MPD acaba de apanhar nas eleições autárquicas indiciam uma falta de legitimidade popular conjuntural incontornável! Embora a propaganda para disfarçar a crise, possa manter uma certa ilusão de apoio, a desconexão entre a elite no comando, os membros do partido e o povo tende a crescer, causando evidente e palpável insatisfação generalizada, em todos os sectores e camadas sociais!
É preciso muita vontade endógena, desapego e desambição lá dentro do MPD para que as “inquietações” e “aflição” de alguns se transformem em atitudes e ações concretas para favorecer mudanças significativas no status quo!
O recente resultado eleitoral não é apenas um sinal de descontentamento popular, mas um indicativo claro de que o MPD enfrenta uma irrefragável crise de legitimidade e representatividade. Para superar este cenário, o partido precisará de uma transformação profunda, pautada por uma vontade genuína de renovação. Isso exige o abandono de práticas de favoritismo e clientelismo, o resgate de valores como meritocracia e transparência, além de uma abertura real ao diálogo interno e à inovação.
Estarão os “senadores” e “boys” que beneficiam do “sistema” dispostos a chutar o balde?
Sem esse esforço, o partido corre o risco de se afundar ainda mais em um ciclo de retraimento político (o último foi de 15 anos) e desgaste popular, comprometendo o futuro não apenas do MpD, mas do próprio Cabo Verde. A mudança não pode mais ser adiada, cabe ao partido decidir se irá perpetuar o sistema atual ou promover uma renovação capaz de reconquistar a confiança e o respeito dos cidadãos que jurou servir.