Gestão da liquidez no sistema financeiro cabo-verdiano

Albino Sequeira

O panorama macroeconómico de Cabo Verde no início de 2025 é marcado por um equilíbrio notável entre crescimento económico acelerado e uma política monetária prudente. Com uma taxa de crescimento de 7%, o país dá sinais claros de recuperação económica sustentada, após anos de desafios impostos por choques externos, como a pandemia e a instabilidade internacional. Esse progresso é reflexo de reformas estruturais e da atuação coordenada de várias instituições nacionais, com destaque para o Banco de Cabo Verde (BCV), responsável pela condução da política monetária e financeira do país.

O Banco de Cabo Verde desempenha um papel central na preservação da estabilidade macroeconómica, utilizando um conjunto de instrumentos de política monetária para controlar a inflação, assegurar a estabilidade do escudo cabo-verdiano e garantir o bom funcionamento do sistema financeiro. A sua missão institucional inclui o controlo da massa monetária, a definição das taxas de juro de referência, a gestão das reservas internacionais e a supervisão do sistema bancário.

Em março de 2025, os dados demonstram que a inflação mensal foi de 1,6%, enquanto o Índice de Preços no Consumidor (IPC) se situou em 118,9%. Estes números indicam que, apesar de a pressão inflacionária ainda estar presente, ela tem sido contida de forma eficaz pelas medidas implementadas pelo BCV. A estabilidade dos preços é um pilar essencial para a confiança dos consumidores e dos investidores, contribuindo para a previsibilidade económica e para o poder de compra da população.

A política monetária vigente é um dos principais mecanismos utilizados para manter esse equilíbrio. A taxa diretora do BCV, atualmente fixada em 2,5%, constitui a taxa de referência para o mercado financeiro e serve como instrumento para influenciar o comportamento dos bancos comerciais relativamente à concessão de crédito e captação de depósitos. Esta taxa reflete uma abordagem cautelosa, mas ainda assim favorável ao estímulo económico.

Complementarmente, o banco central utiliza outras taxas operacionais para gerir a liquidez do sistema bancário. A taxa de redesconto, situada em 3,5%, é aplicada sobre os empréstimos de emergência aos bancos comerciais, funcionando como uma taxa penalizadora para desincentivar o recurso excessivo a esse tipo de financiamento. Já a taxa de absorção de liquidez, de 1,95%, e a taxa de cedência de liquidez, de 2,75%, definem o corredor dentro do qual o BCV atua para regular a quantidade de dinheiro em circulação, absorvendo ou injetando recursos no mercado conforme necessário.

Um indicador relevante do ambiente económico é o Índice de Clima Económico, que fechou o quarto trimestre de 2023 em 13%. Embora ainda modesto, esse valor aponta para uma recuperação gradual da confiança dos agentes económicos, especialmente nos setores do comércio, turismo e construção civil. O aumento do otimismo empresarial é um reflexo direto da melhoria das condições macroeconómicas e da previsibilidade proporcionada pela política monetária do BCV.

Adicionalmente, o crescimento económico de 7% não pode ser dissociado de fatores externos favoráveis, como a retoma do turismo internacional, maior dinamismo das exportações, e fluxos crescentes de investimento estrangeiro e remessas. No entanto, é a política interna em particular a coordenação entre o Ministério das Finanças e o Banco de Cabo Verde, que garante que esses ganhos se traduzam em estabilidade sustentável.

O compromisso do Banco de Cabo Verde com a transparência e a estabilidade é também evidente no fortalecimento da supervisão financeira, na modernização dos sistemas de pagamento e na promoção da inclusão financeira. Ao promover uma economia mais robusta e resiliente, o BCV tem contribuído significativamente para o desenvolvimento socioeconómico do país, mantendo-se vigilante face a potenciais riscos, como choques externos, aumento do custo de vida e vulnerabilidades fiscais.

Cabo Verde vive um momento de transição económica positiva. A conjugação entre um crescimento económico vigoroso e uma inflação controlada evidencia a maturidade das suas instituições económicas. O Banco de Cabo Verde, enquanto guardião da política monetária e financeira nacional, tem desempenhado um papel fundamental neste processo, assegurando que o crescimento não seja feito à custa da estabilidade. A continuidade deste equilíbrio exigirá vigilância constante, reformas estruturais e reforço das capacidades institucionais, mas os fundamentos já demonstram um caminho promissor para o futuro económico do arquipélago.

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