Já fui criança, mas mantenho a esperança!

Por: Nelson Faria

Viver em São Vicente, é, deveras, um privilégio. Uma escolha de vida que muito me faz feliz. Apesar das dificuldades, apesar das desigualdades e problemas sociais, à vista desarmada, das situações menos próprias por que passa a ilha em alguns domínios, procuro cada vez menos identificar culpados por todos conhecidos, é perda de tempo, preferindo focar no que pode ser feito para reverter este cenário. Insisto, ainda é possível ter uma boa qualidade de vida na ilha, para viver e trabalhar.

Mesmo que esta qualidade de vida esteja a ser posta em causa por obras sem consideração do impacto ambiental, pela Electra e sua nova fase de cortes sem respeito para os clientes cumpridores das suas obrigações, pelo mau cheiro nas entradas e entranhas de Mindelo, porque a estrada via Lazareto, vindos do ar, e do Porto Grande, quem vem do mar, é pouco dignificante para a ilha, para não dizer coisa pior. Pela matilha de cães que habita a ilha, quase na mesma proporção dos humanos, com todas as consequências do não-cuidado com este acréscimo da população canina.

Pela migração constante de jovens e pessoas capacitadas por falta de oportunidades na ilha. Pela falta de respeito às leis do barulho e do consumo abusivo do álcool, embora não concorde tout court como ela está plasmada, configurando-se em mais uma hipocrisia oportunista à semelhança da nouvel lei da paridade. Pelas dificuldades impostas aos diferentes sectores económicos, particularmente nos transportes, até na entrada e saída de Mindelo por mar, quem diria!? E pelo ar, sobejamente conhecido, continuo a ter esperança e a acreditar que podemos dar a volta por cima e nunca perder o que nos torna especiais, a nossa qualidade e forma de viver. O que torna a ilha um paraíso para viver e trabalhar saboreando tudo o que a felicidade pede e a ilha pode oferecer.

É verdade, já fui criança…. Já tive mais esperança. Já acreditei mais em alguns actores da retórica. Hoje, mesmo que desiludido com muitos, pelo que fizeram, melhor não fizeram, mesmo que continuem a ser os mestres da palavra, teimo em não perder o que me resta da esperança renovada de ver que os meus filhos serão capazes de desfrutar Mindelo como eu vi, como já vivi. Pouco? Se calhar, mas suficiente para apreciar e saber o seu valor. Pelo futuro que acredito ser possível, teimo em não perder a esperança. Sem confundir tempos, o passado que já foi bom deve ser apenas o que é, história e aprendizado, o presente o momento de fazer o que for preciso para realizar o futuro que sonhamos.

 É isto, teimosia, esperança e uma crença inabalável que é possível dar a volta por cima com todas as condicionantes estruturais e contextuais, endógenas e exógenas que não é pouca coisa. Acho que São Vicente deve manter-se lúcida sobre o estado da arte, sem manipulações convenientes de qualquer situação ou oposição, e, sobretudo, projectar-se de forma assertiva sobre as condicionantes da qualidade de vida que, naturalmente, oferece.

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