Lembrando a história da UCID


Por: Pedro Soares*

Durante as festividades do quadragésimo quinto aniversário da UCID circulou no Facebook e noutras redes sociais e da autoria do senhor Lídio Silva um artigo no qual ele afirmava que o mentor da fundação da UCID foi o Sr. António Gumercindo Ribas Chantre, em Lisboa. Tal afirmação não corresponde à verdade, é um insulto e uma afronta aos membros e simpatizantes da primeira hora e um atentado à historia da UCID.

A UCID foi fundada em Roterdão no dia 13 de Maio de 1978 e tem um historial que lhe antecede e que é infelizmente pouco conhecida, pelo que vou tentar fazer um resumo dos acontecimentos que antecederam a sua fundação.

Nesse dia histórico 13 de Maio de 1978 em casa do Sr. António Santos, mais conhecido por Toi de Senhorinha, em Roterdão, estiveram presentes na reunião da fundação da UCID as seguintes pessoas: Sérgio Duarte Fonseca, Lídio da Conceição Silva, Manuel Delgado, Orlando Medina, Manuel Alfredo Lima, Miguel Sousa, António Santos, Pedro Soares, António Gumercindo Ribas Chantre, João Wahnon (ausente com motivo justificado) e Albino Fortes (ausente com motivo justificado).

Para refrescar a memória e repor a verdade

Tudo começou em 1975 quando 21 pessoas resolveram fundar uma associação com o nome Grupo Descontente. A ideia da criação deste grupo deve-se ao senhor João Silva, mais conhecido por Djunga de Biluca, na altura representante do PAIGC em Roterdão. O Grupo Descontente tinha, em princípio, como finalidade combater o Governo de Cabo Verde, que seguia uma política condenada pelos trabalhadores cabo-verdianos, como seja entre outras a Reforma Agrária, Unidade com Guiné-Bissau, detenções arbitrárias, torturas, perseguições políticas, assassinatos, etc., etc.

O Grupo Descontente bastante frustrado com o comportamento dos paigcistas durante o processo em causa, e sentindo-se bastante apoiado pela comunidade, muda de nome e no dia 4 de Junho de 1977 passou a ser denominado Sociedade Cultural Cabo-verdiana. Dada a grande simpatia e aceitação que a Sociedade Cultural angariou no seio dos cabo-verdianos, e atendendo que era na altura a única força bem organizada para enfrentar o PAIGC, tal atraiu a atenção de muitas pessoas e em especial dalguns intelectuais cabo-verdianos na diáspora engajados também em combater o sistema de Partido Único em Cabo Verde.

O Grupo Descontente, depois batizado com o nome Sociedade Cultural era formado por simples trabalhadores cabo-verdianos bastante motivados que decidem fundar um partido político. Esses trabalhadores estavam conscientes das suas limitações escolares e políticas para criar um partido político, receberam de braços abertos alguns intelectuais que vinham doutras paragens e que simpatizavam e compartilhavam os mesmos ideais.
É neste contexto que Sérgio Fonseca e António Gumercindo Ribas Chantre vêm de Portugal para a Holanda, da Bélgica viaja Manuel Delgado, dos Estados Unidos chegam John Whanon e Lídio da Conceição Silva, que deram uma grande contribuição para a Fundação da UCID em Roterdão.

Que a UCID foi fundada em Roterdão é uma verdade indiscutível e incontornável. Que o seu mentor intelectual foi o sr. António Gumercindo Ribas Chantre é simplesmente um insulto, uma deturpação e falsificação da história do primeiro partido mais bem organizado que enfrentou o PAIGC. Era preciso muita coragem, um espírito de sacrifício e uma vontade de alterar o rumo da História em Cabo Verde para encarar tamanha tarefa.

A UCID era e foi durante muito tempo um espinho atravessado na garganta do PAIGC e deu sem dúvida uma contribuição inestimável para a consciencialização política dos Cabo-verdianos, não só na Holanda, mas também na diáspora e também até certo ponto em Cabo Verde.

A  UCID construiu os alicerces, lançou as bases do pluralismo político em Cabo Verde. Cabe à UCID, fundada na Holanda e por iniciativa e apoio incondicional de um grupo de simples trabalhadores e intelectuais, a honra de ter colocado o rastilho que fez anos mais tarde explodir os fundamentos da ditadura marxista do Partido Único em Cabo Verde, contribuindo assim para que Cabo Verde seja hoje um País livre, democrático e onde os Direitos Humanos são respeitados.

Lançando um olhar retrospectivo e com um certo orgulho podemos dizer: – Valeu a pena todo esse sacrifício, toda essa luta.
Bem hajam.

*Coordenador, membro fundador da UCID, activista social e político, membro da direção de várias Organizações Culturais em Roterdão.

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