Entre a tragédia e o milagre: A Rua de Coco e o nascimento de Vitória

Gilson Maocha

“Na Rua de Coco, uma das mais afetadas, o cenário foi devastador: famílias ficaram desalojadas e bens foram levados pela força das águas. Mas, no mesmo local onde a tragédia deixou marcas profundas, aconteceu também um milagre: o resgate de Keyla.”

Na madrugada de segunda-feira, a tempestade tropical Erin atingiu São Vicente sem aviso prévio. Em poucas horas, a cidade foi surpreendida por chuvas torrenciais e ventos fortes, transformando ruas em rios violentos, destruindo casas, arrastando carros e ceifando vidas.

Na Rua de Coco, uma das mais afetadas, o cenário foi devastador: famílias ficaram desalojadas e bens foram levados pela força das águas. Mas, no mesmo local onde a tragédia deixou marcas profundas, aconteceu também um milagre: O resgate de Keyla.

Entre os que lutavam para sobreviver estava Keyla, uma jovem grávida prestes a dar à luz. A água invadiu a sua casa rapidamente, levando tudo o que possuía. Os bombeiros tentaram socorrê-la, mas, além da força da corrente, a falta de meios adequados impediu o seu transporte para o hospital. Sem alternativa, Keyla foi levada para casa de vizinhos.

Foi então que surgiu um ato de coragem. Familiares, desesperados, abordaram um condutor que passava por ali e pediram ajuda. A resposta foi imediata: “Vamos passar de qualquer jeito! Se for para queimar o motor do carro, que seja para salvar uma vida.”

O condutor seguiu rumo ao hospital com Keyla à bordo, enchendo previamente uma prancha de paddle board para o caso de este ser necessário (e foi). Com a fúria das cheias, o carro parou no meio do caminho e Keyla, aterrorizada, foi instruída a deitar-se sobre a prancha. A travessia foi dramática: no meio do trajeto, a corrente aumentou de intensidade, começando a arrastar a prancha. Foi então que o condutor e outro familiar da grávida, carregaram-na nos braços, enquanto outros familiares faziam uma corrente de resistência para que a força das águas não levasse Keyla nem os que a carregavam.

Graças à união e à coragem de todos ela chegou em segurança ao hospital. Horas depois, na maternidade, deu à luz uma menina saudável por cesariana. O nome escolhido foi Vitória, símbolo de resiliência e esperança em meio ao caos. Perdeu tudo, mas ganhou a vida.

Hoje, Keyla não tem casa, móveis, roupas ou pertences. Perdeu tudo na tempestade, mas carrega nos braços o que mais importa: a filha que sobreviveu com ela à fúria da natureza.

Pedido de ajuda

A família de Keyla precisa urgentemente de apoio para reconstruir a sua vida. Qualquer contribuição, seja em géneros alimentícios, fraldas, roupas, móveis, produtos de higiene ou ajuda financeira, será de extrema importância.

As doações podem ser entregues diretamente na casa onde ela está abrigada, na rua da escola de Chã de Cemitério, (atrás da Enacol) ou contatando o número 9739520.

Que a história de Keyla e Vitória inspire a solidariedade e que, mesmo após uma noite de destruição, possamos lembrar que a vida sempre encontra um caminho para florescer.

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